Mães dos países mais ricos amamentam menos os filhos - TVI

Mães dos países mais ricos amamentam menos os filhos

  • AFO
  • 22 mai 2018, 15:33
Amamentação

A conclusão é da UNICEF e revela que, em sentido contrário, nos países onde há menos rendimentos, os bebés bebem mais leite materno

Saber que o leite materno é o melhor para um bebé pode não ser o suficiente para levar uma mãe a amamentar. O estudo divulgado no passado dia 10 de maio mostra que os países onde se recebe mais rendimentos são também os locais onde as mães amamentam menos.

A Irlanda, a França e os Estados Unidos são alguns desses exemplos, onde os salários são mais altos e as mães menos escolhem o leite materno para alimentar os bebés. Estes três países têm mesmo a mais baixa taxa de amamentação. Aqui, onde os rendimentos das famílias são mais altos, mais de um em cinco bebés nunca foi amamentado. Enquanto que nos países de baixo e médio rendimento, como o Sudão ou a Algéria, os dados são outros: um bebé em 25 nunca foi amamentado.

Os dados da UNICEF estão corretos, mas à primeira vista, os dados da amamentação podem parecer contraditórios. Tendo em conta os vários benefícios da amamentação, pode parecer estranho que os países de alto rendimento tenham níveis mais baixo de amamentação, enquanto que os outros tenham níveis mais altos”, defendeu a especialista e investigadora na área da amamentação da Faculdade de Enfermagem da Universidade de Iowa, Pamela Mulder, que não esteve diretamente envolvida neste estudo. Muitas destas diferenças estão ligadas à personalidade, família, comunidade, sociedade, ambiente económico e legislativo de cada país e de cada família", explicou.

Mas esta disparidade entre amamentação e altos rendimentos não acontece em todos os países. A Suécia, por exemplo, foge à regra. Segundo recente estudo, as mães suecas não acompanham esta tendência e apesar de ter dos rendimentos mais elevados da Europa são também das mulheres que mais amamentam. A explicação pode estar nos apoios dados pelo próprio Estado. 

Na Suécia, os pais têm direito a 480 dias pagos de licença parental e "sendo pagos deixam que as mães tenham liberdade de se focar na amamentação em vez de terem que fazer a escolha entre a amamentação e o trabalho", apontou Mulder, como sendo uma das possíveis justificações para os números revelados. 

O exemplo contrário às realidades que vemos nos países mais desenvolvidos, encontra-se, por exemplo, em países como o Nepal. Aqui, as mães recebem menos e amamentam mais. 

As sociedades mudaram", disse o chefe do departamento de nutrição da UNICEF, Victor Aguayo. “Há uma tendência, entre algumas mulheres, para nunca amamentarem os seus bebés. Se uma proporção de mulheres não está a amamentar, é porque as mulheres e as famílias não estão a receber o apoio que precisam.", acrescentou. O

 

O estudo agora revelado mostra que nem só a situação económica de cada família influencia a escolha da mãe, também os apoios do Estado têm cada vez mais um papel importante na tomada de decisão da mulher sobre amamentar ou não. 

A licença de maternidade é a chave na escolha da mãe pela amamentação, é por isso que é recomendado à mulher que tenha uma licença de seis meses para estar em casa com os bebés e assim amamentá-los”, disse Aguayo.

O chefe do departamento de nutrição da UNICEF realçou ainda que é preciso criar incentivos para as mães amamentarem em público. "O sistema de saúde tem um papel mais fundamental no apoio às mulheres antes, durante e depois do nascimento do bebé. Os profissionais de saúde têm que ser treinados para ajudar as mulheres na amamentação”, disse ele.

Mas os números agora revelados deixam transparecer uma outra verdade: apesar destes dados revelaram que as mães em países de alto rendimento amamentam menos, na realidade muitas destas mulheres têm também baixos rendimentos. 

"Nos Estados Unidos, e nos outros países de alto rendimento, muitos dos bebés que têm menos probabilidade de ser amamentados são de casas pobres", disse a diretora médica do serviço de enfermagem Cuidar bem, da Universidade da Califórnia, Laura Kair, que não está envolvida no relatório da UNICEF.

"Por causa de todos os benefícios do leite materno que conhecemos, a falta de amamentação pode piorar as disparidades entre estas populações”, reforçou a mesma especialista. “Ainda bem que estas estatísticas existem, porque nos dá uma imagem e luzes para promovermos a importância da amamentação na saúde da mãe e da criança”.

A situação em Portugal não foi tida em conta no estudo em causa. Portugal não fez parte da amostra, mas contactada pela TVI, a UNICEF Portugal sublinhou que os dados nacionais são positivos. Entre 1995 e 2014 o uso único do leite materno como fonte de alimentação para o bebé duplicou.  O aumento pela prática de aleitamento materno poderá estar ligado às ações desenvolvidas no âmbito do programa IHAB (Iniciativa Hospital Amigo dos Bebés) e outras medidas de promoção. “Também as alterações legislativas sobre o período de licença de maternidade implementadas em Portugal poderão ter tido uma influência positiva”, acrescenta a UNICEF de Portugal.

De acordo com as recomendações da UNICEF, os bebés devem ser amamentados até aos seis meses e combinar o leite materno até aos dois anos.  

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