Leucemia não dá direito a reforma - TVI

Leucemia não dá direito a reforma

Escolas [arquivo]

Para Odete L. o melhor cenário é fazer quimioterapia toda a vida. Se parar, a leucemia crónica agrava-se, se a doença entrar em remissão total, vai acabar por voltar e aí será fatal. «É professora!», comentaram na Junta médica. Decisão: «Pedido indeferido. Não está absoluta e permanentemente incapaz» «Reforma só se estiver a morrer»

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Entre os tratamentos de quimioterapia, um cansaço extremo e permanente e uma doença que dura há quase dez anos e não tem cura, Odete L. decidiu, a conselho dos médicos que a acompanham, pedir a aposentação por invalidez. Esta professora de 46 anos tem uma leucemia linfocítica crónica. Isto equivale a dizer que a leucemia não tem cura e que terá de fazer tratamentos de quimioterapia toda a vida, caso contrário a doença evolui para uma leucemia mais grave. «Indeferido» - foi o veredicto da Caixa Geral de Aposentações.

A resposta ao pedido de aposentação chegou primeiro via telefone e esta terça-feira por escrito e não deixa grandes dúvidas: «Não se encontra absoluta e permanentemente incapaz para o exercício de funções». «Tenho a impressão de que eles não estão para me aturar porque sou muito nova», desabafa ao PortugalDiário. «Mas falei com a minha médica e vou pedir uma junta de revisão», garante.

«A senhora não quer é trabalhar»

Com cancro e obrigadas a trabalhar

Da angústia da incerteza ao choque da verdade

Professora num colégio particular há 19 anos, Odete L. fala do martírio que tem sido a sua vida nos últimos tempos: dois anos em exames, consultas permanentes e até internamentos sem conseguirem, no Hospital de Coimbra, fazer um diagnóstico; um primeiro diagnóstico em 2001, no Hospital da Figueira da Foz, com a prescrição de tratamento de quimioterapia; a confirmação de um linfoma com infiltração de medula óssea feita pelo IPO de Lisboa; o início de um tratamento experimental; a primeira baixa médica de nove meses; uma operação em 2005 para histeroctomia total; uma depressão; mais reavaliações médicas, sempre os mesmos sintomas; nova baixa médica no início de 2007; repouso absoluto, mais tratamentos com quimioterapia e cortisona.

Em Junho de 2007, como «as faltas ao serviço e as baixas médicas estavam a ser muitas» e os sintomas persistiam, decidiu enviar um pedido de aposentação por invalidez à Caixa Geral de Aposentações.

Dois a três minutos na junta médica da CGA

Em Setembro do ano passado, esta professora acabou um dos tratamentos e a doença ficou em remissão parcial. «Foi o meu mal», relembra. Em Outubro foi finalmente convocada para a junta médica da CGA em Aveiro. «Consegui estar no gabinete cerca de 2 a 3 minutos, pediram-me o relatório médico e perguntaram-me por que estava de baixa médica. O mais interessante foi a afirmação feita pela sra, não sei se doutora, se funcionária: «É professora», conta Odete L. ao PortugalDiário.

Esta professora tem síndroma vertiginoso, dores intensas nos ossos (até nos tornozelos), nas articulações e nos músculos e tem dias em que só consegue estar deitada e nem uma refeição consegue fazer, sente um cansaço extremo, audível e visível até enquanto está a falar, adenopatias cervicais bilaterais, sudorese e infecções virais constantes. Das três vezes que foi convocada pelas juntas medicas de verificação de baixa da segurança social foi considerada não apta para trabalhar.

Apesar de estar a receber actualmente 65 por cento do vencimento, por estar de baixa médica, Odete L. insiste que iria receber ainda menos se conseguisse obter a aposentação por invalidez. «Eles não percebem isso?».

«O barulho da escola atormenta-me a cabeça, sabe?, tenho de estar em sossego, senão não aguento». A esperança de Odete reside apenas na junta médica de revisão da CGA porque a doença, essa, não vai desaparecer. Aliás, adianta, «quando há uma remissão total da doença, ela acaba sempre por voltar e quando volta é fatal».
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