Covid-19: casais separados na pandemia criam movimento global - TVI

Covid-19: casais separados na pandemia criam movimento global

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  • 2 ago 2020, 09:02
Covid-19 no Porto

Foram criados vários grupos nas redes sociais ligados ao movimento "Love is not Tourism" (Amor não é Turismo)

A crise causada pela pandemia de covid-19 afetou todo o planeta e transformou-se numa barreira extra para casais formados por pessoas que estão em países diferentes e cujo contacto ficou limitado com o fecho das fronteiras.

“Sem amor a gente não é nada”, resumiu Erika Tamires Costa, 29 anos, faz parte de grupos criados nas redes sociais dentro de um movimento global chamado Love is not Tourism (Amor não é Turismo), nos quais casais e famílias separadas pela pandemia contam as suas histórias e lutam para rever as pessoas amadas de quem estão distantes por causa das limitações às viagens.

A brasileira contou à Lusa que conheceu o português José Lourenço no ano passado no trabalho, apaixonou-se e, em seis meses, já moravam juntos em São Paulo.

Em fevereiro foi pedida em casamento e deveria estar hoje com a aliança no dedo a viver na cidade do Porto. Mas sua história de amor foi interrompida pela pandemia e o noivo, que viaja com frequência, regressou de um compromisso profissional em Cabo Verde para Portugal, em março, sem conseguir depois viajar para o Brasil.

“Antes da pandemia a gente tinha um relacionamento muito tranquilo, muito divertido (…) No dia 3 de fevereiro ele me pediu em casamento, começámos a nos organizar para casar no dia 23 de maio, mas ele trabalha muito, teve que viajar e nesta altura as fronteiras se fecharam”, contou Erika.

A brasileira tentou viajar para Portugal em abril, mas não pode embarcar no avião porque não é casada e não reside no país, que deverá conhecer pela primeira vez quando as fronteiras reabrirem.

“É difícil porque a distância é fria (…) você sente uma dor muito forte, muito grande, não tem como explicar o que é uma saudade, que é uma coisa que você sabe que está lá, mas não sabe quando vai poder ver, quando vai poder abraçar”, acrescentou.

Outra apaixonada que viu seus planos irem por água abaixo é a brasileira Bárbara Lopes de Melo, 23 anos, que namora um francês, a viver em Espanha.

Além da saudade, Bárbara explicou que o mais difícil é viver sem garantias de que as incertezas criadas pela distância sejam superadas em breve.

“Sempre fui uma pessoa de fazer muitos planos, gosto de ter tudo bem planeado e a pandemia me tirou isto (….) O que mais de afetou foram os planos que tinha com ele, de nos vermos mais, de encontrar a família dele na Franca e de ele vir aqui para o Brasil. Tudo isto foi tirado de mim num segundo”, lamentou.

A jovem também contou que descobriu o movimento o “Amor não é Turismo” em pesquisas na internet e que se sentiu acolhida ao conhecer pessoas com problemas semelhantes aos seus.

“Eu encontrei o grupo em pesquisas na internet. Você fica angustiado de não ver quem ama, naquela busca, procurando soluções, entrando em contacto com consulado espanhol e consulado francês. Acabei encontrando o grupo na internet de casais que estão passando pela mesma situação que eu”, relatou.

Aí “você vê que isto não acontece só com você, mas com várias pessoas, existem várias histórias, até piores do que a minha e foi reconfortante” sentir que não era apenas um caso isolado, acrescentou.

Helenice de Azevedo Lopes, 70 anos, conheceu o noivo italiano com quem vive uma história de amor desde 2018, durante uma viagem à Itália.

O casal encontrou-se ao longo do tempo em várias partes do mundo, incluindo os Estados Unidos e Malta, até terem decidido morar juntos em Itália no ano passado, depois de Helenice ter aceitado o pedido de casamento.

A brasileira regressou, em fevereiro, ao seu país de origem, para fazer uma cirurgia e acabou por ficar retida por causa do fecho das fronteiras.

“Mesmo com quase 70 nos me apaixonei como uma adolescente. Quando decidi que tínhamos uma compatibilidade muito grande fui para a Itália”, recordou Helenice Lopes.

E lamentou: “infelizmente fechou tudo e não pude mais voltar. Tenho tudo lá. Aqui eu estou na casa da minha filha, do meu filho, da minha irmã, mas não é a minha casa. Minha casa é do lado dele”.

Em declarações à Agência Lusa, Helenice explicou que conheceu o movimento “Amor não é Turismo” por intermédio de seu genro: “Este grupo que eu entrei está me dando um apoio tremendo. Tem muitas jovens, meninas que têm idade para serem minhas filhas (…) eu me senti muito mais encorajada, mas o que preciso é que realmente abram as fronteiras porque está muito difícil”.

 

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