Os oleiros de Bisalhães, em Vila Real, mostram-se satisfeitos com o reconhecimento dado pela Unesco à olaria negra. Mas estão preocupados com o futuro da atividade, porque “até já falta o barro”.
Na tarde desta terça-feira, no posto de venda dos oleiros, junto a uma das entradas da cidade de Vila Real, estavam apenas dois artesãos: os irmãos Cesário Martins, de 80 anos, e Manuel Martins, de 84 anos.
Cesário Martins afirmou à Agência LUSA estar “muito satisfeito” com este reconhecimento internacional da arte que aprendeu aos 11 anos. Nessa altura, em Bisalhães havia cerca de “60 a 70” oleiros. Hoje são apenas cinco os que se dedicam a tempo inteiro à olaria, todos com mais de 70 anos.
Para além do problema do envelhecimento dos oleiros, Cesário destacou outra dificuldade mais recente.
Nós atualmente não temos barro. A única fábrica que nos vendia o barro, em Chaves, fechou e agora não temos mais nenhuma”, contou.
O artesão referiu que, neste momento, está a utilizar o barro que ainda tem guardado.
Mas e agora como é que vamos fazer? É preciso mexer nisto, resolver isto, não é fazer só uma coisa e depois virar as costas a isto”, frisou.
Escolinha para ensinar a arte
Para Cesário Martins, é preciso apostar no ensino da arte aos mais novos. Acha mesmo que se devia criar uma escolinha, mostrando-se disponível para ajudar.
O irmão Manuel Martins também alertou para a falta de barro e referiu que, “aqui mesmo ao lado é boa região” desta matéria-prima.
Havia três fábricas em Chaves e agora já fechou tudo. Quero ver onde é que vamos agora buscar o barro”, frisou.
Este oleiro teme pelo futuro desta atividade e mostrou-se receoso de que “a arte vai acabar”.
Foi praticamente uma vida dedicada à olaria. Cesário trabalhou na GNR durante mais de 30 anos, mas sempre se dedicou ao barro nas horas vagas e até tirava férias para participar na tradicional feira de São Pedro.
Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI, que vão desde o tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.
As peças que nascem pelas mãos destes artesãos são depois cozidas em velhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, caruma, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.
A vida está ingrata, mas se não se vende hoje vende-se amanhã ou depois. Temos que continuar, mas pronto”, salientou Cesário Martins, sabendo que as vendas “têm dias”. “
Os oleiros referiram que as peças mais vendidas são os alguidares do arroz ou as assadeiras das batatas. Mas também há quem procure a bilha de rosca ou a caneca do segredo.