Mães são principais agressoras dos filhos - TVI

Mães são principais agressoras dos filhos

  • AM
  • 24 mai 2017, 09:35

Serviço SOS-Criança alerta que são as mulheres quem, dentro da família, “mais vezes bate nos filhos”. Situação pode dever-se ao facto de estarem “mais próximas dos filhos” e passarem “mais tempo com eles”

As mães são as principais agressoras dos filhos dentro da família, mas também são estas que mais procuram ajuda no serviço SOS-Criança, disse à agência Lusa o secretário-geral do Instituto de Apoio à Criança (IAC).

Quem mais procura o serviço SOS Criança são as mulheres, e entre as mulheres, quem mais procura o serviço para apresentar situações são, efetivamente, as mães”, que curiosamente são também quem, dentro da família, “mais vezes bate nos filhos”, disse Manuel Coutinho em entrevista à agência Lusa.

Esta situação pode dever-se ao facto de estarem “mais próximas dos filhos” e passarem “mais tempo com eles”, justificou o coordenador do SOS-Criança.

Em 2016, o IAC recebeu 2.392 pedidos de ajuda, 216 dos quais referiam-se a “maus-tratos físicos” e “maus-tratos psicológicos” no seio familiar.

Dos 983 infratores identificados no serviço SOS-Criança em 2016, mais de metade (54%) eram mulheres.

Analisando a relação existente entre o infrator e a criança constatou-se que, à semelhança de anos anteriores, a grande maioria (80%) é um familiar, com as mães (45%) a destacarem-se relativamente aos pais (26%).

Manuel Coutinho adiantou que “os maus tratos psicológicos, a par dos maus tratos físicos na família”, são indicadores “de que as coisas nem sempre estão bem” no seio familiar.

Às vezes podemos quase dizer que as famílias são o local onde a criança é menos protegida”, disse, defendendo que a sociedade deve refletir e perceber que “as crianças precisam de um ambiente familiar estável e equilibrador”.

Defendeu ainda que os maus-tratos são “um comportamento que tem que ser extinto”. “Não podemos” educar à “paulada, ou à bofetada ou com o açoite” e depois querer acabar com a violência doméstica.

As crianças são o elo fraco dentro das famílias” e bater-lhes “também é um crime de natureza pública”, sustentou Manuel Coutinho.

Alertou também que estas crianças crescem e podem imitar o comportamento dos pais, tornando-se também agressivas.

Tornam-se crianças que “não contêm os seus instintos, os seus impulsos, e também elas descarregam umas sobre as outras, e torna-se ‘o jogo do passa’”.

Por isso, temos de ter uma educação “mais pela compreensão, mais pela repreensão, mais pela punição, mas não é preciso exteriorizar a violência através de maus tratos às crianças, não se deve fazer, porque um castigo desadequado à idade da criança é um mau trato”.

Há 19 anos no Instituto de Apoio à Criança, Manuel Coutinho confessou que ainda se surpreende com alguns casos que chegam ao serviço: “Muitas vezes a realidade ultrapassa a ficção”.

Claro que há situações mais ligeiras”, mas há outras “muito preocupantes, de maus tratos graves, de abusos sexuais graves, de situações traumáticas graves, que têm de ser sempre bem orientadas, bem encaminhadas”.

Em todos os casos tem que “se salvaguardar os direitos e os interesses das crianças e, muitas vezes, também têm de se ajudar as famílias”, que estão “tão desestruturadas que, de repente, entram em rota de colisão”.

Mas a todos os casos tem de “se dar uma resposta”, “ser diligente e atuante”.

10 pedidos de ajuda por dia

O secretário-geral do IAC revelou ainda que, todos os dias, chegam ao Instituto, em média, cerca de 10 apelos relacionadas com situações de perigo, muitos deles feitos por crianças que se sentem desamparadas e fragilizadas emocionalmente.

As crianças utilizam a linha para apresentar situações que as preocupam, que lhes causam dúvidas existenciais” e o “SOS-Criança é um dos poucos serviços que lhes dá voz na primeira pessoa”, afirmou Manuel Coutinho.

Do outro lado da linha há uma equipa de psicólogos que diariamente ouve as suas preocupações e trabalha com elas a sua autoestima.

Só em 2016, o IAC recebeu 2.392 pedidos de ajuda feitos por crianças, pais, familiares ou vizinhos, mais 525 do que no ano anterior.

Segundo Manuel Coutinho, “as problemáticas” mais preocupantes são “as situações das crianças em perigo, em risco, e abusadas sexualmente, mas também das crianças que precisam só de falar com alguém”.

Hoje em dia, quando aparecem situações preocupantes de desafios ‘online’ completamente perigosos e que fazem até algum terrorismo na vida das crianças temos de perceber que estes ‘jogos’ aparecem porque as crianças estão muito instáveis emocionalmente”, frisou.

Para o coordenador do SOS-Criança, é preciso “dar um suporte efetivo às crianças”, conversar com elas, “fazer-lhes entender os perigos que existem no mundo e levá-las a que tenham uma boa autoestima”, para que possam ter “uma boa saúde mental”.

Raptos parentais aumentaram em 2016

Perto de 40 crianças foram sinalizadas como desaparecidas em 2016 ao IAC, que observou um aumento de 38% no número de casos de raptos parentais, segundo dados divulgados à agência Lusa.

No total, o IAC registou 37 casos de desaparecimento de crianças e jovens, mais dois do que no ano anterior, tendo a maioria (17) sido por fuga de casa ou de uma instituição e 14 por rapto parental, mais cinco casos do que em 2015.

Houve ainda dois casos de desaparecimentos de crianças migrantes não acompanhadas e dois casos de crianças perdidas. Noutras duas situações não é especificada a causa do desaparecimento.

O coordenador do serviço SOS-Criança, Manuel Coutinho, manifestou preocupação com a situação das crianças migrantes.

O que nos está a trazer muita preocupação” é a situação das “crianças migrantes não acompanhadas fugidas da guerra, que são muitas, que se deslocam pela Europa, e depois desaparecem, supondo-se que vão para as redes de tráfico”, disse Manuel Coutinho.

Mas as situações de raptos parentais, quando uma criança é levada ou mantida num país diferente do da sua residência por um dos pais ou detentores da sua guarda, contra a vontade do outro, e as fugas também merecem reflexão: “Ninguém foge de um sítio onde está bem. Por isso, quando a criança é encontrada não deve ser devolvida (…) sem se analisar bem o motivo que a levou a sair de lá", adiantou.

Nesse sentido, “é importante humanizar as instituições, tentar que funcionem da melhor maneira possível”, mas também é “importante pôr a lupa em cima das famílias e perceber o que é que leva as crianças a fugir de casa”.

O secretário-geral do IAC contou que muitos menores fogem por iniciativa própria, motivados por situações ligadas à internet.

Muitos não navegam nas redes sociais em segurança e vão atrás do que não devem, vão atrás de namorados, vão atrás de sonhos, vão atrás de ideias e isto é muitíssimo perigoso”.

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