A defesa de José Sócrates, composta pelos advogados João Araújo e Pedro Delille, interpôs um processo para que o juiz Carlos Alexandre não seja o juiz de instrução do processo.
O Juiz Carlos Alexandre não poderá ser juiz neste processo. Está pendente um recurso [para que o juiz seja impedido de titular o inquérito], interposto na segunda-feira. Por esse recurso ou por outra razão qualquer parece-me objetivo que o juiz Carlos Alexandre assumiu um protagonismo tão grande ao lado do titular do inquérito que não pode ser juiz de instrução".
Numa conferência de imprensa, a defesa revelou que concluiu - sem ainda ter analisado as mais de quatro mil páginas na sua totalidade - que "os escassíssimos e inexistentes factos chamados indícios que serviram para criar este processo e que serviram para prender e manter preso José Sócrates serviram para isso, mas não serviram para o acusar".
A prisão serviu apenas, visivelmente, para investigar", afirmou João Araújo em conferência de imprensa, acrescentando que a defesa está certa "que deste amontoado de papel não restará folha sobre folha".
Para os advogados, a Operação Marquês "não se tratou de buscar a verdade, antes de procurar a incriminação" de José Sócrates "enquanto o expunha a uma espécie de julgamento mediático, a uma violenta campanha de difamação e a uma condenação sumária na opinião pública”.
Quanto à abertura de instrução, João Araújo considerou que é "absurdo" dizer que "vai requerer a abertura" da mesma sem ter conhecimento de todo o processo. "Ainda nem sequer fomos notificados da acusação", revelou o advogado de Sócrates.
Confrontada com a acusação de que o ex-primeiro-ministro recebeu 34 milhões de euros, entre 2006 e 2015, a defesa diz que "está documentalmente provado no processo que isso não é verdade, que José Sócrates não recebeu um cêntimo".
O Ministério Público acusou o antigo primeiro-ministro José Sócrates de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e três crimes de fraude fiscal qualificada e Carlos Santos Silva por corrupção passiva de titular de cargo político, corrupção ativa de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documento, fraude fiscal e fraude fiscal qualificada.
Ricardo Salgado está acusado de corrupção ativa de titular de cargo político, corrupção ativa, branqueamento de capitais, abuso de confiança, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada, enquanto o antigo presidente da PT Zeinal Bava foi acusado por corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada.
Henrique Granadeiro, ex-administrador da PT, está acusado de corrupção passiva, branqueamento de capitais, peculato, abuso de confiança e fraude fiscal qualificada e Armando Vara foi acusado de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada.
Na 'Operação Marquês' estão acusados 28 arguidos, 19 pessoas e nove empresas, num total de 188 crimes.