Beijos, abraços e álcool na rua. Estudantes em Lisboa viram costas à pandemia - TVI

Beijos, abraços e álcool na rua. Estudantes em Lisboa viram costas à pandemia

  • BC
  • 12 set 2020, 10:57

Apesar de a Área Metropolitana de Lisboa continuar em situação de contingência, muitos jovens parecem alheios ao estipulado

Este não é um final de verão habitual, mas há quem tente manter hábitos de outros anos no regresso das férias: tomar uma cerveja com amigos ao final do dia, atropelando regras como a limitação nos ajuntamentos.

Quinta-feira, 19:00, Cidade Universitária, em Lisboa. Os grupos de jovens reúnem-se, na sua maioria, junto aos cafés existentes perto do Caleidoscópio e da Faculdade de Ciências. Na mão têm cervejas ou cigarros, esbanjam conversas e risos. A máscara é visível no braço ou a sair de um bolso.

Apesar de a Área Metropolitana de Lisboa continuar em situação de contingência – nível que se estende a todo o continente português na terça-feira – e de não serem permitidos os ajuntamentos de mais de 10 pessoas ou o consumo de álcool na via pública, muitos jovens parecem alheios ao estipulado.

A Lusa esteve junto ao polo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, junto ao Campo Grande, até perto das 20:30. Os estabelecimentos comerciais fecharam às 20:00, só ficando aberto um restaurante.

Pouco antes, alguns jovens dançavam ao som de música vinda de um carro estacionado. Os muros repletos de jovens, copos de cerveja e garrafas. Os jovens, de idades entre os 17 e os 20 e poucos, a serem jovens.

Os grupos dispersavam quando viam as câmaras apontadas na sua direção, alguns colocavam as máscaras como sinal de que sabiam estar a desafiar as regras.

Quando os cafés fecharam despediram-se com beijinhos, abraços e apertos de mão, tudo aquilo que se faria normalmente numa altura em que o vírus não existisse.

Nenhum dos jovens quis falar à Lusa, mas o presidente da Associação Académica da Universidade de Lisboa, Hélder Semedo, referiu que muitos dos jovens que por ali se encontram são pessoas que “vêm de fora do ‘campus’, não pertencem à universidade”.

Nota-se que há ajuntamentos, principalmente aqui na parte de restauração desta zona, de um número grande de pessoas que não têm os devidos cuidados do distanciamento social, da utilização da máscara. Estão a fumar, a beber, não têm isso em atenção”, afirmou.

Segundo o representante, as associações de estudantes da Universidade de Lisboa e a própria Associação Académica estão a preparar campanhas para o início do ano letivo, que começa para a semana, “para sensibilizar os estudantes da universidade e para a mitigação do próprio vírus”.

Estamos preocupados com a abertura e queremos que a abertura aconteça. Como temos dito, é preciso voltar a humanizar a universidade, precisa dos seus estudantes. Uma universidade sem estudantes não faz sentido”, lembrou, recordando o atípico semestre passado, com as aulas presenciais canceladas.

De acordo com Hélder Semedo, “é certo que ainda não se sabe como vai ser gerida a situação as 18 escolas da universidade”, mas estão preparadas para receber os estudantes.

Vamos ter de receber 50 mil alunos de uma vez. Muitos deles estão um pouco exaustos de estar em casa e muitos fazem o que estes estão a fazer agora. Querem descontrair, descansar e beber a sua cerveja, o que é normal, compreende-se. Só é preciso sensibilizar para que não haja mais casos de covid-19 e tentar mitigar a questão do vírus”, lembrou.

Para o presidente da Junta de Freguesia de Alvalade, José António Borges (PS), a situação dos ajuntamentos de jovens naquela zona não é novidade. Já antes da pandemia eram “foco de atração”, sobretudo “pelo valor do preço baixo das bebidas alcoólicas”.

Nos primeiros meses de confinamento correu bastante bem, como no resto da cidade. Em setembro, no início das aulas e do regresso dos estudantes a Lisboa, aliado a haver um certo desejo de desconfinamento, tem claramente havido uma afluência excessiva a estes bares”, explicou.

Apesar de considerar que os jovens “querem voltar às suas rotinas diárias”, o autarca sublinhou que a afluência de pessoas é “mais baixa do que era normal”, mas “ainda assim é excessiva para o período” em que se vive.

José António Borges adiantou que a junta está a trabalhar com as autoridades policiais para que na segunda quinzena de setembro possa regressar “alguma acalmia” à zona, embora se desconheça o que se irá passar com a retoma das aulas. Ainda assim, sabe que as faculdades “estão a preparar este regresso com calma”.

“Acho que o bom senso prevalecerá. As instituições estão preparadas ou a preparar-se para que durante o período das aulas as coisas regressem ou tenham níveis de normalidades, e que isto seja um foco de excitação juvenil de início de ano letivo e depois acabe por acalmar”, afirmou.

O autarca lembrou ainda o papel “muito importante” das associações de estudantes “na sensibilização dos jovens para que estes comportamentos se normalizem, no sentido de estarem precavidos nos cuidados de saúde”.

Hélder Semedo lembrou que a maior parte dos eventos académicos “estão cancelados até indicação em contrário da própria Reitoria” e que “até a situação estar normalizada” vai haver um acompanhamento das atividades, “dentro de outros moldes”.

“Estamos preocupados”, afirmou, acrescentando que a quinta-feira justifica especial atenção em relação aos ajuntamentos, por ser o dia académico e, tradicionalmente, de saídas à noite dos estudantes.

A Polícia de Segurança Pública registou 308 contraordenações em agosto por violação das regras de contenção da covid-19, sendo o consumo de bebidas alcoólicas na via pública responsável por cerca de metade das multas (150).

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