7 momentos-chave do julgamento de Pedro Dias - TVI

7 momentos-chave do julgamento de Pedro Dias

  • Sofia Santana
  • 8 mar 2018, 09:00

Pedro Dias, o alegado homicida de Aguiar da Beira, conhece a sentença esta quinta-feira, no Tribunal da Guarda. Reunimos 7 momentos-chave que marcaram este julgamento

Pedro Dias, o alegado homicida de Aguiar da Beira, conhece a sentença do julgamento esta quinta-feira, no Tribunal da Guarda. A leitura do acórdão do ficou marcada para as 14:30.

O “Piloto”, alcunha pela qual é conhecido em Arouca, a sua terra natal, está acusado da prática de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.

O julgamento, que contou com 76 testemunhas por parte da acusação, começou a 3 de novembro do ano passado, sob fortes medidas de segurança.

Reunimos 7 momentos-chave que marcaram este julgamento:

 

1. Testemunho do militar que sobreviveu

Um dos momentos cruciais do julgamento aconteceu logo na primeira sessão, quando a principal testemunha, o militar que sobreviveu aos disparos, António Ferreira, foi ouvido. O GNR, que na altura dos crimes tinha 41 anos, pediu para Pedro Dias sair da sala antes de dar o seu testemunho e o arguido assistiu às declarações por videoconferência.

António Ferreira descreveu o que aconteceu na trágica madrugada de 11 de outubro, quando os dois militares encontraram uma carrinha perto de um local de obras, em Aguiar da Beira, com Pedro Dias a dormir lá dentro. 

Segundo o seu depoimento, os militares tentaram que o arguido se identificasse e, ao pedirem informações sobre ele, foram informados de que o homem era perigoso e podia estar armado. António Ferreira disse que ouviu então um ruído, desviou o olhar e quando voltou a olhar para Pedro Dias, este já tinha uma arma apontada ao colega e estava a disparar. Carlos Caetano, o outro militar, morreu logo ali.

O sobrevivente contou que Pedro Dias o obrigou a conduzir o carro por várias localidades, tendo regressado ao local do crime e posto o corpo do colega na viatura.

O senhor Pedro Dias nunca me deu hipóteses de fazer coisa alguma, estive sempre com a arma apontada”, sublinhou.

Pedro Dias terá então algemado António Ferreira, tirou-lhe o telemóvel e foi ele a conduzir, desta vez numa estrada de terra batida. Aí, alvejou-o também e achou que o matou, tendo até coberto o corpo. O militar da GNR perdeu a consciência e esteve desmaiado até de manhã, altura em que conseguiu chegar a uma casa que era também de um colega militar, para pedir auxílio.

António Ferreira revelou que tem ainda alojada a bala na cervical, entre a C1 e a C2, e que “os médicos têm medo de mexer”, pois está a “um milímetro de provocar lesões permanentes”.

 

2. A emoção das mães do casal que morreu na estrada

As mães de Liliane e Luís Pinto, o casal que morreu alvejado na estrada, recordaram em tribunal que constituíam uma família feliz até aos crimes de Aguiar da Beira.

Maria de Fátima Lino, a mãe de Liliane Pinto, entrou na sala de audiência olhando fixamente para Pedro Dias e precisou de algum tempo para se recompor.

Depois, disse que era habitual a sua filha dar um toque ou ligar sempre que chegavam a Coimbra, onde estava a fazer tratamentos de fertilidade. Naquele dia, tal não aconteceu, o que a deixou com "o coração a palpitar".

Éramos uma família feliz. Agora não somos", referiu, emocionada.

Na mesma sessão foi também ouvida Virgínia da Conceição Pinto, a mãe de Luís Pinto, que, entre lágrimas e muita emoção, recordou que este foi sempre o seu "braço direito".

E ela era uma filha, não era de sangue, mas era de coração", destacou, aludindo também ao facto do quão era feliz enquanto o seu filho e a sua nora estavam vivos.

 

3. As vítimas sequestradas em Moldes

Dulce da Conceição contou em tribunal que a irmã, Lídia da Conceição, identificou Pedro Dias como o homem que a sequestrou numa casa em Moldes, no concelho de Arouca, a 16 de outubro de 2016.

O tribunal permitiu que Dulce da Conceição contasse o que a irmã lhe disse uma vez que esta se encontra impossibilitada de falar devido a um AVC que sofreu a 29 de novembro.

Segundo a testemunha, a irmã, nesse dia, tinha ido à casa de Moldes, que se encontrava desabitada, buscar correspondência da mãe, que vivia consigo. Assim que meteu a chave na porta, apareceu “um vulto”, que a agarrou pelo pescoço e pelos cabelos e a arrastou para um quarto.

O que é que vens fazer aqui? Nunca devias ter vindo aqui. Eu só precisava de três ou quatro dias”, terá dito Pedro Dias a Lídia da Conceição, de acordo com a versão contada pela irmã.

No relato que lhe fez, a irmã referiu ter sido ameaçada com uma arma e que Pedro Dias lhe disse: “Esta pistola que tenho aqui já matou quatro pessoas e tu poderás ser a próxima”.

António Duarte também disse ter sido sequestrado por Pedro Dias, no mesmo local. O homem afirmou em tribunal que estava a tratar do jardim de um familiar quando ouviu gritos da casa ao lado. Quando foi ver o que se passava, deparou-se com o arguido.

Quando puxei a porta, vi o senhor Pedro Dias e ele deitou-me a mão e puxou-me para dentro de casa", descreveu

De acordo com António Duarte, nesta altura foi ameaçado com uma arma por Pedro Dias, que estava nervoso, mas a quem tentou acalmar e explicar que só tinha ido ver se a senhora precisava de ajuda.

"A dona Lídia não se calava, estava muito nervosa, ele mandava-a calar e eu também. Como não se calava, amarrou-lhe as mãos e foi buscar uma batata que lhe meteu na boca, depois amarrou-lhe os pés e tapou-lhe os olhos também", descreveu.

 

 

4. Testemunhas descrevem Pedro Dias como homem "meigo e pacificador"

Várias testemunhas descreveram Pedro Dias como um homem "meigo", "educado", "pacificador", que gostava de ajudar os outros, tendo alojado inclusivamente pessoas sem-abrigo, alimentado quem tinha fome e dado lenha a quem tinha frio. 

Uma dessas testemunhas foi a irmã do arguido, Andreia Dias. A mulher afirmou que o irmão é “uma pessoa extremamente pacífica”, “incapaz de fazer mal a algum ser, paciente, apaziguadora”.

Andreia Dias referiu ainda que o irmão dizia que rezava e pedia para que rezassem por Liliane Pinto (a mulher que sobreviveu aos disparos e que acabou por falecer meses depois), porque queria que ela contasse o que se passou na madrugada de 11 de outubro.

Quando a Liliane morreu, o Pedro desabou”, sublinhou. 

Nesta sessão do julgamento houve vários momentos de tensão e troca de palavras entre os advogados e entre os familiares presentes. Incomodado com comentários que alegadamente ouviu de um dos advogados, Pedro Dias chegou mesmo a levantar-se e a dizer “senhor juiz, é muito difícil estar aqui…”. Nesse momento, foi advertido de que não podia falar.

 

5. Pai na cadeia

Pedro Dias foi pai durante o tempo em que estava em prisão preventiva. Foi a irmã, Andreia Dias, que o revelou em tribunal.

Foi pai na cadeia. Recusa-se a conhecer o bebé por um vidro. Nunca lhe tocou", frisou a irmã.

Andreia Dias disse que o irmão vivia um "momento feliz" na altura dos acontecimentos e que "a namorada estava grávida". 

Ia nascer mais um. Estávamos felizes. Quando ele ganhou a custódia da filha fizemos uma festa", explicou. 

 

 

6. A versão de Pedro Dias

Já no final do julgamento, Pedro Dias contou a sua versão do que aconteceu na madrugada de 11 de outubro em Aguiar da Beira.

O suspeito disse que baleou o militar Carlos Caetano porque estava a ser agredido "com murros e pontapés", garantindo que o objetivo não era matar, mas apenas acabar com a agressão.

O arguido disse ainda que se sentiu com medo e desnorteado e que foi por isso que mandou o militar da GNR que sobreviveu desapertar o cinto onde tinha a arma e entrar no carro patrulha. "Só queria sair dali", disse.

Mais, Pedro Dias rejeitou responsabilidades nas mortes de Liliane e Luís Pinto. O arguido disse que foi o militar da GNR António Ferreira quem matou o casal na estrada.

 

7. Outros crimes e processos 

Pedro Dias está envolvido noutros processos que não estão relacionados com os crimes de Aguiar da Beira.

Em março do ano passado, o alegado homicida foi absolvido de um crime de furto simples. O arguido estava acusado de, em 2012, ter furtado duas chapas de matrícula, dianteira e traseira, de um carro, estacionado em Valadares, São Pedro do Sul.

O Tribunal de São Pedro do Sul não deu como provado que Pedro Dias furtou as matrículas, ainda que tenham sido encontradas, em novembro de 2014, numa quinta de Pedro Dias, em Arouca.

Cerca de oito meses depois, o Ministério Público deduziu acusação num outro processo, este relacionado com um furto ocorrido em 2012, em Évora.

O furto ocorreu na noite de 8 para 9 de março de 2012, na Herdade do Zambujal do Conde, na freguesia de Torre de Coelheiros.

É que, quando cometeu os crimes em Aguiar da Beira, Pedro Dias tinha na sua posse uma arma que tinha sido furtada em Évora. E uma das testemunhas identificou o arguido como frequentador da herdade.

Além de armas, foram também furtadas da herdade obras de arte e artigos de arte equestre, num valor total calculado de cerca de 300 mil euros.

E já depois de terem sido feitas as alegações finais no julgamento de Aguiar da Beira, Pedro Dias teve de ir novamente a tribunal, desta feita a Tondela, por causa de um outro processo, pelo qual responde por um crime de furto qualificado, punível com uma pena de prisão até cinco anos.

Segundo a acusação, na noite de 19 para 20 de junho de 2014, o arguido furtou aves aquáticas de um centro de reprodução no valor total de mais de 5.500 euros, entre as quais patos de rabo alçado (uma espécie protegida), levando-as depois para a sua quinta em Arouca. A maioria das aves viria a ser apreendida a 6 de novembro do mesmo ano, pela GNR.

Pedro Dias disse que, ao longo dos anos, foi fazendo uma coleção de aves, mas através de trocas e de compras, rejeitando a acusação de furto.

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