Apito: escutas telefónicas «eram muito explícitas» - TVI

Apito: escutas telefónicas «eram muito explícitas»

Valentim Loureiro à entrada do Tribunal (Foto João Abreu Miranda/Lusa)

PJ refere que a nomeação de árbitros «obedecia a um plano definido»

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O inspector-chefe da PJ, António Gomes, disse esta manhã, durante a segunda sessão do julgamento do «Apito Dourado», que «pelo acompanhamento das intercepções telefónicas» os investigadores «apercebiam-se de que a nomeação de um determinado árbitro obedecia a um plano previamente definido».

António Gomes deu exemplos daquilo que classificou como «actos contrários às leis do jogo», praticados na época 2003/04, em partidas que envolveram o Gondomar Sport Clube (GSC).

Designadamente, a marcação de uma grande penalidade «que ninguém conseguiu perceber» no final do jogo Dragões Sandinenses/GSC, a 21.12.03. Essa situação «provocou grande revolta na assistência e levou à intervenção da GNR. O jogo esteve parado cerca de 10 minutos», contou ainda o inspector-chefe. A partida terminou empatada a uma bola, o que permitiu ao GSC subir de categoria.

Apito: arguidos não querem falar

No jogo (Pedras Rubras/GSC), António Gomes assistiu «à entrega de ouro por parte do senhor Fernando (ourives) ao senhor Oliveira (presidente do GSC)», que posteriormente seria oferecido aos árbitros.

«As escutas telefónicas eram muito explícitas em relação a esta questão do ouro», adiantou o inspector-chefe. «A vigilância presencial (havia um inspector no café) permitiu ouvir perfeitamente qual o conteúdos dos sacos e para que se destinavam».

Inquirido pela defesa de Valentim Loureiro, o responsável da PJ referiu nunca ter visto o major nos jogos que envolviam o GSC.

«Foram apreendidas listas na mão de várias pessoas»

«Pareceu-nos que o senhor Pinto de Sousa [na altura, presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol Profissional (FPFP)] designava os árbitros a pedido de José Luís Oliveira», muito embora «nem sempre assim fosse», referiu António Gomes, para logo a seguir acrescentar: «Está patente numa das escutas o mal-estar dos senhores Oliveira e Valentim Loureiro porque o senhor Pinto de Sousa não designava os árbitros que lhes interessava».

Mas por regra, os nomes eram indicados a Pinto de Sousa que, por sua vez, os transmitia «ao senhor Francisco Costa, que tinha o pelouro das nomeações na FPFP).

«Foram apreendidas listas (de árbitros) na mão de várias pessoas, onde estavam indicados os árbitros para esses jogos», acrescentou ainda o inspector.

Inquirido pelo advogado dos Dragões Sandinenses, que na qualidade de assistentes reclamam uma indemnização superior a três milhões de euros (3.078.777 euros), António Gomes disse, ainda, que o alegado favorecimento passava também pela não designação de observadores, «ou então eram os próprios árbitros que escolhiam os observadores».

Requerimento

O juiz indeferiu o requerimento do arguido Castro Neves, vereador e ex-responsável pelo departamento de futebol do GSC, para que o Ministério Público limitasse o rol de testemunhas a 20, de acordo com a lei; para que não considerasse como prova os relatos das diligências externas efectuadas pelos inspectores, bem como os recortes de notícias de jornais sobre as partidas. O presidente do colectivo considerou que se trata de meios auxiliares de prova que podem ser apreciados.

No mesmo requerimento, o advogado Pedro Alhinho questionou o valor probatório dos registos videográficos e da perícia à arbitragem aos jogos. O causídico solicitou que se considerasse irrelevante a prova pericial à arbitragem, dadas, designadamente, «as insuficiências dos registos videográficos».

Em alternativa, solicitou que os esclarecimentos aos peritos sejam antecedidos do visionamento integral dos videogramas que serviram de base à perícia, na presença dos peritos, devendo estes assinalar as jogadas referenciadas no seu relatório.

Sobre este pedido, o Ministério Público solicitou prazo para se pronunciar pelo que o juiz adiou a audição dos peritos Adelino Antunes e Jorge Coroado, prevista para hoje.
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