Covid-19: vacinação pode arrancar em Portugal logo a seguir ao Natal - TVI

Covid-19: vacinação pode arrancar em Portugal logo a seguir ao Natal

  • Henrique Magalhães Claudino
  • Notícia atualizada às 12:50
  • 16 dez 2020, 11:08

Portugal poderá atingir imunidade no final da primavera, segundo previsão de peritos. Falha no cumprimento de prazos pela Pfizer atirou Portugal para cenário mais pessimista na primeira fase de vacinação

O Coordenador da Task Force para o Plano de vacinação contra a covid-19 em Portugal afirmou esta quarta-feira que espera que a Comissão Europeia dê um parecer positivo no dia 23 de dezembro sobre a vacina da Pfizer.

Francisco Ramos, que falava na Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença COVID-19, afirmou que a Pfizer mostrou disponibilidade para a vacina ser distribuída em três dias e que a mesma distribuição não será comprometida pela quadra natalícia.

Não sei se com o Natal pelo meio estes 3 dias se mantêm, mas mesmo que isso aconteça, no dia 24 vamos ter equipas prontas para a receber", afirmou, sublinhando que as autoridades estão "disponíveis para começar a vacinar assim que as vacinas chegarem".

As palavras do coordenador abrem a possibilidade para o início da campanha de vacinação em Portugal ainda neste ano. A Agência Europeia do Medicamento antecipou a aprovação de uma vacina de 29 de dezembro para 21 de dezembro, abrindo espaço para uma redefinição dos prazos.

Em resposta ao deputado do PSD, Ricardo Baptista Leite, Francisco Ramos afirmou que, nos últimos dias, a Pfizer não conseguiu cumprir o contrato celebrado e "tivemos uma redução de 20% das doses imediatas da vacina"

Há um incumprimento da empresa nessa matéria”, disse.

 

A falha no cumprimento dos prazos pela farmacêutica desviou Portugal das previsões mais otimistas para a primeira fase da vacinação (janeiro e fevereiro). Será agora previsível, segundo o coordenador, que esta fase seja cumprida entre janeiro e abril (cenário mais pessimista).

Francisco Ramos adiantou ainda que os grupos prioritários terão uma data, local e hora marcada para a vacinação, mas que esse processo ainda não se desenrolou, porque, até aqui, "não houve certeza nenhuma de quando teríamos vacinas em Portugal"

Esse processo ainda não foi feito. Será iniciado, mal tivermos datas seguras", disse, destacando que a marcação da data e da hora não exigirá mais recursos humanos, "apenas necessitará de uma melhor gestão de recursos".

 

 

A identificação das pessoas que pertencem aos grupos prioritários será feita com códigos de nomeação de doenças e com recurso à consulta dos registos médicos disponiveis, "a que seguirá a validação por concelhos clinicos e pelos médicos de medicina geral e familiar".

Confrontado com a capacidade para uma eventual antecipação da administração da vacina ainda até ao final de dezembro e não apenas em janeiro, Francisco Ramos não se mostrou preocupado, preferindo destacar a “esperança muito grande” que este passo significa no combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Quanto menos tempo tivermos para preparar este processo, melhor, porque isso significa que as vacinas vão chegar mais cedo”, sentenciou.

A quantidade de vacinas que Portugal vai receber da farmacêutica norte-americana ainda é "a definir", mas, espera Ramos, as vacinas ainda chegarão este ano e ao mesmo tempo para os 27 países da União Europeia. "Ainda não se sabe qual é o dia em que vai ser distribuída", diz o coordenador.

As vacinas serão armazenadas em três locais centrais, no continente, na Madeira e nos Açores, com capacidade para as armazenar durante seis meses. "Depois de abertas, têm de ser utilizadas num espaço de cinco dias e aí as condições de refrigeração são as mesmas dos nossos frigoríficos domésticos".

É necessário termos uma cadeia de distribuição ágil, garantindo que as vacinas não andam a passear por Portugal. Saem do ponto e chegam aos locais onde são precisas", afirmou Francisco Ramos, sublinhando que a distribuição não será feita pelas Forças Armadas.

Na Comissão Eventual, o coordenador sublinhou ainda que a atividade nos Centros de Saúde não será condicionada pela primeira fase de vacinação, garantindo que esta assenta no recurso a 20% dos enfermeiros dos centros de saúde.

São esperadas 50 mil inoculações diariamente, "sem prejudicar outras atividades", diz, recorrendo a uma avaliação com base na capacidade da instalação médica no país.

Francisco Ramos explica ainda que ainda não existe uma resposta precisa sobre quando Portugal atingirá a imunidade para "garantir que nos podemos libertar das restrições do quotidiano". Ainda assim, afirma que, tendo em conta aquilo dito pelos peritos, esse cenário pode acontecer no final da primavera princípio do verão". "Agora, essa informação é ainda incerta", remata.

O coordenador garante, por outro lado, que, não é por iniciarmos o processo da vacinação que temos de deixar de ter os cuidados relacionados com a prevenção do virus. 

Todos temos a obrigação de passar a mensagem de que o inicio da vacinação, embora dê esperança, não nos autoriza de forma nenhuma a reduzir os comportamentos de prevenção de risco", afirma

Para Francisco Ramos, a rede do SNS "chega e sobra, infelizmente, para a primeira quantidade de vacinas". Por outro lado, na segunda fase e com a previsão de que a carga aumente, o coordenador da Task Force admite a criação de Centros de Vacinação, sob coordenação dos centros de saúde, onde possa haver pessoas dedicadas a 100% ao processo de vacinação nos centros urbanos.

Ramos sublinha ainda que a aquisição de 22.8 milhões de doses garante que "haverá vacinas para todos os portugueses que se queiram vacinar".

 

Coordenador quer "repetir o erro" e contar com farmácias

O coordenador da Task Force refletiu sobre o processo de vacinação para a gripe, explicando que, pela primeira vez, existiu uma colaboração entre SNS e farmácias para a cedência de 200 mil vacinas, "mas, de facto, a gestão desse processo não correu bem e as farmácias foram vítimas de uma deficiente organização".

A minha avaliação desse insucesso é que a responsabilidade recai na maior associação representativa das farmácias, a sua participação foi mais um obstáculo do que uma ajuda", atirou Francisco Ramos, adiantando que a associação ajudou a criar uma falsa noção de que as autoridades limitaram o fornecimento de vacinas à farmácias.

Assim, Ramos classifica a colaboração como um "erro", mas diz que no processo de vacinação contra a covid-19 vai repeti-lo: "Tento sempre aprender com os erros cometidos, e tentar não os repetir, mas exatamente neste processo, em que é minha responsabilidade que corra bem, vou tentar repetir o erro que já foi cometido este ano e, por isso, dizer que gostaria de contar muito com as farmácias.

Francisco Ramos foi mais longe e lembrou que “com dois milhões de doses não se vacina a população inteira” contra a gripe sazonal, considerando que a associação representativa das farmácias criou uma “falsa noção” da acessibilidade à vacina. Nesse sentido, justificou que os centros de saúde serão os responsáveis pela vacinação contra a covid-19 na primeira fase por poderem “garantir que o processo decorre da melhor forma possível”.

 

PSD quer coordenador do plano de vacinação ouvido mensalmente no parlamento

O PSD pediu esta quarta-feira que o coordenador do plano de vacinação contra a covid-19, Francisco Ramos, seja ouvido todos os meses no parlamento, enquanto durar esta operação em Portugal.

No requerimento, hoje entregue na Assembleia da República, os deputados sociais-democratas propõem que a audição parlamentar mensal seja conjunta entre a Comissão de Saúde e a Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença covid-19.

O objetivo, justificam, é possibilitar ao parlamento “um adequado e regular acompanhamento institucional do processo de operacionalização da vacinação”.

Os sociais-democratas referem que a Task Force para a elaboração do plano de vacinação vai assegurar “aspetos determinantes da vacinação contra a covid-19, designadamente em matéria de estratégia de vacinação, de plano logístico, do processo informático de suporte e do plano de comunicação com a população”.

O mandato da ‘task force’ tem a duração de seis meses, renovável em função do progresso da operacionalização da vacinação.

No início de dezembro, a ‘task-force’ criada pelo Governo para coordenar o plano de vacinação contra a covid-19 apresentou a primeira versão do documento, em que prevê três fases em 2021.

A vacina contra a covid-19 será universal, gratuita e facultativa, e será disponibilizada à população de acordo com as características aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento.

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