O dia em que o racismo perdeu - TVI

O dia em que o racismo perdeu

Vitória Guimarães-FC Porto: a saída de Marega do relvado após festejo com cadeira

Somos todos Marega

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Marega recusou-se ficar em palco, sendo um alvo fácil para a violência dos racistas, e saiu de campo. Só por isso, por esse grito de revolta, por esse gesto de dignidade, já merece este sobe.

Mas o maliano fez mais do que isso.

Ao recusar-se permanecer como um ponto na mira do racismo, Marega deu dimensão a esta fatalidade e criou um facto. Pelas ondas de choque que já vão chegando um pouco de todo o lado, percebe-se como criou um facto mundial: nos próximos dias o que se passou vai ser notícia global.

Com isso o maliano expôs os racistas. Expôs o V. Guimarães, que dá abrigo a racistas, e expôs o futebol português, que é demasiado tolerante com o racismo.

Bem vistas as coisas, no final das contas o V. Guimarães, o futebol português e o racismo é que ficaram verdadeiramente a perder com aqueles gritos de preconceito e a descriminação.

O racismo é, de resto, um problema sério do futebol português. Todos os anos se manifesta em dezenas de estádios e passa incólume, apenas porque há poucos jogadores com a coragem de Marega. Mas ele existe e é frequente. Quem anda pelos estádios sabe disso.

O racismo é, portanto, um problema sério do futebol português, mas o grande mal, para mim, é a violência, que se manifesta de várias formas: racismo, preconceito, fúria, rancor, ódio, enfim.

Todos os males que existem na sociedade refletem-se de uma forma mais óbvia nos estádios. Porque os estádios têm esta capacidade de multiplicar o que o ser humano tem de pior.

Culpa de quem? De todos nós, mas sobretudo de quem enche o futebol de fúria, raiva e rancor. De uma vez por todas, o Governo, e a Assembleia da República, têm de meter mão nisto e fazer um combate sério à violência no desporto. Enquanto isso não acontecer, o racismo e o ódio vão encontrar sempre campo fértil para crescerem.

PS1. Absolutamente lamentável a posição de André André na flash-interview, reagindo a esta questão com a típica resposta de jogador de futebol que não quer falar de temas que não lhe dizem respeito. O racismo diz respeito a todos nós: tal como pensar, ter uma opinião e defender a nossa dignidade. Há silêncios que o dinheiro não pode comprar.

PS2. Mais do que lamentável, é totalmente inaceitável a conferência de imprensa do presidente Miguel Pinto Lisboa. Era bom que amanhã, quando derem eco à atitude de Marega, a imprensa internacional pudesse também expor a posição de Pinto de Lisboa. Só para o mundo perceber que com dirigentes assim é difícil pedir mais ao futebol português.

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