Testemunhas dizem que quinta vítima estava longe do rochedo que ruiu na praia Maria Luísa - TVI

Testemunhas dizem que quinta vítima estava longe do rochedo que ruiu na praia Maria Luísa

  • BM
  • 29 mar 2019, 15:38
Derrocada na praia Maria Luísa, em Albufeira (Foto António Ribeiro/euvi@tvi.pt)

Cunhada da quinta vítima mortal relatou que estava à beira-mar estendida na toalha junto da sobrinha e da cunhada, quando esta última gritou para fugirem e, no momento em que se preparava para se levantar, foi atingida por uma pedra de grandes dimensões

Duas das testemunhas que presenciaram a derrocada na praia Maria Luísa, em Albufeira, afirmaram esta sexta-feira em tribunal que pelo menos uma das vítimas mortais estava relativamente distante da formação rochosa quando esta ruiu, atingindo e matando cinco pessoas.

Alexandra Pereira, cunhada da quinta vítima mortal, Maria Emília Dias, relatou que estava à beira-mar estendida na toalha junto da sobrinha e da cunhada, quando esta última gritou para fugirem e, no momento em que se preparava para se levantar, foi atingida por uma pedra de grandes dimensões.

De acordo com a testemunha, ouvida em videoconferência, quando a derrocada ocorreu, as três estavam "a quinze ou vinte metros do rochedo", numa zona próxima da área concessionada da praia, enquanto os maridos estavam um pouco mais distantes, dentro de água, e o filho e a outra sobrinha a jogar raquetes, também junto à água.

Se não fosse a minha cunhada a gritar eu não tinha visto. Só ouvi um barulho e fugi para o lado esquerdo. Estava deitada de barriga para baixo e nem sabia se estava a fugir na direção certa", descreveu, emocionada, durante a segunda sessão do julgamento, hoje realizada no Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Loulé.

Alexandra Pereira relembrou que ainda viu a vítima a reagir, acenando as mãos e de lágrimas nos olhos, e que depois viveu momentos de aflição por não conseguir passar para o outro lado da praia, devido à acumulação de pedras no areal, para procurar o filho e a sobrinha mais nova.

O desabamento do leixão (rocha grande) - com dez metros de altura, seis de diâmetro e um peso de várias toneladas -, causou há dez anos, na manhã de 21 de agosto de 2009, a morte de cinco pessoas que passavam férias no Algarve, quatro das quais da mesma família.

Maria Emília Dias, de 37 anos, foi a quinta vítima mortal do acidente, no seu último dia de férias em Albufeira com o marido, António Dias Salazar Freitas, e as filhas, Jennifer, na altura com 16 anos, e Gladys, com 11. Excecionalmente, naquele dia, estavam acompanhados pela irmã de António, o marido desta e o filho.

Questionada sobre a presença de sinalização na praia, Alexandra Pereira disse em tribunal não ter visto qualquer indicação de perigo, frisando que não foi "para junto da rocha" que viria a desmoronar-se.

Também o seu marido, Hugo Pereira, referiu que apesar de ter estado "muito pouco tempo na praia", uma vez que o acidente ocorreu cerca de uma hora depois de ali chegarem, não viu qualquer sinal.

A família acedeu à praia por uma entrada secundária, pelo lado nascente, através de uma pequena escadaria que desembocava no extremo da praia onde se localizava o leixão.

Hugo Pereira sublinhou que estava dentro de água com o cunhado, "a 20 ou 30 metros" do rochedo que se desmoronou, e que apenas foi alertado por um "grande barulho", um "estrondo".

Quando olho para trás, vejo as pedras virem em direção à água", relatou, comparando a rapidez com que as pedras rolaram, tendo mesmo chegado a entrar na água, a "um camião TIR a virar a báscula e a descarregar".

Quase dez anos depois do acidente, o Estado, único réu no processo, vai agora responder pelo pedido de indemnização civil de 911 mil euros apresentado pelos familiares das cinco pessoas que morreram.

Além de Maria Emília Dias, morreram naquele dia quatro pessoas da mesma família: António e Anabela Fonseca, de 59 e 57 anos, e as filhas Mariana, de 26 anos, e Ana Rita, de 31, residentes no Porto.

O acidente causou ainda um ferido grave, Vítor Sousa, namorado de Mariana, à data com 24 anos, e que ficou soterrado durante aproximadamente quatro horas até ser resgatado.

As famílias das vítimas consideram que existiu “omissão de deveres que competem ao Estado, através de diversos institutos, porque havia uma falésia que tinha de ser monitorizada para não constituir risco”, de acordo com a Petição Inicial da ação.

Apesar de a sinalização a indicar risco, de acordo com os autores da ação contra o Estado, “não foi avaliado o risco real do que poderia representar a queda da falésia”, que ocorreu, alegam, devido à instabilidade provocada pelo desgaste na sua base.

O julgamento prossegue na próxima quinta-feira no Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé.

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