Trabalhadoras da Cofaco de Rabo de Peixe receiam pelo futuro - TVI

Trabalhadoras da Cofaco de Rabo de Peixe receiam pelo futuro

  • AM
  • 24 jan 2018, 13:27
Manifestação trabalhadoras da Cofaco - Horta, Açores

Silêncio da administração sobre o futuro da empresa preocupa trabalhadoras

Apreensão e receio condicionam o estado de espírito dos cerca de 300 operários da fábrica da Cofaco em Rabo de Peixe, sentimentos manifestados à saída de mais um turno e perante o silêncio da administração sobre o seu futuro.

À saída da unidade fabril localizada na ilha de São Miguel, que beneficiou de sete milhões de euros de fundos comunitários atribuídos pelo Governo dos Açores, no âmbito de um projeto de modernização, num investimento total de 11 milhões, Lúcia Vieira, na fábrica há 22 anos, não esconde a preocupação.

“Ninguém gosta. Isso mexe connosco, é o nosso futuro”, declarou a operária numa alusão ao despedimento coletivo dos cerca de 180 colegas na unidade fabril da Cofaco - dona da marca Bom Petisco, por exemplo - no Pico.

Refere "conhecer de perto" este drama porque tem o marido, de 50 anos, desempregado, já há nove anos, tendo sido dispensado da sua empresa após lá ter trabalhado 18, assustando neste momento a perspetiva de ficarem ambos sem emprego.

Lúcia Vieira é natural da vila piscatória de Rabo de Peixe, tal como a maioria das colegas naquela indústria transformadora de atum, e já trabalhou na empresa com familiares (mãe e irmãs), o mesmo acontecendo com várias das atuais operárias.

Mas se a operária refere que a maioria das colegas, que se encontram nos quadros da empresa, estão preocupadas, Sandra Andrade, casada, não é uma delas e vê o encerramento da unidade do Pico como sendo “algo diferente”, uma vez que a fábrica “estava muito velha e iam gastar muito dinheiro nela”.

Convicta de que a nova fábrica do Pico prometida pela Cofaco vai avançar - apesar de ter sido esta a promessa na ilha do Faial, em 2010, que não se veio a materializar -, Sandra Andrade, há 11 anos na unidade fabril, afirma que os contratos das colegas “eram muito bons”, ao contrário da unidade de Rabo de Peixe, que não possui “muitas das regalias”.

Cidália Fonseca, uma outra funcionária, há 21 anos na Cofaco, casada, mãe de quatro filhos, de 53 anos, transferida do Pico para Rabo de Peixe, a seu pedido, não esconde preocupação para com o futuro dos colegas na "ilha montanha" e de São Miguel, mas mantém a esperança numa boa solução.

Manuela Moniz, há 32 anos na unidade de Rabo de Peixe, que afirma haver operárias com 40 anos na indústria, declara que “as trabalhadoras estão assustadas, e bem”, apesar da administração não ter dito nada sobre a fábrica de São Miguel.

A operária refere que é a fábrica de Rabo de Peixe que está a laborar a matéria-prima da unidade do Pico, entretanto encerrada, e que a Cofaco admitiu, por via de uma empresa externa, mais operários.

“Não é para estarmos preocupadas? O que quer que lhe responda?” questiona, por seu turno, Hélia Almeida, há 14 anos na fábrica de Rabo de Peixe, que está apreensiva porque pode ficar sem o “ganha pão”.

Alda Ferreira, há 32 anos na fábrica, refere ser este um tema incontornável nos diálogos entre trabalhadores e está preocupada, mas “há-de ser o que Deus quiser”.

A Cofaco inaugurou em 1994 o polo industrial de Rabo de Peixe, onde concentra grande parte da sua produção.

A conserveira, dona de marcas como a Bom Petisco, anunciou no começo de janeiro o despedimento da totalidade dos trabalhadores na fábrica do Pico, prometendo a readmissão no futuro da maioria dos quadros.

Foi através do Sindicato de Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços dos Açores que se soube, em 09 de janeiro, que a administração da conserveira se havia reunido com os trabalhadores da empresa no Pico – que andarão entre os 160 e os 180 – para os informar de que todos seriam despedidos – com direito a indemnização e fundo de desemprego –, deixando a Cofaco de laborar naquela ilha até à construção de uma nova fábrica.

Logo em 9 de janeiro ficou junto dos trabalhadores uma “promessa verbal” de que quando a nova fábrica estiver concluída, o que poderá acontecer “entre 18 meses e dois anos”, a maioria dos quadros seria readmitida.

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