Covid-19: estudo mostra elevados níveis de anticorpos seis meses após vacinação completa - TVI

Covid-19: estudo mostra elevados níveis de anticorpos seis meses após vacinação completa

Vacinação contra a covid-19 nos Açores

Análise foi feita em 86 profissionais de saúde do Hospital Amadora-Sintra

Um estudo conduzido no Hospital Fernando da Fonseca, também conhecido como Amadora-Sintra, concluiu que o nível de anticorpos continua elevado em profissionais de saúde vacinados contra a covid-19 com duas doses há seis meses.

Esta é a conclusão de uma nova fase de análise de um estudo que pode durar até um ano a ano e meio, e que pretende aferir a eficácia e a durabilidade dos anticorpos nas pessoas vacinadas contra o vírus.

O estudo foi conduzido pelo Laboratório de Imunobiologia e Patogénese do Centro de Estudos de Doenças Crónicas (Cedoc) da Universidade Nova de Lisboa (liderado por Helena Soares) e pelo Serviço de Medicina IV do Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca (dirigido por José Delgado Alves).

Foi precisamente José Delgado Alves, especialista em medicina interna e professor de farmacologia, que explicou à TVI24 o alcance do trabalho, que envolveu 86 profissionais de saúde com idades entre os 30 e os 50 anos.

Ao fim de seis meses os valores de anticorpos baixaram, mas nenhuma pessoa ficou sem anticorpos e nenhuma apresenta títulos de anticorpos baixos. Todos tinham níveis de anticorpos elevados, e agora alguns têm níveis elevados ou moderados", refere o também investigador na área de imunologia.

O objetivo passava por dois interesses diferentes: um mais geral, que pretendia investigar a eficácia da vacina em geral, e um outro, mais específico, que incluía a vacinação em profissionais de saúde, das primeiras pessoas a serem imunizadas em Portugal.

A ideia é percebermos se perdemos proteção, e qual é essa altura. Se for preciso terceira dose, se calhar faz sentido que comece pelos profissionais de saúde", explica José Delgado Alves, justificando assim a população em que incidiu o estudo.

Para isso, vão estudar-se os efeitos das vacinas ao longo de diferentes períodos de tempo, que começaram ainda antes de ser administrada a segunda dose à população em causa: "Conseguimos ter uma ideia dos anticorpos numa primeira dose. Todos os vacinados tiveram logo anticorpos, alguns em níveis baixos", diz o especialista.

Já depois da segunda dose, a equipa responsável voltou a analisar o nível de anticorpos, fazendo nova medição um mês depois. Aí, todas as 86 pessoas analisadas apresentaram títulos de anticorpos elevados ou muito elevados.

Dois meses depois, e três meses depois da vacinação ser completada, os anticorpos ainda continuavam a subir em algumas pessoas, enquanto noutras desciam ou baixavam, mas sempre em valores mais do que suficientes para garantir uma proteção contra a doença, seja na sua forma geral ou na forma mais grave.

Seis meses depois, a análise que agora foi apresentada, os valores baixaram, mas continuam a ser elevados ou moderados, o suficiente para garantir uma proteção contra a doença.

É natural que os anticorpos desçam, mas a fábrica [n.d.r. sistema imunitário] não deixa de funcionar. O próprio sistema reduz a produção de anticorpos para não produzir a mais", refere José Cardoso Alves.

É aqui que entra o conceito de memória celular, presente nas mais variadas vacinas, e que ajuda o corpo humano a combater uma determinada infeção à medida que os anticorpos gerados na vacina se vão perdendo. Na prática, é como se a vacina treinasse o sistema imunitário, que faz das células B e T os soldados para combaterem infeções posteriores. É a chamada reação secundária ou adaptativa, e que funciona de forma mais eficaz.

O próximo patamar será a medição do nível de anticorpos ao fim de nove meses de vacinação completa: "Quando medirmos aos nove meses vai ser ainda mais importante. Se baixarem novamente temos de ponderar se os restantes valores também baixaram".

Apesar de incidir em profissionais de saúde, este estudo é válido para a restante população daquela faixa etária, podendo até ser possível que se aplique a pessoas um pouco mais velhas, as mais vulneráveis a doença grave.

Nesse ponto, um estudo divulgado na semana passada revelava que 63% dos idosos com mais de 70 anos têm anticorpos contra o coronavírus que causa a covid-19 seis meses após a vacinação.

O estudo, conduzido pelo Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), envolveu 260 idosos de cinco lares, além de 160 funcionários, em que a quase totalidade (98,1%) continuava, ao fim do mesmo tempo, com anticorpos contra o SARS-CoV-2.

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