O FC Porto mostrou-nos que a centralização dos direitos já devia ter avançado ontem - TVI

O FC Porto mostrou-nos que a centralização dos direitos já devia ter avançado ontem

Champions: Chelsea-FC Porto (AP)

No fundo o que fez a diferença foram raros detalhes que só quem se habitou a jogar nos limites da concentração sabe que não pode desperdiçar

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A eliminatória do FC Porto com o Chelsea foi equilibrada até à ponta dos cabelos: a formação de Sérgio Conceição teve sempre mais bola, mais iniciativa de jogo, porventura mais futebol, mas na verdade o Chelsea não pareceu ficar atrás em número de ocasiões de perigo.

Um equilíbrio quase total, lá está.

No fundo o que fez a diferença foram os detalhes: as defesas superiorizaram-se quase sempre aos ataques e houve escassos remates enquadrados com as balizas. O FC Porto marcou num momento de suprema inspiração de Taremi, o Chelsea marcou em dois erros individuais do adversário.

E isto, parecendo que não, é muito importante. O FC Porto defendeu bem, porque fez uma eliminatória para lá de muito boa. Já o Chelsea defendeu muito bem, porque é isso que faz.

O FC Porto cometeu dois ou três erros defensivos e o Chelsea aproveitou para fazer dois golos, já o Chelsea cometeu um erro, quando Mendy entregou a bola a Corona, e o FC Porto não marcou.

Por isso, repete-se, os detalhes fizeram a diferença: estes detalhes.

E porque é que isto aconteceu? Porque por muito bem que o FC Porto trabalhe, ou qualquer outro grande do futebol português, por muito talento e organização que tenha, há algo que não consegue combater: o campeonato português não lhe contorna a superação no ADN.

O que o Chelsea fez nestes dois jogos com o FC Porto, meus caros, é o que está habituado a fazer em Inglaterra. Aprendeu a jogar nos limites da concentração e da consistência. Em 60 ou 70 por cento dos jogos que faz na Liga Inglesa, sabe que não pode cometer falhas, que não pode errar.

Já o FC Porto, não. Pelo contrário, aliás: o FC Porto está muito longe disso. Atrevo-me a dizer que em oitenta por cento dos jogos, o FC Porto só precisa de meia hora a jogar no limite da concentração e do talento para ganhar o jogo, com maior ou menor dificuldade.

Nesses jogos, a equipa de Sérgio Conceição sabe que se não aproveitar um erro do adversário, não é grave: vai ter outro e mais outro para aproveitar.

Na Europa, esta diferença de experiências pode ser fatal. Sobretudo a partir de uma determinada fase das competições. Por isso é tão complicado às equipas portuguesas defrontar adversários que incorporaram a excelência no código genético naturalmente.

Como é que isto se contorna? Melhorando o nível do campeonato português, claro. É urgente ter na Liga clubes com mais qualidade e mais ambições, criando um campeonato mais equilibrado, mais imprevisível, mais ambição e sobretudo com equipas de superior qualidade.

O que só se consegue com uma distribuição mais justa das receitas. Por isso é urgente avançar com a centralização dos direitos televisivos, que não vai resolver todos os problemas, mas pode ser o primeiro passo para criar uma classe média de clubes mais ricos e mais fortes.

É indispensável Portugal criar um campeonato mais equilibrado e mais forte, para depois, sim, colocar os melhores clubes a competir com os gigantes europeus. Caso contrário fazer o que o FC Porto fez este ano não passará de um sonho... cada vez mais distante.

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