2016, o ano recordista em calor - TVI

2016, o ano recordista em calor

  • Tomásia Sousa
  • Com Lusa
  • 30 dez 2016, 09:00
Bom tempo

Contas feitas, este pode ser o ano mais quente desde que há registos. Mais quente que 2015, que já tinha sido mais quente que 2014

Dois mil e dezasseis será, provavelmente, o ano mais quente de sempre. A previsão é da Organização Meteorológica Mundial (OMM), mas também por cá, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Portugal alinhou-se na tendência, a registar o segundo verão com mais calor. O balanço não será, por isso, de estranhar, depois de notícias que iam dando conta de que junho, julho e agosto eram os meses mais quentes desde que havia registo.

Julho e agosto bateram recordes, mas as temperaturas também estiveram anormalmente elevadas no inverno. Desde outubro de 2015 e ao longo de 11 meses consecutivos, verificaram-se recordes mensais de temperatura média global.

Por cá, a 8 de agosto, em Moura, Alentejo, os termómetros marcavam 44.8 graus. A onda de calor durou entre os dias 5 e 13 e fez do “querido mês de agosto” aquele em que o valor da temperatura máxima foi o mais elevado desde 1931.

A confirmação chegou pela NASA: este foi o agosto mais quente desde há 136 anos, quando se começaram a fazer os primeiros registos.

Mas o dia mais quente do ano foi mesmo a 6 de setembro, quando os valores médios da temperatura máxima atingiram os 38,6 graus centígrados e os da mínima 19,8 graus centígrados.

 

 

Com uma primavera classificada pelo IPMA como fria e extremamente chuvosa e um outono sem anormalidades, de acordo com a climatologista Fátima Espírito Santo, o ano passaria à história não fossem as temperaturas muito elevadas no inverno e anormalmente elevadas do verão.

Num balanço à Agência Lusa, a especialista do IPMA salientou que o verão de 2016 foi em Portugal continental o segundo mais quente desde 1931, só superado pelo de 2005, com o valor da temperatura média nos 23.03 graus, cerca de 1.76 graus acima do valor médio.

Desde 1931, seis dos 10 verões mais quentes ocorreram depois do ano 2000, sendo o verão de 2005 o mais quente em 86 anos. No verão de 2016 o valor médio da temperatura máxima do ar foi o valor mais alto desde 1931, 30.57ºC, 2.94 °C acima do valor médio”, diz o IPMA.

Mas a Organização Meteorológica Mundial (OMM) diz mais: 2016 poderá ser o ano mais quente de que há registo, segundo o secretário-geral da organização, Petteri Taalas.

Dados da NASA indicam que agosto foi o mês mais quente, na terra e nos mares, de que há registo, ou seja desde há 137 anos.

Mas, pior, os recordes de calor estão a ser batidos há 16 meses consecutivos (cada mês é mais quente do que o mês homólogo mais quente), o que nunca tinha acontecido, segundo a Agência Oceânica e da Atmosfera (NOAA) dos Estados Unidos.

Diz a NOAA que nos oito primeiros meses deste ano a temperatura à superfície dos oceanos foi de 14.1 graus celsius, mais 1,01 do que a média do século XX.

As notícias sobre recordes de resto acontecem consecutivamente. Setembro foi também o mais quente de sempre, segundo o Centro Goddard, da NASA, que já dito que maio tinha batido recordes, que junho também, que fenómenos de calor chegaram da Gronelândia (segundo estudos perdeu 2.700 mil milhões de toneladas de gelo entre 2003 e 2013), Finlândia ou Austrália, onde o primeiro semestre foi o mais quente de sempre.

 

Gavin Schmidt, do Centro Goddard, admite que 2017 possa ser menos quente, com o fim do El Nino (aumento da temperatura do oceano Pacífico) e o aparecimento de uma corrente fria do Pacífico, (La Nina, fenómeno oposto). Mas o ano que agora termina encaminha-se para bater um novo recorde de calor, que será o terceiro consecutivo (mais quente do que 2015, que fora mais quente do que 2014).

Porém, nota também o climatologista, o aumento da temperatura apenas se deve em parte a fenómenos como o el Nino, sendo especialmente devido à acumulação de gases com efeito de estufa, este ano com novos recordes de emissões.

E 2016 ficará também na história por isso. No verão boreal a superfície de gelo no Ártico alcançou extensões mínimas e a temperatura aumenta a um ritmo sem precedentes, segundo a Organização Mundial de Meteorologia.

Fátima Espírito Santo frisa a necessidade de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa, mas diz que mesmo que hipoteticamente elas parassem na totalidade até final do ano o aumento das temperaturas não deixaria de acontecer de imediato.

O tema das alterações climáticas não deixa, contudo, de estar na ordem do dia, no ano em que o Acordo de Paris entrou em vigor.

Adotado por 195 países na capital francesa, e ratificado pelo número suficiente de países que representem 55% das emissões mundiais de gases com efeito de estufa, o compromisso era o de não fazer subir a temperatura mais de dois graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Uma meta de arrefecimento que se espera seja cumprida.

Mas se a causa juntou pela primeira vez tantos países, várias foram as vozes que se continuaram a fazer ouvir. DiCaprio, que é narrador e entrevistador no documentário mais acutilante do ano sobre o aquecimento global, diz que é tempo de "parar com as desculpas". “Before the Flood”, gravado ao longo de três anos e lançado o mês passado pela National Geographic, mostra o ator e ativista ambiental à conversa com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o secretário-geral da ONU, Ban-Ki Moon, o Papa Francisco, entre outros, sobre o que pode ainda ser feito para inverter as alterações climáticas.

Contudo, e ainda que seja um importante passo, o  acordo de Paris não evita subida da temperatura. 

E se o assunto deve preocupar todos os cidadãos a especialista Fátima Espírito Santo é, ainda assim, otimista: a natureza saberá equilibrar-se.

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