«Apito»: Pinto da Costa absolvido no caso do envelope - TVI

«Apito»: Pinto da Costa absolvido no caso do envelope

Juíza diz que depoimento de Carolina «não merece qualquer credibilidade»

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Pinto da Costa, o empresário António Araújo e o árbitro Augusto Duarte foram esta tarde absolvidos no chamado «caso do envelope», em que o presidente portista estava acusado de entregar 2500 euros ao juiz da partida Beira/Mar-F.C do Porto, realizado a 18 de Abril de 2004.

O Tribunal de Gaia não considerou provados os factos centrais da acusação, designadamente, que Pinto da Costa e António Araújo tivessem pedido ao árbitro Augusto Duarte para beneficiar o F.C. do Porto, ou que o presidente portista tivesse entregue ao juiz da partida um envelope com 2500 euros como «prenda». Tão pouco deu como assente que o árbitro tivesse favorecido a equipa do Dragão durante a partida que terminou empatada. Os crimes de corrupção desportiva caem por terra.

A juíza Catarina Ribeiro de Almeida concluiu ainda que não ficou provado o pedido de benefício para o F.C. do Porto e, na leitura da sentença, destacou as contradições de Carolina Salgado, duvidando mesmo que a ex-companheira de Pinto da Costa tenha assistido ao encontro entre os três arguidos na casa do presidente do F. C. do Porto, na antevéspera do jogo. «Tantas são as incoerências e as discrepâncias nos vários depoimentos prestados pela testemunha que nos permitimos questionar a que terá assistido».

De acordo com a magistrada, Carolina «altera consecutivamente a versão dos factos» justificando-se com «lapsos» e «vai avivando a memória à medida que o tempo passa», «revelando incoerências e discrepâncias». Com base nestes argumentos, o tribunal considera que «não pode o referido depoimento merecer qualquer credibilidade».

Na sentença de 52 páginas, a juíza dá exemplos dessas discrepâncias. Na audiência, a testemunha referiu ter assistido à conversa entre os arguidos, excluindo os quatro minutos em que se ausentou para preparar os cafés. Mas na fase instrutória, afirmou ter estado «o tempo todo» no corredor a ouvir a conversa.

Além disso, regista o facto de em 2006, a testemunha ter afirmado que Pinto da Costa entregou ao árbitro um envelope com uma quantia «entre 2500 e 3000 mil euros» e já em 2007 ter declarado com certeza que se tratava de 2500 euros porque o presidente portista lho teria dito. Trata-se, segundo a juíza, «de um testemunho norteado pelo interesse na condenação».

Em sete meses de escutas telefónicas a Pinto da Costa, a juíza destaca o registo de apenas dois casos (Beira-Mar/F.C. do Porto e F.C. do Porto/Estrela da Amadora), sendo que o segundo foi alvo de arquivamento e de extracção de certidão contra Carolina por falsas declarações.

Na versão dos arguidos, o árbitro Augusto Duarte deslocou-se a casa do presidente portista para lhe pedir que intercedesse junto do seu amigo Pinto de Sousa, presidente do Conselho de Arbitragem, para saber se Azevedo Duarte, pai do árbitro, e vogal daquele Conselho, ia a Lisboa em trabalho ou se eventualmente mantinha uma relação extraconjugal.



«Este encontro pode levantar suspeitas e revela-se, pelo menos, imprudente», mas não é suficiente para concluir que nele foi pedido ao árbitro que beneficiasse o clube do Dragão, refere a juíza.

«Chegados a este ponto, diremos que, não tendo qualquer outra testemunha presenciado os factos e tendo os arguidos negado a sua prática, regressamos ao ponto de partida que determinou o arquivamento inicial dos autos por parte do Ministério Público de Vila Nova de Gaia». Isto, antes de ter sido reaberto pela equipa da procuradora-geral adjunta Maria José Morgado.

O Ministério Público vai recorrer da sentença, de acordo com a instrução do procurador-geral da República, que determina o recurso de todas as decisões desfavoráveis à acusação.

Refira-se que o procurador já recorreu para a Relação do Porto do despacho da juíza que indeferiu a junção aos autos das últimas declarações de Ana Salgado, irmã de Carolina, em que aquela acusa Pinto da Costa de lhe ter pago para descredibilizar a irmã.
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