Recuo da DGS deveu-se a uma "pressão muito forte do ponto de vista político", diz ex-ministro da Saúde - TVI

Recuo da DGS deveu-se a uma "pressão muito forte do ponto de vista político", diz ex-ministro da Saúde

Adalberto Campos Fernandes entende que a DGS deveria ser mais protegida, mais forte e menos exposta às pressões políticas

O antigo ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes defendeu, esta terça-feira, que a decisão da Direção-Geral da Saúde - de recomendar a vacinação contra a covid-19 a todos os jovens dos 12 aos 15 anos - foi tomada com muita pressão política, não tendo sido " um bom momento".

Isto não foi de facto um bom momento, porque em oito dias nós não mudámos no conhecimento científico tanto quanto isso, para justificar esta mudança de opinião”, disse Campos Fernandes numa entrevista à TVI24. 

 

Foi uma pressão muito forte do ponto de vista político, que eu compreendo, porque a política tem a sua própria agenda, que é uma agenda diferente da agenda técnica e científica, e também pressão mediática, numa questão que é de facto muito sensível, que divide peritos, cientistas, investigadores, pediatras, não apenas em Portugal, mas em toda a Europa e também nos Estados Unidos”, acrescentou. 

Campos Fernandes disse que se "escreveu direito por linhas tortas” e entende que a DGS deveria ser mais protegida, mais forte e menos exposta as pressões, sejam ela políticas, mediáticas ou de órgãos de soberania.

A DGS tem de ter poder, tem de ter independência, tem de ter credibilidade e não pode estar à mercê dos recados que lhe chegam todos os dias pelos jornais ou pelas televisões, sejam de dirigentes políticos, sejam de órgãos de soberania, seja de qualquer outra estrutura corporativa da sociedade. Porque isso fragiliza a segurança do país."

 

Nós precisamos, em momentos como estes, de uma Direção-Geral da Saúde à prova de bala e isso significa que é ouvida, é escutada, é seguida e não pode ser pressionada", concluiu

Para o professor da Escola Nacional de Saúde Pública é preciso ter alguma cautela com a "volatilidade das narrativas" e apontou um erro da comunicação na mensagem que as autoridades de saúde e o Governo têm transmitido sobre a vacinação dos jovens. 

Não se pode, do meu ponto de vista, fazer crer que esta medida de fazer avançar em força para a vacinação das crianças, tem apenas e só como objetivo acautelar que as escolas não funcionem mal ou funcionem menos bem. Isso é um erro do ponto de vista da comunicação. O que nós estamos a dizer aos pais e ás famílias é que as vacinas são seguras para as crianças e para os adolescentes, e que a nossa primeira preocupação é defender a saúde dessas mesmas crianças e adolescentes."

Deixou uma crítica às discordâncias e reprovações que são feitas em "praça pública" às decisões da DGS, principalmente, por aqueles que fazem parte dos órgãos técnicos por ela criados. 

O ganho de terreno [do vírus] é feito, muitas vezes, pisando milhas e armadilhas. Ora, que as minas e armadilhas sejam colocadas pelo nosso inimigo, que é claramente o vírus, é uma coisa, que as minas e armadilhas sejam colocadas por fogo amigo é que eu acho que é de evitar."

Aproveitou ainda para chamar à atenção para um aspecto que "deve ser olhado com muito cuidado por todos": os idosos. Na ótica de Campos Fernandes, esta faixa etária continua a ser uma das mais vulneráveis e continuam a correr risco que não estão a ser acautelados. 

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