Covid-19: especialista pede que se acelere a vacinação nos mais jovens - TVI

Covid-19: especialista pede que se acelere a vacinação nos mais jovens

  • Agência Lusa
  • AG
  • 22 jul 2021, 16:39

José Artur Paiva fala em "perda de oportunidade" se isso não acontecer antes do ano letivo

O diretor de serviço de medicina intensiva do Hospital de São João, Porto, defendeu esta quinta-feira a aceleração da vacinação de jovens e adolescentes “idealmente antes do início do ano letivo”, medida acompanhada da manutenção de cuidados individuais de proteção.

A partir do momento em que há sistema imunológico maduro, seria vantajoso, para o conceito de benefício sanitário global, a vacinação desse grupo [jovens e adolescentes] idealmente antes do início do ano letivo. Acho que é uma perda de oportunidade extraordinária se não acontecer”, disse José Artur Paiva.

Em entrevista à agência Lusa, o médico, que pertence à Comissão de Acompanhamento da Resposta Nacional em Medicina Intensiva para a covid-19, não se quis “atrever” a apontar uma idade para início de vacinação por não ser, frisou, “nem pediatra, nem imunoalergologista”, mas aconselhou uma “consensualização” entre estas duas especialidades, “a bem da proteção global da sociedade”.

“Temos de pesar isso com dados do sistema imunológico dos jovens. Tem de haver um trabalho de consensualização entre a visão dos pediatras e a dos imunoalergologistas”, defendeu.

Defensor da ideia de que com a variante delta, “só é expectável atingir a imunidade de grupo com 85 a 90% da população portuguesa vacinada”, José Artur Paiva lembrou que Portugal tem “quase dois milhões de crianças e adolescentes”, uma população onde a transmissibilidade aumenta por fatores de sociabilização.

“É muito mais fácil fazer o isolamento profilático de um adulto ou de um idoso do que de uma criança, pelo que dentro do conceito da aquisição da imunidade de grupo era uma excelente ideia termos essa população vacinada até antes do ano escolar próximo”, sublinhou.

“E novas variantes vão existir sempre”, acrescentou.

Lembrando que decisões semelhantes “já foram tomadas em vários países europeus”, José Artur Paiva apontou a aceleração do processo de vacinação como uma das duas ferramentas “fundamentais” de combate à pandemia do novo coronavírus e acrescentou a manutenção de cuidados de proteção individual.

Para mim é claro que, até esse trajeto de aceleração vacinal concentrada estar concluído, devemos manter as medidas de proteção individual e de sociabilização (…). É o momento errado de reduzir isto. Pode ter consequências e dá uma comunicação distónica da que devemos ter”, defendeu.

O “isto” a que José Artur Paiva se refere são medidas como higiene das mãos, uso de máscara, distância de pelo menos dois metros, evitar aglomerados e bom arejamento de espaços.

O especialista lamentou que se confunda a necessidade de manutenção de medidas com confinamento ou falta de liberdade, afirmando que “confinar de novo, algo que ninguém deseja, até seria estrategicamente uma má ideia e uma ideia não implementável”, porque “a sociedade não consegue confinar novamente”.

Também crítico de anúncios que se assemelham ao decretar de um “freedom day”, em português “dia da liberdade”, José Artur Paiva admitiu que “a ausência de uma política europeia para o ‘end game’ [fim do jogo] da pandemia é algo que “claramente” o “preocupa”.

“A ideia de um ‘freedom day’ [dia da liberdade] não é uma boa ideia. O lado positivo dessa conversa é a sociedade discutir o ‘end game’ da pandemia. Acho um bom sinal, um sinal de maturidade e de esperança da sociedade (…), mas essa discussão devia ser feita à escala europeia (…). Não faz sentido que uns países estejam a abrir totalmente e outros ainda a fechar um pouco. Não penso que seja muito boa ideia cada país decretar um ‘freedom day’”, considerou.

À Lusa, o diretor de um serviço que cerca das 12:00 de hoje acolhia 15 doentes covid-19 em cuidados intensivos, dois deles com idades inferiores a 30 anos, e 45 doentes não covid, num total de 66 camas, frisou a ideia de que a pandemia não se ganha nas unidades críticas, mas na rua.

“Não é nos cuidados intensivos que ganhamos a guerra. Ganhamos a guerra na população, na transmissão viral”, concluiu.

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