Sarampo: perguntas e respostas - TVI

Sarampo: perguntas e respostas

  • Sofia Santana
  • 14 mar 2018, 23:04
Surtos de doenças: não é inédito porque doenças não estão erradicadas

Estava erradicado em Portugal, mas regressou no ano passado, quando mais de uma vintena de pessoas foi infetada, acabando uma por falecer. Agora, novo surto declarado pela Direção Geral de Saúde

 

O que é o sarampo?

O sarampo é uma das infeções virais mais contagiosas. Habitualmente trata-se de uma doença benigna, mas, em alguns casos, pode ser grave ou mesmo fatal.

Quais são os sintomas?

Os sintomas iniciais são febres altas, conjuntivite, grande produção de catarro e tosse. Um ou dois dias depois, aparecem pequenos pontos brancos no interior da boca. E entre o terceiro e sétimo dia surge uma mancha vermelha, normalmente no rosto, que se espalha depois para o tronco e para os membros interiores. No final da primeira semana ocorre uma descamação fina de toda a pele. Os sintomas manifestam-se entre dez a 12 dias depois do contágio e duram entre sete a dez dias.

Como se transmite?

O sarampo transmite-se por via aérea, através da tosse e dos espirros de uma pessoa infetada. Também pode ser transmitido através do contacto com saliva ou secreções nasais. É menos comum, mas também pode acontecer, a transmissão ocorrer através do contacto com produtos infetados com secreções nasais ou faríngeas do doente.

Quando se transmite?

Quatro dias antes de aparecerem as manchas na pele, o vírus já pode ser transmitido. Normalmente, o período de contágio termina quatro dias depois de aparecerem as manchas, sendo que o risco já é mínimo a partir do segundo dia.

O sarampo mata?

Nos casos mais raros, o sarampo pode provocar consequências graves e até levar à morte. As complicações podem resultar numa infecção bacteriana e evoluir para uma otite média, uma pneumonia, uma laringotraqueobronquite (crupe), convulsões febris e encefalite.

Mas Portugal não estava livre de sarampo?

A doença estava erradicada em Portugal desde 2016. Mas desde janeiro de 2017, Portugal registou mais casos de sarampo do que em dez anos. Em quatro meses foram confirmados, segundo a DGS, 21 casos. Entre 2006 e 2014 foram registados 19 casos. A ocorrência de surtos de sarampo em alguns países europeus, devido à existência de comunidades não vacinadas, colocou Portugal em elevado risco. A doença voltou porque há pais que não vacinam os filhos. Ainda assim, em Portugal, a taxa de vacinação é de cerca de 95% nas pessoas entre os 7 e os 18 anos de idade. Agora, sete casos confirmados e mais de trinta sob suspeita levam a DGS a declarar novo surto.

Como se previne?

Através da vacinação. A vacinação é gratuita e está disponível para todas as pessoas presentes em Portugal, como esclarece a DGS. 

Os pais podem vacinar os filhos a partir de que idade?

O Programa Nacional de Vacinação recomenda a vacinação com duas doses, aos 12 meses e aos cinco anos de idade. 

A vacina é obrigatória?

Não. À semelhança do que acontece com as restantes vacinas, a vacina que previne o sarampo não é obrigatória. Há casos raros de pessoas que, por razões médicas, não podem ser vacinadas. E depois há casos de pais que não vacinam os filhos por outras razões. No caso de recusa, os centros de saúde pedem aos pais que assinem um termo de responsabilidade e esta informação é registada na ficha da criança. 

Mas as crianças não têm de ser vacinadas para se matricularem na escola?

As escolas têm um papel muito importante no controlo da vacinação. Habitualmente, e no que toca às escolas públicas, o controlo do boletim de vacinas é feito no momento de entrada no agrupamento escolar. O boletim volta a ser pedido nas mudanças de ciclo. Mas não sendo uma vacina obrigatória, a verdade é que as escolas públicas não podem, por lei, recusar admitir crianças que não são vacinadas. No privado, há escolas que exigem o boletim em dia. No caso da inscrição de uma criança não vacinada, é geralmente pedido aos pais um atestado médico ou um termo de responsabilidade.

A doença pode surgir em pessoas vacinadas?

Pode, mas com um quadro clínico mais ligeiro e menos contagioso. A DGS alerta que a vacinação é a principal medida de prevenção.

Então por que é que há pais que não vacinam os filhos?

Há pais que não querem que os seus filhos sejam vacinados. A origem do movimento anti-vacinação começou com a publicação de um estudo na revista The Lancet no final dos anos 90 que, entretanto, foi considerado fraudulento. O autor do estudo, o cirurgião canadiano Andrew Wakefield, indicou que havia uma alegada ligação entre a administração da vacina tríplice (sarampo, papeira, rubéola) e o autismo. A teoria foi arrasada por um outro trabalho de investigação publicado no The British Medical Journal, que considerou o estudo uma "fraude sofisticada". O Conselho Médico Geral britânico considerou que Wakefield agiu de maneira antiética e desonesta pois utilizou crianças que foram escolhidas por um escritório de advogados que defendia um casal que queria processar uma farmacêutica. A própria revista The Lancet veio pedir desculpas pela publicação do artigo, em 1998.

Há também pais que se esquecem de vacinar os filhos por terem perdido a perceção do risco. Não "se vendo a doença", que chegou a ser eliminada, corre-se o risco de não continuar a imunizar as crianças.

Artigo originalmente escrito aquando do surto de sarampo de 2017 e revisto.

Continue a ler esta notícia