Troca de medicamentos: «Encerrar um capítulo» - TVI

Troca de medicamentos: «Encerrar um capítulo»

Medicamentos (arquivo)

Pais explicam decisão de retirar a queixa em tribunal

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Os pais do mais velho dos dois meninos afectados em 2010 por uma troca de medicamentos no hospital de Almada desistiram da queixa contra a médica e contra a técnica de audiologia porque queriam «poder encerrar este capítulo», escreve a Lusa.

Os pais das crianças desistiram hoje em tribunal da queixa-crime contra as duas profissionais, acusadas pelo Ministério Público de ofensa à integridade física por negligência e de ofensa à integridade física grave. O juiz ordenou o arquivamento do processo.

Em declarações à Lusa, Samuel Lima, pai do mais velho dos dois meninos afectados pelo acidente, afirmou não ter visto razões para continuar com o caso em tribunal: «Chegámos a acordo em relação à indemnização [cujo montante não foi revelado] e não iríamos obter nada de muito diferente se levássemos isto até ao fim. O processo ia arrastar-se durante anos, sabemos como funciona a Justiça. Queríamos poder encerrar este capítulo», disse.

«Não há dinheiro nenhum que compense uma situação destas. Sabemos que não valia a pena estarmos a batalhar uma série de anos. Aceitámos a realidade. Pusemos uma pedra sobre o assunto», acrescentou.

Esta troca de medicamentos fez com que, em vez de um sedativo, tivesse sido administrado aos menores ácido tricloroacético, normalmente usado para estancar pequenas hemorragias, e que provocou queimaduras nos intestinos das duas crianças e também na traqueia, no esófago e no estômago da criança mais velha - cuja saúde, segundo o progenitor, tem tido «altos e baixos».

A depor em tribunal, a médica e a técnica de audiologia assumiram que não leram o rótulo do medicamento que administraram aos dois menores, mas argumentaram que a rotina dos últimos nove anos a realizar aquele tipo de exame, a semelhança entre os frascos e a arrumação indevida do ácido num frigorífico em que não era suposto estar contribuíram para o acidente.

A Lusa tentou falar com os pais do menino mais novo, mas até ao momento não foi possível. Segundo os pais, a criança, que na altura tinha 18 meses, está bem.

«Valor justo»

O presidente do conselho de administração do Hospital Garcia de Orta (HGO considerou, entretanto, «justa» a indemnização paga às famílias, sem revelar valores.

Em conferência de imprensa, o presidente do conselho de administração do HGO, Daniel Ferro, não revelou valores mas afirmou que o montante pago às famílias dos menores foi o «considerado justo para o tipo de situação ocorrida por todas as partes envolvidas».

«O que nos motivou a propor um acordo foi, em primeiro lugar, reconhecer que tinha havido um erro, em segundo lugar, reconhecer que existiam consequências em relação a esse erro, e em terceiro lugar que seria justo que a instituição procurasse minimizar os efeitos negativos desse erro», disse.

Daniel Ferro acrescentou ainda que o acordo demorou porque só agora os pais aceitaram a proposta do hospital.

O HGO compromete-se ainda a, «se no futuro acontecer qualquer eventualidade que tenha uma relação directa com este acidente, assumir o tratamento das crianças», que, garante o hospital, «não ficaram com sequelas».

Sobre o estado clínico das crianças, o director do serviço de Pediatria, Anselmo Costa, afirmou que, «tanto quanto é possível ajuizar, não houve consequências nenhumas que não o desconforto causado às crianças».
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