Os bispos portugueses manifestaram, nesta segunda-feira, "total apoio" ao Papa Francisco, numa carta enviada ao líder da Igreja Católica, em que se declaram disponíveis para seguir as suas orientações para erradicar a "chaga" do abuso de menores por padres.
Neste momento, perante tentativas de pôr em causa a credibilidade do seu ministério, queremos manifestar-lhe a nossa fraterna proximidade e o total apoio à sua pessoa, a plena comunhão com a sua missão de pastor universal e completa adesão ao seu magistério", consta na carta dos bispos de Portugal, lida hoje pelo presidente da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios (CEVM), António Augusto Azevedo, durante o arranque do Simpósio Nacional do Clero, em Fátima.
Na mesma carta, os bispos portugueses sublinham que partilham do sofrimento do Papa Francisco e de toda a Igreja relativamente ao "drama do abuso de menores" por parte de padres, propondo-se a "seguir as orientações para erradicar as causas desta chaga".
Empenhar-nos-emos em incrementar uma cultura de prevenção e proteção dos menores e vulneráveis em todas as nossas comunidades", diz a carta, redigida pelos bispos, reunidos em Fátima, no Simpósio Nacional do Clero, e que agradecem ainda ao Papa Francisco pela "oportuna e corajosa Carta ao Povo de Deus", que aborda a questão do abuso de menores por parte de membros responsáveis da Igreja Católica.
A leitura da carta por António Augusto Azevedo terminou com um forte e longo aplauso por parte dos padres presentes no evento.
Em declarações aos jornalistas, no final da sessão de abertura do Simpósio Nacional do Clero, António Augusto Azevedo, afirmou que a carta é "uma manifestação da parte do episcopado português, corroborada de forma muito expressiva pelo muito clero presente neste simpósio" de comunhão com o papa.
Quando, porventura, sobretudo na opinião pública, pode haver a dúvida se essa comunhão é suficientemente forte, da parte dos bispos portugueses há, de facto, essa sintonia plena com o Papa Francisco", vincou o também bispo auxiliar do Porto.
Segundo António Augusto Azevedo, o episcopado português partilha "a mesma opinião e este esforço que o Papa Francisco está a fazer por uma renovação da Igreja”, acrescentando que tem a consciência de que “a renovação de uma instituição nunca é tarefa fácil e que só será possível num clima de comunhão".
Para o presidente da CEVM, é importante "implementar na Igreja e na sociedade, nas famílias e nas escolas, uma cultura de maior respeito pelo outro, sobretudo quando o outro é mais frágil".
Além disso, é necessário dar atenção à formação e acompanhamento dos sacerdotes.
Apesar desta problemática do abuso de menores por parte de padres não ter, em Portugal, a "dimensão que adquiriu noutros países", António Augusto Azevedo sublinhou que "há sempre mais a fazer".
"Requer mais atenção, mais cuidado, mais acompanhamento", vincou.
A questão dos abusos sexuais foi um dos temas marcantes da recente visita do Papa à Irlanda, onde Francisco expressou uma mensagem de vergonha e tristeza por este caso que está a abalar a Igreja.
Na sequência dessa visita, o arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio apostólico nos Estados Unidos, publicou uma carta a acusar Francisco de também não ter sido célere na denúncia e resolução dos casos de pedofilia.
Vários bispos portugueses têm manifestado o seu apoio ao Papa, nomeadamente o cardeal de Leiria-Fátima, António Marto, que considera que o ataque dirigido a Francisco procura "pôr em causa a sua credibilidade e criar uma divisão na Igreja".
Também o cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, o bispo de Aveiro, António Moiteiro, e o novo arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, expressaram publicamente mensagens de apoio ao Papa.
Papa recomenda silêncio e oração
O Papa Francisco recomendou hoje o silêncio e a oração como resposta "aos que apenas procuram escândalo", divisão e destruição na Igreja Católica.
Que o Senhor nos dê a graça de discernir quando temos de falar e quando nos devemos calar”, pediu na homilia a que presidiu hoje na Capela da Casa de Santa Marta.
O Papa tem-se recusado a comentar as acusações de quem pede a sua renúncia, na sequência de uma carta divulgada pelo núncio apostólico Carlo Maria Viganò.
Na carta o ex-núncio nos Estados Unidos Carlo Maria Viganò assegura que Francisco conhecia desde junho de 2013 as acusações de abusos sexuais de um dos cardeais de confiança do Papa, o arcebispo reformado de Washington, Theodore McCarrick.
Um relatório de um grande júri da Pensilvânia informou que pelo menos mil crianças foram vítimas de 300 padres nos últimos 70 anos, e que gerações de bispos falharam repetidamente na tomada de medidas para proteger a comunidade e punir os violadores.
Theodore McCarrick foi afastado em junho do colégio cardinalício e o Papa argentino “ordenou a sua suspensão do exercício de qualquer ministério público, assim como a obrigação de permanecer em casa que lhe será destinada para uma vida de oração e penitência”.
A 20 de agosto, o Papa Francisco publicou uma carta dirigida a todos os católicos do mundo, condenando o crime de abuso sexual por parte de padres e o seu encobrimento e exigindo responsabilidades.
Na carta, o Papa pediu perdão pela dor sofrida pelas vítimas e disse que os leigos católicos devem envolver-se em qualquer esforço para erradicar o abuso e o seu encobrimento e criticou a cultura clerical que tem sido responsabilizada pela crise, com os líderes da Igreja mais preocupados com a sua reputação do que com a segurança das crianças.