Morreu o embaixador José Cutileiro - TVI

Morreu o embaixador José Cutileiro

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  • Publicada por ALM
  • 17 mai 2020, 11:26
José Cutileiro

Diplomata, de 85 anos, encontrava-se hospitalizado. Deixa a diplomacia portuguesa muito mais pobre”, lamentou o Ministério dos Negócios Estrangeiros

O embaixador José Cutileiro morreu hoje em Bruxelas, onde vivia, disse à Lusa a sua mulher.

O diplomata, de 85 anos, encontrava-se hospitalizado, acrescentou a mesma fonte.

Cronista e escritor, José Cutileiro foi um dos negociadores da adesão de Portugal à União da Europa Ocidental e integrou a equipa de coordenação da Conferência de Paz para a Jugoslávia, em 1992, entre outros cargos ao longo da sua carreira.

A morte do embaixador José Cutileiro, hoje, “deixa a diplomacia portuguesa muito mais pobre”, lamentou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), elogiando o “profissionalismo, dedicação e o modo como prestigiou o país”.

“Nas várias missões que desempenhou, foi sempre um excecional servidor das causas e dos interesses de Portugal”, lê-se ainda na mensagem, divulgada pelo MNE no Twitter.

“O seu profissionalismo e dedicação, o modo como prestigiou o país no estrangeiro e como ocupou importantes cargos internacionais, são um exemplo para todos os diplomatas”, concluiu.

Marcelo lamenta morte de "magnífico diplomata" e "grande cronista"

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou hoje a morte do embaixador José Cutileiro, recordando-o como "um magnífico diplomata, um homem da cultura" e também "um grande cronista" que marcou gerações.

Em declarações aos jornalistas, enquanto passeava na Ericeira, no concelho de Mafra, distrito de Lisboa, o chefe de Estado referiu que teve a oportunidade de "conhecer muito bem" José Cutileiro, quando "era responsável num órgão de informação onde ele foi um colunista constante", o semanário Expresso.

"Foi, além de um magnífico diplomata, um homem da cultura. Um homem muito inteligente, que escrevia muitíssimo bem, um grande ensaísta, um grande colunista, um grande comentarista, e depois também um grande cronista no sentido de contar a sua vida e a vida dos outros e analisar de forma às vezes impiedosa, mas de forma muito lúcida, muito inteligente a vida nacional", elogiou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, José Cutileiro "fez dos melhores comentários de política internacional, durante muitas décadas".

"Portanto, reconhecemos o seu talento no que escrevia, na forma como escrevia, na maneira como via o mundo, como via a Europa, como via Portugal e o papel de Portugal. Marcou várias gerações, fica aqui o meu testemunho de amizade e de agradecimento", acrescentou.

“Pessoa de excepção”

O ex-Presidente Jorge Sampaio lamentou o “grande vazio” deixado pela morte de José Cutileiro, afirmando ter sempre admirado a “pessoa de excepção”, que descreve, numa mensagem enviada às redações, como “brilhantíssimo servidor da causa pública”.

“Apesar da proximidade que o tratamento por tu cria entre as pessoas – e era o nosso caso -, sempre tive pelo Zé Cutileiro um enorme respeito e admiração pela pessoa de excepção que sempre mostrou ser, de par com uma amizade certa e que a vida de cada um de nós manteve intacta”, lê-se na mensagem do ex-Presidente da República (1996-2006).

“O seu desaparecimento deixa um vazio grande e a saudade antecipada das suas crónicas, das suas palavras, dos sinais da sua presença entre nós”, acrescenta.

Jorge Sampaio evoca a proximidade com o embaixador, forjada por terem ambos “pouco mais ou menos a mesma idade” e se conhecerem “de longuíssima data devido a laços familiares”, ambos filhos de médicos, que “eram amigos e mantinham alguma proximidade”.

“O José Cutileiro teve um percurso intelectual extremamente original, aliando uma formação científica e humanística que o definia de forma muito particular, com uma imensa cultura, grande independência de análise e juízo, um apurado sentido de humor e uma exigência de rigor que estava presente em tudo o que fazia ou dizia”, afirma.

Jorge Sampaio atribui a essas qualidades a decisão de Mário Soares de o encorajar “a abraçar a diplomacia”, “na certeza de que esta e Portugal sairiam enriquecidos com o contributo de Cutileiro, uma intuição que não poderia ter sido mais certeira, como, de resto, viria a demonstrar a sua longa e muito relevante carreira”.

“José Cutileiro foi um brilhantíssimo servidor da causa pública, tendo revelado altas qualidades de negociador em momentos importantes para a afirmação externa do país”, afirma, evocando funções assumidas pelo embaixador na organização da Conferência para a Paz para a Jugoslávia (1992) e na liderança a União para a Europa Ocidental (1994-1999).

O ex-Presidente da República afirma ainda dever pessoalmente a Cutileiro tê-lo indicado, na qualidade de embaixador de Portugal junto do Conselho da Europa, nos anos 1970, para representar Portugal na Comissão Europeia Direitos Humanos daquela organização, “cargo de que muito me orgulho e que exerci com especial gosto”.

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