Greve dos médicos: sindicatos esperam que Governo "acorde" - TVI

Greve dos médicos: sindicatos esperam que Governo "acorde"

  • CP, com Lusa - Atualizada às 22:56
  • 25 out 2017, 11:09

Paralisação na região Sul e Ilhas. Trabalhadores reivindicam reposição dos direitos que foram retirados com a troika

A greve dos médicos da região Sul e ilhas, que decorreu esta quarta-feira, teve uma “adesão expressiva”, anunciaram os sindicatos, referindo que o objetivo é “acordar o ministro da Saúde” para a necessidade de se chegar a um entendimento.

Os níveis de adesão são expressivos. A greve nos médicos é dos últimos recursos e os números são muito próximos dos 80% a nível hospitalar e entre os 75% e os 80% a nível dos cuidados de saúde primários”, disse Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, em conferência de imprensa.

O sindicalista referiu que espera que a greve “acorde o ministro da saúde”, afirmando que o Governo “não pode dizer que concorda com as reivindicações e depois nada fazer”.

Mário Jorge, da Federação Nacional dos Médicos, referiu que é necessária uma “mudança de atitude” do Governo para que se atinjam pontos de entendimento que ponham fim ao conflito.

É necessária uma mudança de atitude do Governo para que possamos encontrar pontos de entendimento que levem a uma convergência de posições, para que possamos evoluir para um acordo que ponha fim ao conflito”, disse.

O responsável garantiu que o conflito será suspenso assim que as condições sejam satisfeitas, referindo que o objetivo é que as medidas impostas pela ‘troika’ sejam anuladas.

Ambos os repostáveis sindicais salientaram que, até ao momento, não receberam qualquer contraproposta do Governo, enaltecendo que todos os serviços mínimos foram cumpridos na greve de hoje e que não houve qualquer incidente.

“Não conhecemos nem fomos contactados no sentido de qualquer plataforma de entendimento e compromissos. Se não tiverem atitude construtiva no plano negocial, vamos ter um arrastamento do conflito, que sabemos como começou, mas não podemos adivinhar como vai acabar”, afirmou Mário Jorge.

Jorge Roque da Cunha afirmou que espera que até ao dia 08 novembro, data em que está agendada uma greve nacional, seja possível chegar a um entendimento, explicando que a greve de hoje serviu para “chamar a atenção do governo e dos partidos que o suportam e prejudicar o menos possível os utentes”.

“Os médicos deram um sinal que o Ministério das Finanças e Ministério da Saúde devem entender. Quando falamos de uma redução progressiva das 18 horas de urgência para as 12 horas, essas seis horas são para fazerem cirurgias e consultas, escusando o Ministério de Saúde de fazer a triste figura de martelar os números, quando sabemos que as listas de espera estão a aumentar”, defendeu.

Os sindicalistas não referiram o número de consultas ou cirurgias programas que não foram hoje realizadas devido à greve, mas salientam que os problemas das listas de espera “não são o dia de greve dos médicos, mas os 364 dias”.

Os médicos da região Sul e das Regiões Autónomas estão em greve desde as 00:00 de hoje, num dia de paralisação regional que já decorreu no norte e que antecede um dia de greve nacional, prevista para 8 de novembro.

A greve de hoje foi convocada pelos dois sindicatos face à ausência de resposta do Governo às propostas, que se prendem com redução de horas extraordinárias anuais obrigatórias (matéria em que houve acordo), as chamadas horas de qualidade (durante a noite), redução do trabalho de urgência (de 18 para 12 horas semanais) e redução da lista de utentes por médico de família (dos atuais 1.900 para 1.500).

O secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos, Jorge Roque da Cunha, disse aos jornalistas, cerca das 13:00, que no Hospital Santa Maria, em Lisboa, apenas três de 25 blocos operatórios estão a funcionar enquanto no São José só um dos seis blocos está ativo.

“Os dados preliminares garantem uma grande adesão tal como ocorreu em maio”, acrescentou Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), lembrando que a principal exigência dos médicos é a reposição dos direitos retirados com as medidas da ‘troika’.

Nos hospitais do litoral alentejano, em Évora, Faro e Portalegre todos os blocos operatórios foram obrigados a fechar, referiu.

Nos cuidados de saúde primários, a adesão dos médicos no Alentejo está nos 85%, no Algarve está nos 80% e nos Açores e Madeira ronda os 78 a 85%.

Apenas duas cirurgias realizadas no Algarve

Dezenas de cirurgias tiveram que ser adiadas, no Algarve, devido à greve dos médicos, tendo sido realizadas apenas duas cirurgias nos blocos operatórios dos hospitais de Faro e Portimão, disse à Lusa fonte do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

Em declarações à Lusa, João Dias, adiantou que, das seis salas operatórias existentes em Faro, apenas uma funcionou, para a realização de uma cirurgia urgente, por haver suspeitas de um tumor no ovário, tal como em Portimão, onde a única sala que funcionou foi para fazer uma nefrectomia (remoção de rim), cirurgia assegurada pelos serviços de Urgência.

Apesar de ainda não ter conseguido reunir dados concretos acerca do número de consultas e de internamentos cancelados, aquele responsável sublinhou que há uma adesão "muito elevada" dos médicos, o que levou à quase paralisação de especialidades como Oftalmologia, Cirurgia e Cardiologia.

À entrada para as consultas externas, a Lusa falou com uma utente, que não se quis identificar, mas que revelou ter tido uma consulta de Neurocirurgia desmarcada, lamentando não saber agora quando poderá ser vista por um especialista para o tratamento de uma hérnia.

"Já tinha esperado nove meses por uma ressonância, que fiz no mês passado, e anteontem ligaram-me do hospital a dizer que tinha consulta hoje", contou, sublinhando que o caso é "relativamente urgente", pelo que "precisava mesmo da consulta de hoje", desmarcada devido à greve dos médicos.

Já Ionel Pribeagu, de 57 anos, natural da Roménia, veio de Quarteira para uma consulta de Cirurgia, devido a uma apendicite, mas teve também que voltar para trás, depois de ter esperado várias semanas pela consulta.

"É mau porque tenho que trabalhar mesmo doente e não posso perder tempo, além do dinheiro que gasto em gasolina para vir aqui", contou à Lusa o romeno, a viver em Portugal há doze anos.

A Lusa tentou obter dados de adesão à greve junto do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), mas fonte da administração disse que não iriam ser revelados números.

Já no centro de saúde de Vila Real de Santo António, os utentes depararam-se hoje de manhã com situações distintas, consoante, com os utentes da Unidade de Saúde Familiar (USF) Esteva a serem, no geral, atendidos, constatou a Lusa.

Situação distinta afetava alguns dos utentes da USF Levante, que se encontra localizada no outro lado do edifício do centro de Saúde de Vila Real de Santo António, onde a Lusa encontrou alguns utentes afetados pela paralisação.

“Uma das funcionárias disse-me que dois médicos tinham feito greve e só um deles estava a trabalhar. Infelizmente, um dos que aderiu à greve é o meu médico de família e vou ter que remarcar a consulta para outro dia”, lamentou uma utente.

Por seu turno, Carla Pereira criticou a falta de informação sobre a greve dos médicos, considerando a própria unidade de saúde “devia avisar quem tem consultas marcadas” de que os médicos poderiam não comparecer ao serviço.

“Assim, já sabíamos que poderíamos ter ou não ter consulta e, perante essa possibilidade, decidir se queríamos marcar logo a consulta para outro dia e evitar deslocações e esperas desnecessárias”, disse.

Utentes com consultas canceladas nos Açores

A paralisação dos médicos causou esta manhã o cancelamento de consultas no hospital e centro de saúde de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, Açores, sem comprometer a rotina, com alguns utentes a manifestarem o seu descontentamento.

Os médicos dos Açores, Madeira e da região Sul estão em greve desde as 00:00 de hoje, uma paralisação regional que já decorreu no Norte e que antecede um dia de greve nacional, prevista para 8 de novembro.

Paula Resendes, de 62 anos, do concelho da Lagoa, viu a sua consulta adiada por falta de médico, mas reconhece o direito à greve por parte destes profissionais, apesar do transtorno que foi levantar-se mais cedo numa manhã de chuva intensa e trovoada em Ponta Delgada.

Mas se para Paula Resendes “este é um direito que lhes assiste”, para Carlos Cordeiro, de 49 anos, da freguesia do Pico da Pedra, que também viu a sua consulta cancelada, o transtorno só não foi maior porque a localidade de trabalho é mesmo em Ponta Delgada.

“Mas existem muitas pessoas que vieram de muito longe, com mau tempo, e que não conseguiram consulta”, disse.

Beatriz Pacheco, de 23 anos, natural da Ribeira Grande, desconhecia que havia uma greve em curso, mas esperava pacientemente que a sua consulta fosse viabilizada.

Desconhece-se, para já, o impacto que a paralisação está a ter nas diferentes ilhas açorianas, uma vez que o governo dos Açores ainda não tem números disponíveis, mas, segundo os sindicatos dos médicos, a greve está a ter uma adesão de cerca de 75% nos cuidados de saúde primários da região Sul e ilhas.

Em declarações à agência Lusa, Guida da Ponte, da comissão executiva da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), revelou os primeiros dados da adesão à greve: “75% dos cuidados de saúde primários”.

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