Ao quinto dia, taxistas prometem manter protesto até à suspensão da "lei Uber" - TVI

Ao quinto dia, taxistas prometem manter protesto até à suspensão da "lei Uber"

  • AR - atualizada às 13:05
  • 23 set 2018, 10:51

Motoristas só admitem abandonar os seus postos, na segunda-feira, às 15:00, para uma vigília na Praça do Comércio, em Lisboa, junto à residência oficial provisória do primeiro-ministro

Os taxistas mantêm-se hoje pelo quinto dia em protesto e prometem continuar até que a lei das plataformas de transporte seja suspensa, prevendo abandonar os locais onde estão parados apenas na segunda-feira para uma vigília na Praça do Comércio.

Esta lei não interessa e nós não vamos permitir que a indústria [dos táxis] fique nesta situação", disse à Lusa Florêncio Almeida, dirigente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros de Passageiros (ANTRAL), especificando que só querem "derrubar" a lei, bastando para isso a sua suspensão. "Não é a revogação, antes derrubá-la. Basta suspendê-la, até que se arranje uma solução para este problema", acrescentou.

Inicialmente, os representantes dos taxistas exigiam que os partidos fizessem, junto do Tribunal Constitucional, um pedido de fiscalização sucessiva da constitucionalidade do diploma, uma exigência que não foi acolhida pelos grupos parlamentares.

Na sexta-feira, o processo teve um desenvolvimento, com o PCP a pedir a revogação da lei, uma decisão que os taxistas consideram estar no "caminho correto", mas que ainda não é suficiente.

No quinto dia de protesto contra a entrada em vigor da lei que regula as plataformas eletrónicas de transporte de passageiros, 2.500 taxistas continuam parados em Lisboa, Porto e Faro, disse Florêncio Almeida.

No sábado, José Domingos, membro da direção da ANTRAL, disse à Lusa ter informação de que alguns taxistas das zonas de Coimbra, Aveiro e Viseu se iriam juntar hoje ao protesto nas cidades onde decorre a paralisação.

Esta informação foi hoje corroborada por Florêncio Almeida, que afirmou: "Vêm juntar-se a nós, como sinal de solidariedade. Estão a caminho alguns táxis".

Firmes na paralisação junto aos táxis, que em Lisboa estão estacionados desde os Restauradores até ao Campo Pequeno, os taxistas só admitem abandonar os seus postos, na segunda-feira, às 15:00, para uma vigília na Praça do Comércio, junto à residência oficial provisória do primeiro-ministro (enquanto decorrem obras em São Bento).

"Entendemos que só o primeiro-ministro pode desbloquear esta situação. Nós não queremos ser recebidos pelo ministro ou pelo secretário de Estado, não nos merecem qualquer credibilidade", afirmou Florêncio Almeida.

Profissionais cansados, mas dispostos a resistir

Os taxistas do Porto que se mantêm há cinco dias concentrados na Avenida dos Aliados em protesto contra a lei das plataformas de transporte manifestaram-se hoje dispostos a permanecer, pelo menos até segunda-feira, apesar do cansaço.

Vários profissionais ouvidos hoje pela Lusa reconhecem que a cada dia que passa é mais difícil, pelo cansaço e pelo dinheiro que se perde, mas nenhum admitiu a hipótese de abandonar o local, embora ao início da manhã o número de carros estacionados fosse inferior ao de sábado.

Estamos um bocado cansados, mas estamos satisfeitos porque sabemos que a família hoje vem ter connosco. Além disso, criamos uma animação, para ajudar as pessoas e os familiares a passar este dia”, disse à Lusa Carlos Lima, vice-presidente da Federação de Táxis do Porto, frisando que “na segunda-feira, a luta continua”.

Segundo Carlos Lima, até segunda-feira os taxistas do Porto vão permanecer concentrados, e só depois se decide se continuam o protesto até quarta-feira.

“Não temos mais nada previsto, é só aguentar”, frisou, acrescentando estar “a tentar mentalizar as pessoas para resistir, porque mentalmente já está um bocado complicado”. “Até eu já estou a sentir”, confessou.

Este dirigente disse ainda que “a noite correu bem”, congratulando-se por “não se ter verificado qualquer incidente”.

No Algarve, os que se mantêm há cinco dias concentrados junto ao aeroporto de Faro também prometeram hoje manter o protesto contra a lei das plataformas digitais de transportes até que sejam recebidos pelo primeiro-ministro.

Embora exista algum cansaço, estamos decididos a ficar até que consigamos atingir os nossos objetivos, de sermos recebidos pelo primeiro-ministro”, disse à reportagem da Lusa Francisco José Pereira, presidente da Rotáxis de Faro e representante regional da Federação Portuguesa do Táxi.

Os cerca de 200 taxistas continuavam hoje pelas 11:00, sob uma temperatura a rondar os 33 graus, junto aos carros que ocupam duas faixas de rodagem da Estrada Nacional 125/10, perto da rotunda junto ao aeroporto de Faro.

O representante dos taxistas admitiu que “o estado de espírito já não é o mesmo de há dois dias, porque o calor é intenso e há pessoas para as quais a paralisação está a causar grande impacto na economia familiar, porque vivem exclusivamente do setor”.

Francisco José Pereira espera que, ao fim de cinco dias de paralisação, “o primeiro-ministro possa ficar sensibilizado pela luta nacional e possa receber e ouvir as preocupações do setor do táxi”.

Vários profissionais ouvidos hoje pela Lusa partilham da mesma opinião, acrescentando que “seria uma atitude sensata e de manifestação de abertura do Governo, se o senhor primeiro-ministro recebesse os representantes da classe”.

Caso não sejamos ouvidos, estamos dispostos a manter a luta e a continuar parados por tempo indeterminado”, disse Analídio Inácio, um dos condutores profissionais, enquanto procurava refugiar-se do calor abrasador.

Taxista há vários anos, admitiu que a permanência há cinco dias junto ao aeroporto de Faro, “tem sido difícil devido ao calor, embora juntamente com o cansaço não sejam motivos para abandonar a luta”.

“Estamos todos unidos e decididos a ir até onde for preciso”, sublinhou.

Segundo o representante regional da Federação Portuguesa do Táxi, na concentração no Algarve participam cerca de 200 dos 425 taxistas dos 16 concelhos da região.

“Há taxistas que não aderiram, uns por dificuldades económicas, outros por ganância, aproveitando-se da paralisação para conseguirem uma maior faturação”.

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