Casa Fernando Pessoa vai impugnar livros que foram a leilão - TVI

Casa Fernando Pessoa vai impugnar livros que foram a leilão

Leilão de antiguidades (João Relvas/LUSA)

Livros leiloados que pertenciam à família de escritor vão ser impugnados pela instituição

A Casa Fernando Pessoa pretende impugnar a venda em leilão de todos os livros e revistas pertencentes à biblioteca do escritor que venham a ser colocados em licitação pelos herdeiros, disse esta quarta-feira o investigador Jerónimo Pizarro, noticia a agência Lusa.

«A Casa Fernando Pessoa (CFP) defende que tinha comprado o que se considerava ser a totalidade da biblioteca de Pessoa. É muito difícil uma instituição pública concluir que comprou só uma parte de uma biblioteca, mil e tal livros, e descobrir depois que há quase 200 na posse da família», afirmou Jerónimo Pizarro, que lidera uma equipa de investigadores que está a digitalizar o espólio de Fernando Pessoa na CFP.

A CFP tentou já impugnar a venda da contracapa de um livro que faz parte do seu acervo e de que foi proprietário o autor de «Mensagem», num leilão realizado a 13 de Novembro na galeria P4, em Lisboa, mas não foi bem sucedida, porque «faltava o carimbo do tribunal e não ia dirigido à leiloeira, mas aos sobrinhos herdeiros», explicou o investigador.

O processo de impugnação ainda não começou ¿ prosseguiu ¿ porque «a Casa Fernando Pessoa precisa de reunir todos os papéis relativos à compra da biblioteca para argumentar juridicamente».

«O argumento da Casa Pessoa é: nós já comprámos, já comprámos há dez, 15, 20 anos. Agora, parece que há mais, mas nós pagámos pela totalidade, não pagámos por uma parte. Não podem estar a vender uma parte da qual nós não tínhamos conhecimento e se nós a comprássemos, estaríamos a legitimar a segunda venda do que já foi vendido anteriormente e do que pensávamos que já tínhamos», sustentou.

«Uma das coisas com que eu estou mais surpreendido, como investigador, é que nós, até há pouco tempo, pensávamos que o caso de Pessoa era um caso único, porque tínhamos todos os papéis na biblioteca, um arquivo, um espólio muito rico, e não tínhamos os problemas de outros autores, como o Flaubert ou o Joyce, cujos papéis estão em quatro, cinco lugares e até em mais de um país», referiu.

Com o Pessoa ¿ acrescentou ¿ «pensávamos ter a sorte de ter todos os papéis reunidos e, de repente, descobrimos que há um problema, que as coisas estão dispersas e que, para preparar um livro, não basta ir à Biblioteca Nacional. Agora, é preciso, muito mais do que antes, passar pela casa dos herdeiros, se eles quiserem continuar a abrir a porta aos investigadores».

Neste primeiro leilão foram licitados «600 papéis e 20 livros» e, segundo Jerónimo Pizarro, como a família de Pessoa tem, afinal, na sua posse cerca de dez por cento do espólio do escritor ¿ «quase 200 livros e mais de dois mil papéis» ¿ «há muitos mais livros, há muitos mais papéis para leilões do mesmo tamanho».

O investigador precisou que, no leilão realizado a 13 de Novembro, «a família não deu o direito de preferência ao Estado, o Estado teve de comprar e pagar muito mais do que esperava».

«A leiloeira não aceitou participar nas negociações sobre se o Estado tinha o direito de preferência e, portanto, o Estado acabou por comprar talvez poucos lotes (comprou 14), entre outros motivos porque teve de pagar muito mais dinheiro (157 mil euros) pelo que queria, porque a família nunca deu o direito de preferência que o ministro [da Cultura] pediu há três ou quatro meses», comentou.

E ¿ sublinhou ¿ «numa situação económica muito complicada, é muito provável que o Estado, nos próximos leilões, não possa comprar a totalidade e que muitas, muitas coisas fiquem dispersas e talvez não só em Portugal, porque o Estado inicialmente classificou [como património nacional] e depois desclassificou alguns lotes».
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