Prémio Champalimaud para investigadores que curaram cegueira hereditária - TVI

Prémio Champalimaud para investigadores que curaram cegueira hereditária

  • CM
  • 4 set 2018, 18:11

Descoberta constitui a primeira terapia genética que consegue curar uma doença hereditária e abre caminho para o desenvolvimento de terapias genéticas para tratamento de doenças hereditárias

Seis investigadores norte-americanos e ingleses conseguiram curar um tipo de cegueira hereditária através da primeira terapia genética do mundo, e vão hoje receber o maior prémio do mundo no campo da visão, atribuído pela Fundação Champalimaud.

Estamos a fazer uma coisa muito simples chamada terapia genética”, explicaram dois dos investigadores premiados em entrevista à agência Lusa.

Parceiros de laboratório e casados há muitos anos, os norte-americanos Jean Bennett e Albert Maguire referiram que a ideia é “muito simples”, mas “são precisos muitos passos para fazer com que funcione”.

A terapia consiste basicamente em “substituir um gene danificado por um gene normal”, afirmou Albert Maguire, adiantando que a equipa conseguiu “usar um vírus, que não causa nenhuma doença, para levar o gene normal às células nervosas”.

Com isto, pessoas que nasceram cegas “passam a conseguir andar de bicicleta, andar sozinhas, sair à rua à noite, coisas que anteriormente não conseguiam fazer”, sublinhou.

As doenças hereditárias da retina são uma das principais causas de cegueira em idade ativa e a segunda principal causa de cegueira em crianças na Europa, nos Estados Unidos e grande parte da Ásia.

O que nós fizemos foi pegar numa cópia do gene e colocar no sítio onde estava o [gene] doente, permitindo que as células funcionassem normalmente. Isto é importante, não só porque vai ajudar as pessoas com esta doença em particular, mas também [porque] é um passo fundamental para tratar outros tipos de cegueira e outras doenças genéticas”, defendeu Jean Bennet.

Comprovada a eficácia do tratamento, o tratamento está a ser implementado em seis centros de excelência nos Estados Unidos, segundo os dois investigadores, ambos docentes da Universidade de Medicina da Pensilvânia e médicos do Hospital de Crianças em Filadélfia.

Acreditamos que [o tratamento] vai estar disponível na Europa em breve e no resto do mundo, assim que os organismos reguladores o aprovarem”, concluíram.

Jean Bennett e Albert Maguire fazem parte da equipa que desenvolveu o tratamento, a partir de uma investigação inicial de Michael Redmond. O grupo – que inclui ainda Robin Ali e James Bainbridge, Samuel Jacobson e William Hauswirth - recebe hoje o Prémio Champalimaud de Visão, que atribui um milhão de euros aos vencedores.

“Esperamos que [o dinheiro do prémio] sirva para investir em estudos que desenvolvam tratamentos para outros tipos de cegueira e também para treinar uma nova geração de cientistas e médicos”, disse Jean Bennett.

O prémio António Champalimaud de Visão foi lançado em 2006 e conta com o apoio do programa 2020 – O direito à visão, da Organização Mundial de Saúde.

Nos anos ímpares, o prémio reconhece investigações inovadoras para combate à cegueira e doenças de visão, principalmente em países em vias de desenvolvimento.

Nos anos pares, como é o caso de 2018, o prémio é atribuído a pesquisas científicas de grande alcance na área da visão.

O júri integra cientistas e personalidades internacionais, tendo, este ano, sido composto pelo Nobel da Medicina em 1987, Susumu Tonegawa, pelo presidente da Academia Internacional de Oftalmologia, Gullapalli Rao, o diretor do Instituto norte-americano dos Olhos, Paul Sieving, os oftalmologistas Alfred Sommer e José Cunha-Vaz, os neurocientistas Carla Shatz e Mark Bear, o neurologista Joshua Sanes, o ex-presidente da Comissão Europeia Jacques Delors, a ativista dos direitos humanos moçambicana Graça Machel e o economista Armatya Sem.

A cerimónia de atribuição será liderada pela presidente da Fundação, Leonor Beleza, e conta com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Fundação recebe 50 milhões de euros para novo centro dedicado ao cancro do pâncreas

A Fundação Champalimaud recebeu 50 milhões de euros da família dos fundadores da Danone para a construção de um centro de pesquisa e tratamento do cancro do pâncreas, anunciou hoje a presidente da instituição.

O novo centro será construído no terreno situado ao lado do atual edifício da Champalimaud, em Lisboa, e a sua abertura está prevista para outubro de 2020, dez anos depois da inauguração do “Centro Champalimaud para o Desconhecido”.

Segundo a Fundação, “é a primeira vez que uma família estrangeira confia a uma instituição filantrópica portuguesa uma responsabilidade desta natureza”.

A doação de 50 milhões de euros foi feita por Mauricio Botton Carasso e a mulher, Charlotte Botton, familiares dos fundadores da empresa Danone, fundada em Espanha em 1919. Mauricio Botton Carasso é considerado um dos homens mais ricos de Espanha.

Mauricio Botton Carasso, nascido em França, é da terceira geração da família de judeus sefarditas, sendo neto de Isaac Carasso, fundador da Danone, de acordo com informação fornecida pela Fundação Champalimaud.

O futuro centro de investigação e tratamento do cancro do pâncreas deverá chamar-se centro “Botton-Champalimaud".

O cancro do pâncreas é atualmente responsável pela morte de cerca de 1.300 pessoas em Portugal e mais de 330 mil pessoas no mundo.

A incidência do cancro do pâncreas tem vindo a aumentar, surgindo todos os anos perto de 280 mil novos casos a nível mundial.

Atualmente, o cancro do pâncreas é a quinta causa mais frequente de morte por cancro, prevendo alguns especialistas que passe a ser a quarta causa dentro de cerca de uma década.

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