Luso-americano admite burlas a instituições financeiras de vários países - TVI

Luso-americano admite burlas a instituições financeiras de vários países

Cheques sem provisão sobem 50% face a 2007

Allan Sharif garante que a família pensava que «era uma coisa séria»

ACTUALIZADA ÀS 21h36

O luso-americano Allan Sharif confessou esta quarta-feira, no Tribunal de Mangualde, ter extorquido e burlado instituições financeiras de vários países através de um sistema de transferências monetárias, mas negou que familiares seus estivessem intencionalmente envolvidos neste esquema, diz a Lusa.

Allan Guedes Sharif - detido em Junho de 2008 em Viseu - é acusado de ser o cérebro de um grupo - constituído pelo seu tio, os quatro filhos e o genro deste, e ainda um amigo, todos arguidos - que começou a ser julgado em Janeiro.

Estão acusados da co-autoria de 27 crimes de extorsão qualificada, burla agravada e branqueamento de capitais, que terão lesado empresas e instituições financeiras de vários países, nomeadamente dos EUA, do Canadá e de países europeus.

Para esta quarta-feira estavam previstas as alegações finais, mas Allan Sharif decidiu quebrar o silêncio, afirmando que os restantes arguidos apenas fizeram levantamentos das transferências porque estavam convencidos de que o dinheiro era resultante da venda de uma quinta.

A Quinta do Rio Torto, que era do seu tio, J. Guedes, foi negociada com o canadiano Timothy Von Kaay, que já conhecia desde 2000, quando ainda vivia nos EUA, e que veio em 2007 para Portugal e lhe propôs «um negócio de compra de terrenos e empresas».

«Tínhamos contas offshore conjuntas no Paquistão desde 2000», contou, acrescentando que nestas estavam mais de três milhões de euros resultantes da actividade criminosa nos EUA.

Segundo Allan Sharif, quando o seu tio fez o primeiro levantamento estava convencido de que se tratava de parte do valor acordado pela venda da quinta. «O meu tio pensava que era uma coisa séria», frisou, acrescentando que posteriormente os seus familiares também fizeram vários levantamentos por terem a mesma convicção.

O luso-americano admitiu que tinha conhecimento aprofundado dos procedimentos usados nas transferências monetárias feitas através dos serviços da Western Union e da Moneygram, nos EUA, dos quais se aproveitou para transferir para Portugal elevadas quantias de dinheiro.

Explicou que as transferências (a primeira das quais a 6 de Agosto de 2007) eram feitas em conjunto por Timothy e por si, com recurso a chamadas telefónicas feitas a partir de Portugal e a um software informático que permitia aceder ao sistema da Western Union.

Quando havia bloqueios, nomeadamente devido ao fuso horário, tinham «um contacto na Western Union, um cunhado de Timothy», que resolvia a situação, acrescentou.

Allan Sharif negou, no entanto, que durante os telefonemas fossem feitas ameaças de colocação de engenhos explosivos nas agências ou de que estavam atiradores nas imediações. «Era uma coisa tão fácil que nem era preciso nada disso», garantiu.

Quando questionado sobre se autorizava a audição de um telefonema entre si e a agência, onde supostamente fazia essas ameaças, o luso-americano disse que sim, mas depois o advogado disse que não.

Esclarecimentos do advogado

Mais tarde, o advogado de esclareceu que o seu cliente admitiu a prática de burlas que prejudicaram instituições financeiras de vários países, mas atribuiu as extorsões a um empresário canadiano.

Segundo o advogado do luso-americano, Pedro Melo, houve «uma ou outra falha de comunicação que poderá levar a mal entendimento» por parte dos juízes, o que atribuiu ao facto de Allan Sharif falar melhor inglês do que português.

«Entendemos que seria o momento propício [para falar], esclarecendo que efectivamente foi ele, juntamente com Timothy Von Kaay, que praticou burlas através desses telefonemas, fazendo as respectivas transferências, e que nas questões relativamente às extorsões ele não estava presente e não teve conhecimento», justificou o advogado.
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