Sotavento Algarvio e Baixo Alentejo em seca fraca - TVI

Sotavento Algarvio e Baixo Alentejo em seca fraca

Alentejo [Reuters]

Julho foi o segundo mais quente desde 1931, com médias de temperaturas máximas e mínimas muito superiores ao normal. Seca provoca, por isso, "dores de cabeça" em vários concelhos

As regiões do sotavento Algarvio e Baixo Alentejo encontravam-se no final de julho em situação de seca fraca, segundo informação disponível na página da Internet do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

De acordo com o índice meteorológico de seca, referido no Boletim Climatológico do IPMA referente ao mês de julho, verificou-se em relação a junho um ligeiro aumento da área em situação de seca na região do sotavento Algarvio e Baixo Alentejo, que representa agora 9,3 por cento do território de Portugal continental.

No final de junho não existia situação de seca em todo o território, exceto já numa pequena área do sotavento algarvio.

O IPMA classifica em nove classes o índice meteorológico de seca que varia entre “chuva extrema” e “seca extrema”.

Segundo dados do Boletim Climatológico do IPMA, o mês de julho foi o segundo mais quente desde 1931, com médias de temperaturas máximas e mínimas muito superiores ao normal.

O mês passado foi caracterizado pelo Instituto por valores médios muito altos da temperatura do ar, só ultrapassados em 1989.

O IPMA indica que o valor médio da temperatura do ar foi de 24,33 graus Celsius (em julho de 1989 foi de 24,63), mais de dois graus em relação ao valor médio no período 1971-2000.

Ainda segundo os números do IPMA, o valor médio da temperatura máxima do ar no mês passado foi de 32,19 graus celsius, o mais alto desde 1931.

O valor médio da temperatura mínima, 16,47 graus, também foi ligeiramente superior ao normal e foi o oitavo mais alto desde 1931, refere a Lusa.

A água a acabar nos furos

Mértola, no distrito de Beja, é um dos concelhos “a braços” com a falta de água, com o presidente da câmara, Jorge Rosa, a lembrar que “há dois anos que não chove nada de especial” e a reclamar do Governo “o estado de seca ou de seca extrema” para que possam ser adotadas medidas extraordinárias para apoiar os agricultores e produtores pecuários.

Ao nível do abastecimento às populações, a falta de água afeta, para já, “duas localidades”, com cerca de 100 residentes, onde os depósitos locais têm de ser abastecidos por autotanque.

“E temos mais duas localidades, com perto de 150 habitantes”, onde, de acordo com a monitorização dos furos efetuada pela câmara, “a água está a acabar”, relatou à Lusa.

Mas a situação “mais complicada”, segundo o autarca, prende-se com a agricultura. Tal como acontece com ribeiras e riachos, “boa parte das charcas e das barragens não tem água”. Há agricultores de “várias explorações agrícolas e pecuárias”, indicou, que têm de ir buscar água para dar de beber ao gado “ao rio Guadiana e a outras barragens com mais capacidade, a vários quilómetros e distância”, com depósitos transportados por tratores.

“É insustentável para eles e muito complicado fazer isto diariamente”, disse, referindo existirem outras explorações “em que a água deve acabar nas próximas semanas”.

Jorge Rosa defendeu que “se justifica, sem margem para dúvidas”, a adoção de medidas por parte do Ministério da Agricultura para “tentar minimizar este problema e ajudar os agricultores, para que possam dar água aos seus animais e continuar a sua atividade pecuária”.

“Temos estado em contacto com a Secretaria de Estado da Agricultura”, que “está a acompanhar a situação”, afirmou o autarca, manifestando-se esperançado de que, “nos próximos dias”, possa “haver algum desenvolvimento” que contribua para solucionar o problema.

Já no município de Almodôvar, por terem secado os furos locais de captação de água, estão a ser abastecidas por autotanque, semanalmente, oito localidades, num total que deve rondar os “300 a 400 habitantes”, disse o presidente da câmara, António Bota.

“Nem as pessoas se apercebem, porque os bombeiros vão com o autotanque da Proteção Civil Municipal, enchem os depósitos e todos têm água nas torneiras”, explicou.

Os bombeiros, afiançou, “vão dando ‘conta do recado’, mas se mais localidades ficarem sem água”, as autoridades locais “passam a não ter capacidade de resposta”, tornando-se necessária a colaboração da Águas Públicas do Alentejo, empresa gestora do sistema multimunicipal de abastecimento público, e da Proteção Civil distrital.

A autarquia, em parceria com estas entidades, definiu mesmo um plano com medidas para reduzir problemas de falta de água para abastecimento público, devido à seca, como a disponibilização de pontos de água potável: “Temos as coisas mais ou menos preparadas para entrar em ação, caso venha a ser necessário”, frisou António Bota.

Em Almodôvar não há tantas “dores de cabeça” como em Mértola, em relação à agricultura. “Além de terem sido instalados dois pontos de água onde os agricultores podem ir buscar a que precisam para dar de beber ao gado, existem inúmeros poços de água não potável, que servem para os animais”, explicou o autarca.

Ainda no distrito de Beja, o presidente da Câmara de Ourique, Marcelo Guerreiro, admitiu também à Lusa alguns “problemas de seca” no concelho, apesar de estarem “salvaguardadas todas as questões de abastecimento de água” às populações, a partir da barragem do Monte da Rocha.

“A agricultura é que está a ser afetada. A barragem ainda tem água suficiente para o abastecimento público, mas, se o nível de armazenamento baixar, poderá estar em risco a rega na área de regadio” local, afirmou, acrescentando que os produtores pecuários, apesar de terem furos, “estão a sentir problemas”, sendo previsível que estes “se agravem até ao final do verão”.

 

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