As pessoas não podem viver com uma lixeira à porta. Não foi isto que inicialmente nos foi transmitido”, quem o diz é Luís de Sousa, presidente da Câmara Municipal da Azambuja, que, em entrevista à TVI24, admite que o licenciamento do aterro de resíduos industriais, gerido pela Triaza, está em retrocesso.
As denúncias em relação ao espaço têm-se multiplicado e, nas últimas semanas, vários habitantes queixam-se de dificuldades respiratórias provocadas por uma vaga de cinzas, poeiras e mau cheiro.
Fazemos ginástica ou damos uma corrida na Mata das Virtudes e, no final, ficamos sem ar e com um ardor na garganta”, afirma António Pires, denunciando ainda o depósito de amianto misturado com resíduos biodegradáveis na única célula do aterro, o que por lei não é permitido.
Em imagens enviadas à TVI, é possível ver como no aterro são depositados sacos de amianto, que tem sido retirado de edifícios escolares por conter fibras cancerígenas, com várias toneladas de outros resíduos.
O contacto entre os sacos de amianto e outros resíduos facilmente provoca a quebra dos invólucros de plástico devido ao fluxo de biogás e lixiviantes, explica fonte do Movimento de Oposição ao Aterro da Azambuja (MOAA).
Além disso, a mesma associação explicou à TVI que existe “um furo de captação de água à volta de 300 metros do aterro” e que isso incorre num perigo drástico ambiental e de saúde pública.
Pediram para abrir uma segunda célula, mas nós não autorizámos e a empresa decidiu colocou a Câmara em tribunal”, explica o presidente da autarquia que já contratou o serviço de dois escritórios de advogados para rever o licenciamento do aterro.
Caso a expansão se concretize, “podemos estar a olhar para um aumento de seis vezes mais do tamanho do aterro. Isto num momento em que há certas horas por dia em que simplesmente não podemos abrir as janelas”, diz à TVI24 Margarida Dotti do MOAA.
O MOAA explica ainda que no dia 26 de maio foram depositadas mais de mil toneladas de lixo numa célula que tem capacidade para 212 mil toneladas. “Estão a encher a grande velocidade para pressionar a câmara”.
É um cheiro nauseabundo e tóxico. Milhares de pássaros chafurdam no lixo. Parece uma imagem do terceiro mundo”, afirma Margarida, sublinhando que quando o vento está na direção da vila, “o cheiro e as poeiras sentem-se de tal forma que não podemos sair à rua”.
Há pessoas que tiveram de largar as casas por não aguentarem lá viver”, afirma.
Em nota técnica, a Agência Portuguesa do Ambiente refere que a deposição de amianto em aterros é possível desde que “os mesmos não sejam depositados em células destinadas a resíduos não perigosos biodegradáveis”, algo que o presidente da Câmara admite estar a acontecer.
Luís de Souza afirma que as autoridades estão a acompanhar a situação e prevê dois cenários: o encerramento do aterro, ou a não renovação da licença da empresa que gere o aterro.