Pepa, um sinal de maturidade - TVI

Pepa, um sinal de maturidade

Pepa (Lusa)

Aos 40 anos o treinador mostra que está pronto para voos mais altos

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Se o leitor ainda não leu a entrevista de Pepa ao Maisfutebol, aconselho-o a ler. Está lá tudo o que é preciso para entender melhor o que é um treinador de qualidade.

Pepa sempre mostrou ser uma pessoa corajosa, positiva e frontal. No entanto, e com o tempo, acrescentou-lhe uma qualidade que para mim é fundamental num técnico: maturidade.

A verdade é que, apesar de ter apenas 40 anos, Pepa pensa hoje o jogo com grande equilíbrio e sensatez, sabe que a preparação da equipa não deve ficar presa a uma ideia e esse é um critério fundamental para perceber a época admirável que o Paços de Ferreira está a realizar.

Repare-se nesta resposta, por exemplo.

«Adoro o futebol apoiado, de toque, de posse, mas acima de tudo está outra coisa. Qual é o objetivo do futebol quando temos a bola? Marcar golo. Só isso. Se eu posso chegar à baliza em seis segundos, não vou chegar em 20 e há muitas formas de lá chegar. De que forma o adversário defende? Como é o campo, como está a relva, o que exige aquele oponente? O bloco adversário está mais subido ou mais baixo? Há mais espaço por dentro ou por fora? Há mais espaço na profundidade ou entre linhas? Temos de ter uma variabilidade que nos permita estar preparados para várias situações.»

Ou então repare-se nesta resposta, em que recorda o golo ao Sp. Braga.

«O Jordi bate direto no Douglas Tanque, o Tanque segura bem de peito e deixa de frente no Luiz Carlos, o Luiz Carlos joga no Bruno Costa que ataca a profundidade e aproveita a largura entre o central e o lateral, porque o Esgaio estava subido. O Esgaio ainda tenta fechar, o Bruno passa por ele e mete na baliza. Por quantos jogadores a bola passou? Jordi, Tanque, Luiz Carlos e Bruno Costa. Não é preciso dar 50 toques. Se começássemos a tocar para o lado e para trás, o Sp. Braga ficava de frente e pressionava de frente. Quando temos um avançado como o Douglas Tanque, que segura tão bem de costas, podemos variar ainda mais o nosso jogo. Temos capacidade para explorar o jogo exterior com a nossa estrutura móvel e também para jogar por dentro.»

No fundo é isto, para mim, que define um treinador maduro: o que tem a inteligência de perceber que tem de aproveitar o que o jogo, e o adversário, lhe dá. O que prepara bem o encontro e não se agarra a uma ideia. O que é capaz de contruir uma equipa que se adapta a várias circunstâncias.

Que não joga nem só por fora, nem só por dentro. Nem só curto, sem só longo. Nem só em futebol apoiado, nem só em lançamentos para a profundidade.

Pepa é hoje esse treinador. Quem vê o Paços jogar percebe que privilegia o futebol curto e apoiado, mas que não morre agarrado a ele. Sabe variar, se isso for o melhor para a equipa.

Depois, claro, há tudo o resto.

A coragem de nunca, sob circunstância alguma, abdicar dos seus princípios. A audácia de jogar sempre com os olhos na baliza adversária. A ousadia de não se atemorizar em campo nenhum. E aquela capacidade, que para mim é fundamental num bom treinador, de conseguir retirar o melhor de cada jogador.

 

Não há bons treinadores que não sejam grandes líderes, que não dominem as questões mentais e que não virem a cabeça aos atletas. Pepa consegue isso.

Yordan Osório, Jorge Fernandes, Tyler Boyd, Tomané, António Xavier, Oleg, Bruno Costa, Luther Singh são bons exemplos de jogadores que Pepa valorizou e de quem retirou o melhor. Muitos deles jogaram o melhor futebol da carreira quando foram orientados por Pepa.

Ainda é pouco? É seguramente. Aos 40 anos, o melhor ainda está para vir. Mas já é o suficiente para se perceber que Pepa atingiu o ponto de maturidade. A partir daqui o futuro só pode ser melhor.

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