Cirurgião que violou doentes condenado mas com pena suspensa - TVI

Cirurgião que violou doentes condenado mas com pena suspensa

Médico acusado de abusar sexualmente de 15 doentes

Alcídio Rangel, que também foi médico das seleções nacionais de futebol, pode voltar a exercer medicina no setor privado

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O médico Alcídio Rangel foi, nesta sexta-feira, condenado, em cúmulo jurídico, a cinco anos de prisão, suspensa na sua execução por igual período, por um crime de coação sexual e 11 crimes de abuso sexual de pessoa internada.

O acórdão foi lido nas Varas Criminais de Lisboa, no Campus da Justiça, e a decisão admite recurso.

O médico de Lisboa foi julgado por 15 crimes de abuso sexual de pessoa internada, em concurso com a prática de outros 15 crimes de coação sexual sobre as suas pacientes.

O coletivo de juízes, presidido por Bruno Gorjão, decidiu realizar todo o julgamento à porta fechada, devido ao cariz sexual dos crimes.

No despacho de acusação, o MP havia considerado que o arguido, Alcídio Rangel, molestou sexualmente 15 mulheres doentes, que confiaram nele, fazendo-se valer das funções de médico especialista em cirurgia vascular, no Hospital de Santa Marta, e ainda nos consultórios e clínicas privadas.

Segundo o MP, entre 2005 e 2010, o cirurgião, de 52 anos, praticou atos sexuais de relevo com as 15 ofendidas, fazendo-o de diversas formas, designadamente antes e depois das cirurgias, durante os tratamentos e ainda nas consultas de clínica privada.

A acusação sustenta que o cirurgião se aproveitava da situação de debilidade e de impossibilidade de reação destas doentes, que tinham ainda depositado no médico toda a confiança para a prática dos atos médicos necessários.

O despacho de acusação indicava ainda que o arguido agiu com o propósito de se satisfazer sexualmente, com intuitos libidinosos e com inteiro desrespeito pela ética médica, com ofensa dos sentimentos de dignidade e de vergonha das ofendidas, suas doentes.

O médico foi demitido de funções públicas, em fevereiro de 2010, por intervenção da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), no âmbito de um processo disciplinar.

Alcídio Rangel, que também foi médico das seleções nacionais de futebol, está obrigado a permanecer na habitação com pulseira eletrónica e proibido de praticar atos médicos.

«Não compreendo a suspensão da pena, pois está em causa a dignidade humana. Com esta decisão [pena suspensa], a medida de coação fica sem efeito e, de imediato, o arguido pode voltar a exercer sua profissão numa clínica privada», lamentou, à saída do Tribunal, o advogado da única ofendida que avançou com uma ação cível, citado pela Lusa.

Nuno da Silva acrescentou que não pensa recorrer da decisão e recusou-se a adiantar o valor da indemnização que pediu para a sua cliente, a qual irá receber seis mil euros.

Por seu lado, a advogada do arguido afirmou aos jornalistas que vai primeiro analisar o acórdão e que só depois decidirá se recorre ou não da decisão.

Ana Cotrim disse que o seu cliente [que faltou a todas as sessões de julgamento] está «bastante doente» e com «uma depressão», acrescentando que este processo «afetou-o muito».

Com esta condenação, em pena suspensa, e apesar de Alcídio Rangel estar proibido de exercer medicina no serviço público, o médico pode voltar a trabalhar no setor privado.

O Coletivo de juízes informou que será extraída uma certidão do acórdão, a qual será enviada para a Ordem dos Médicos. Caso seja expulso da entidade, Alcídio Rangel ficará também impedido de exercer medicina no setor privado.
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