Como pensa um criminoso sexual? - TVI

Como pensa um criminoso sexual?

  • Portugal Diário
  • Paula Martinho (Lusa)
  • 21 fev 2008, 08:51
Violência [arquivo]

Investigador entrevistou os agressores portugueses durante vários anos e concluiu que se tratam de «analfabetos emocionais». Quase todos «negam ou minimizam o seu comportamento». Conheça a mente do violador, muitas vezes «alguém demasiado próximo» e raramente um estranho Seis anos sequestrada numa cave

Uma das características mais evidentes dos agressores sexuais, condenados e detidos nas cadeias portuguesas, é a sua «insinceridade», revela um estudo elaborado pelo investigador e psicólogo Armando Coutinho Pereira, informa a agência Lusa.

«É impressionante a percentagem de agressores sexuais que negam ou minimizam o seu comportamento. São uma espécie de analfabetos emocionais, com grande incapacidade para sentir o sofrimento do outro», sublinhou o autor de um estudo que aborda a problemática da violência sexual na óptica do agressor.

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A amostra é constituída por entrevistas a 116 agressores sexuais, condenados por crimes de natureza sexual, do sexo masculino, com idades entre os 18 e os 72 anos, tendo como média de idades os 39 anos. O estudo «Distorções Cognitivas e Agressão sexual: estudo exploratório com agressores intra e extrafamiliares» foi desenvolvido entre 2001 e 2007 no âmbito do mestrado em Ciências Forenses da Faculdade de Medicina do Porto.

«A média de idades destes agressores sexuais é superior à média da população reclusa no seu todo (média de 35 anos, segundo a estatística prisional de 2004), o que estará relacionado com a maior idade dos agressores sexuais de menores", explicou Armando Pereira.

No geral, são homens maioritariamente pouco instruídos (47.4 por cento têm apenas o 1º ciclo do ensino básico), sendo esta característica comum aos agressores que fazem vítimas dentro e fora da família, quer sejam adultos ou menores. Na sua grande maioria são delinquentes primários (55.2 por cento), sem antecedentes criminais ou problemas prévios com o sistema de justiça.

Próximo, muito próximo

São homens que laboram em profissões físicas e ou indiferenciadas e que começaram a trabalhar bastante cedo, após a conclusão do 1º ciclo de escolaridade. Trata-se de agressores que fazem, maioritariamente, vítimas fora do contexto familiar (55.2 por cento), mas estas vítimas são geralmente pessoas próximas (conhecidas ou vizinhas).

«Ao contrário do que está estereotipado, o agressor não é um alien, não é um estranho que há-de aparecer numa rua escura, ao virar de uma esquina, mal vestido, mal amanhado, que não conhecemos de lado nenhum. Provavelmente, o agressor é alguém conhecido, relacionalmente próximo».

«Isto chama-nos a atenção para o facto de existirem crianças que estão entregues a elas próprias longas horas, a maioria das vezes em situação de promiscuidade habitacional, e talvez, nalguns casos, esta seja a mola impulsionadora para a agressão», frisou o investigador.

As motivações

Os contextos descritos pelos agressores, são quase sempre histórias que relatam excessiva proximidade emocional e física, abandono e negligência por parte dos cuidadores das vítimas. Muitas vezes os agressores referem-se às vítimas, como alguém que se iniciou na vida sexual precocemente com elementos próximos, vizinhos e/ou familiares mais velhos, precisou o investigador, citando afirmações de um dos entrevistados: «¿ela não era virgem porque tinha namorado e por aquilo que a sobrinha (que vivia na sua casa) contou, ela também bebia e fumava¿»

Não raras vezes, frisou Armando Coutinho, existe nestes cenários de agressão "miséria social, pobreza económica, promiscuidade habitacional e falta de condições sócio-relacionais" e "certas crenças" em relação ao papel da mulher. Esta última, característica de um certo «machismo», verifica-se preferencialmente nos agressores de adultos.

As vítimas dos agressores são, regra geral, do sexo feminino (82 por cento). Os menores (64.7 por cento) são as vítimas destacadas e, nos últimos tempos, constituem situações mais denunciadas. Embora as agressões de natureza sexual acontecessem preferencialmente fora do contexto familiar, os agressores são maioritariamente conhecidos das vítimas (79.1 por cento).
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