O interrogatório a Luís Filipe Vieira pelo juiz Carlos Alexandre terminou por volta das 14:11, no Tribunal Central de Instrução Criminal.
À porta do tribunal, o advogado Manuel Magalhães e Silva sublinhou que a promoção do Ministério Público das medidas de coação está prevista para as 15:30.
O comunicado do Conselho Superior da Magistratura distribuído aos jornalistas dava conta que o interrogatório retomaria pelas 15:15, parecendo contradizer a informação que os advogados tinham dado antes. No entanto, referia-se a toda a diligência, que só terminará quando o juiz decretar as medidas, e não ao interrogatório ao presidente suspenso do Benfica.
Durante o interrogatório com Carlos Alexandre, Vieira foi confrontado, nomeadamente, com escutas telefónicas.
O advogado adianta que o juiz do TCIC perguntou "tudo aquilo que entendeu" em face dos indícios de prova existentes. A responder, Vieira permaneceu calmo e "em nenhuma vez" se exaltou.
"As explicações que Luís Filipe Vieira deu, no meu ponto de vista, ilibam-no integralmente", afirma o advogado do presidente suspenso do Benfica.
Sobre as alegadas transferências para off-shores, que depois reentraram na esfera de Luís Filipe Vieira, o advogado de Vieira diz que as "off-shores são sociedades como quaisquer outras" e que "o que há relativamente a essas off-shores são transações imobiliárias sem uma ponta de ilegalidade".
Magalhães e Silva rejeita, assim, a existência de "um esquema ardiloso" - definição do Ministério Público que, na opinião do representante de Vieira, é indispensável "para configurar a determinados crimes".
Sobre a possibilidade de o juiz decretar prisão preventiva como medida de coação, o advogado expressou que irá discordar “obviamente” da decisão.
Enquanto a promoção do MP não tem início, o juiz autorizou Luís Filipe Vieira a estar com o filho, Tiago Vieira, outro dos arguidos no processo, contou também Magalhães e Silva.
“O senhor Luís Filipe Vieira não disse nada que pudesse minimamente prejudicar o filho, até porque não havia rigorosamente nada que pudesse dizer que prejudicasse o filho”, sublinhou.
Advogado não falou com Vieira sobre substituição por Rui Costa
O advogado de Luís Filipe Vieira, Magalhães e Silva, admitiu hoje que não falou com o presidente suspenso do Benfica sobre a substituição na presidência do clube por Rui Costa, mas garantiu que o cliente “conhece a realidade”.
Tive o cuidado de não lhe dizer. Como ele não tem contacto com os meios de comunicação social ou com qualquer meio externo, é evidente que não lhe dei nota do que se passou entre ontem [sexta-feira] e hoje”, afirmou o advogado, em declarações aos jornalistas após o interrogatório conduzido esta manhã pelo juiz Carlos Alexandre, no Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), em Lisboa.
Sobre a substituição na presidência do Benfica, depois de Vieira ter suspendido o exercício de funções na sexta-feira, Magalhães e Silva vincou que, apesar de não lhe ter falado sobre essa situação, o empresário, de 72 anos, estava ciente do que iria acontecer.
[Luís Filipe Vieira] sabe perfeitamente que, desde que suspendeu as funções, aquilo que devia acontecer era que o vice-presidente do clube passasse a ser o presidente em exercício ou o presidente substituto. É seguramente o que está a pensar, porque ele sabe que o presidente substituto enquanto durar a suspensão de funções é, obviamente, Rui Costa”, explicou.
Vieira e os outros três detidos no processo chegaram ao tribunal às 09:03, depois de pernoitarem pela terceira vez consecutiva nas instalações do Comando Metropolitano da PSP de Lisboa, em Moscavide.
Luís Filipe Vieira, de 72 anos, foi a última das quatro pessoas detidas no âmbito da investigação ‘Cartão Vermelho’ a ser ouvida pelo juiz Carlos Alexandre, antes da aplicação das medidas de coação.
Na sexta-feira, o empresário José António dos Santos foi o primeiro a prestar declarações, durante a manhã, seguindo-se, da parte da tarde, os interrogatórios de Bruno Macedo e de Tiago Vieira, filho de Luís Filipe Vieira.
Também na sexta-feira, Luís Filipe Vieira comunicou a suspensão do exercício de funções como presidente do Benfica – nas quais foi substituído por Rui Costa -, por intermédio do seu advogado, à porta do TCIC.
Segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), os quatro detidos são suspeitos de estarem envolvidos em “negócios e financiamentos em montante total superior a 100 milhões de euros, que poderão ter acarretado elevados prejuízos para o Estado e para algumas das sociedades”.
Em causa estão “factos ocorridos, essencialmente, a partir de 2014 e até ao presente” e suscetíveis de configurar “crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento”.
Para esta investigação foram cumpridos 44 mandados de busca a sociedades, residências, escritórios de advogados e uma instituição bancária em Lisboa, Torres Vedras e Braga. Um dos locais onde decorreram buscas foi a SAD do Benfica que, em comunicado, adiantou que não foi constituída arguida.