Nova ponte repõe travessia reclamada por população afetada pela barragem do Alto Tâmega - TVI

Nova ponte repõe travessia reclamada por população afetada pela barragem do Alto Tâmega

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  • 18 nov 2020, 10:02
Nova ponte repõe travessia reclamada por população afetada pela barragem do Alto Tâmega

Ponte terá 170 metros de extensão e uma altura de cerca de 45 a 50 metros acima da atual cota do rio

A Iberdrola vai construir uma ponte entre duas aldeias de Vila Pouca de Aguiar e Boticas, para repor uma travessia do rio que as populações temiam perder por causa da barragem do Alto Tâmega.

Entre Sobradelo (Boticas) e Capeludos (Vila Pouca de Aguiar), no distrito de Vila Real, existe um pontão de cimento para passagem de carros e peões que vai ser atingido pela construção da barragem do Alto Tâmega, uma das três que constitui o Sistema Eletroprodutor do Tâmega (SET), concessionado à espanhola Iberdrola.

Na terça-feira, a empresa e as câmaras de Vila Pouca de Aguiar e Boticas anunciaram, naquelas aldeias, que a alternativa para a travessia do rio Tâmega vai passar pela construção de uma ponte, a 500 metros a montante do atual pontão, com 170 metros de extensão e uma altura de cerca de 45 a 50 metros acima da atual cota do rio.

Não é a solução ideal, mas é uma solução muito boa”, afirmou o presidente da Junta de Capeludos, António Machado, após a apresentação do projeto.

O ideal, na sua opinião, seria a ponte ter largura para ser cruzada por dois carros em simultâneo. A estrutura terá dois sentidos, mas só poderá ser atravessada por um carro de cada vez.

O autarca referiu que, sem esta alternativa, os populares teriam de andar cerca de 60 quilómetros, numa viagem de ida e volta. As duas aldeias distam atualmente três quilómetros.

A vida destas populações cruza-se e completa-se. Cultivam terrenos e trabalham de um e do outro lado, convivem, vão a festas e a funerais.

Depois do anúncio da construção da barragem seguiram-se anos de incerteza e de luta pela reposição da travessia que não foi contemplada na Declaração de Impacto Ambiental (DIA) do SET.

Foi um lapso e esse lapso foi corrigido. Sempre pugnámos por essa correção, é justo, é correto, foi assumido e felizmente foi viabilizado”, afirmou o presidente da câmara de Vila Pouca de Aguiar, Alberto Machado.

Esta é, para o autarca, uma “solução justa”.

É um território já por si bastante isolado e, por isso, não será a barragem aqui a provocar mais cortes. Com a barragem serão feitas pontes que ligam as populações”, frisou.

David Bernardo, da Iberdrola, explicou que vai ser construída uma “estrutura prefabricada de betão” e adiantou que a obra deverá arrancar até ao final do primeiro trimestre de 2022, prevendo-se a sua conclusão até meados de 2023, antes do enchimento da barragem.

Mário Costa, residente em Capeludos, estava a regressar da vinha que tem do outro lado do rio, onde esteve a podar, quando contou à Lusa que vai perder parte do seu terreno para a barragem e uma outra parte para os acessos à nova ponte.

Neste caso é por uma boa causa. Andávamos todos preocupados e com receio de termos de dar uma volta muito grande. Estamos aqui a metros e tínhamos que fazer quilómetros”, frisou.

Sem alternativa ao pontão, Fernando Pinto acredita que as aldeias “ficavam isoladas”.

Antigamente nós passávamos em pedras colocadas no rio para irmos para o outro lado e de inverno tínhamos uma barca”, recordou este outro habitante daquela aldeia.

As câmaras e as juntas de freguesia uniram-se ao povo há 25 anos para construir a passagem que ainda hoje é utilizada. “Eu trabalhei lá muito”, referiu Mário Costa.

Depois de 21 anos como emigrante, João Cabo regressou a Capeludos, abriu um café há um mês e tem a expectativa que a nova ponte, a que se junta a reposição de duas áreas de lazer, em cada lado do rio Tâmega, traga também “mais gente” a esta localidade.

Por resolver está ainda a ligação entre Veral (Boticas) e Monteiros (Vila Pouca de Aguiar), onde a passagem pelo rio é feita por uma ponte pedonal de arame.

No âmbito da DIA esta ponte foi considerada um "elemento patrimonial", pelo que a Iberdrola terá de a recolocar num outro local, sem que tenha que servir de ligação entre as duas margens.

“Não concordamos com essa solução. Continuamos a pugnar para que haja ali, pelo menos, uma reposição da ligação pedonal. Já conseguimos que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) exigisse à Iberdrola a apresentação, até ao fim do ano, de soluções para mitigar aquela situação”, referiu Alberto Machado.

O SET é apresentado um dos maiores projetos hidroelétricos realizados na Europa nos últimos 25 anos, contemplando um investimento de 1.500 milhões de euros e a construção das barragens de Daivões, Gouvães e Alto Tâmega. A Iberdrola diz que empreendimento deverá estar concluído em 2023.

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