Incêndios e seca ameaçam população de lampreia nos rios - TVI

Incêndios e seca ameaçam população de lampreia nos rios

  • SS
  • 23 fev 2018, 12:54
Lampreia

A diminuição acentuada dos caudais e a pouca ou nenhuma água existente nos locais profundos dos rios são atualmente uma das maiores ameaças para este ciclóstomo do tempo dos dinossauros

Um investigador da Universidade de Évora alertou esta sexta-feira para os efeitos nefastos dos incêndios e da seca prolongada nas populações de lampreia e diversos peixes que povoam o Mondego e outros rios portugueses.

Para Pedro Raposo de Almeida, a diminuição acentuada dos caudais e a pouca ou nenhuma água existente nos locais profundos dos rios, em cujos sedimentos as larvas de lampreia se desenvolvem até poderem migrar para o oceano Atlântico, são atualmente uma das maiores ameaças para este ciclóstomo do tempo dos dinossauros.

Responsável pela monitorização da fauna piscícola das bacias hidrográficas do Mondego e do Vouga, entre outras, o docente universitário falava à agência Lusa sobre o impacto dos fogos florestais de 2017 e das alterações climáticas, designadamente da seca, no habitat das lampreias e na fauna piscícola dos rios em geral.

"As larvas de lampreia movimentam-se” nas zonas lodosas, mas “não fazem grandes jornadas”, ficando um “bocadinho à mercê das variáveis ambientais”, declarou.

A falta de água, associada ao escorrimento de cinzas dos fogos para o leito dos rios e diversas formas de poluição, doméstica ou industrial, matam um número elevado de larvas e “muitas que conseguem atingir os estuários” acabam por sucumbir devido à sua debilidade, sem chegarem a entrar no mar.

Por sua vez, os animais adultos que, no inverno e em circunstâncias normais, demandam o interior das bacias hidrográficas para desovar, acabam por não subir os rios.

“As lampreias detetam a presença das larvas” da sua espécie a montante da foz, através das substâncias que estas libertam na água e que funcionam como “sinais” para as adultas, que entram nas zonas estuarinas, mas não chegam a prosseguir viagem para o interior, explicou à Lusa Pedro Raposo de Almeida.

Este ser aquático cuja sobrevivência remonta ao período dos dinossauros na Terra, há cerca de 300 milhões de anos, sabe descodificar os indícios químicos da presença, a montante, de larvas mortas ou de outros animais vítimas da seca, concentração excessiva de cinza dos incêndios e outros poluentes.

A lampreia é um animal extremamente evoluído na capacidade de captar pistas”, salientou o investigador.

Sem larvas a montante, em número e de boa saúde, que possam enviar “sinais” de vida para a foz, ou perante caudais reduzidos, as lampreias adultas não ousam subir os rios.

Por essa razão, os pescadores e as populações ribeirinhas associam geralmente a abundância de lampreia às cheias e aos caudais impetuosos do Mondego e demais rios portugueses.

Em 2017, apenas cerca de 400 lampreias subiram o Mondego, em Coimbra, através da escada de peixes do açude, de acordo com o sistema de monitorização instalado pela equipa científica coordenada por Pedro Raposo de Almeida.

Num ano normal, passam ali à volta de nove mil lampreias”, enfatizou o investigador.

Continue a ler esta notícia