Médico agredido por recusar baixa: "A consulta durou 20 minutos, metade foram agressões" - TVI

Médico agredido por recusar baixa: "A consulta durou 20 minutos, metade foram agressões"

PSP foi chamada ao centro de saúde de Moscavide

Um médico, de 65 anos, e um utente, de 20, envolveram-se em confrontos depois do clínico se ter recusado a passar uma baixa médica ao paciente no Centro de Saúde de Moscavide, Lisboa, confirmou fonte do Comando Metropolitano de Lisboa à TVI24. O incidente aconteceu na tarde do dia 31 de dezembro.

De acordo com a mesma fonte, "o médico não quis passar baixa ao utente e os dois envolveram-se numa desordem mútua até serem separados por um vigilante".

A PSP foi chamada ao local, tendo identificado os dois envolvidos. 

Em declarações à TVI, o médico contou que o utente "esteve de baixa até dia 25, não cuidou de a renovar nem no dia nem no dia seguinte" e que, por isso, se recusou a renovar a baixa.

"E ele reagiu mal, houve discussão, a namorada meteu-se pelo meio. Começou por erguer o teclado e atirá-lo à secretária, partindo-o parcialmente, ao mesmo bateu no meu telemóvel que caiu ao chão e se partiu. Quando me baixei para apanhar o telemóvel, ao levantar-me, deu-me um murro no olho direito... sei lá. Foram vários minutos no total da duração da consulta, ela durou 20 minutos, metade do tempo foi já depois de ter começado as agressões. A namorada agarrava-me os braços e chegou a agarrar-me pelo pescoço e ele estava por trás, com pernas e mãos livres, para me agredir. Tenho o olho direito inchado, levei um pontapé numa costela que suspeitamos que está partida e foi mais ou menos isso. Depois lá consegui sair para o corredor e pedir ajuda", contou.

Apesar dos confrontos, nenhum dos envolvidos precisou de receber tratamento hospitalar.

O caso foi remetido ao Ministério Público.

Recorde-se que, ainda na semana passada, uma médica foi agredida por uma utente no Hospital de São Bernardo, em Setúbal.  

Sindicato exige condições de segurança para médicos

O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) lamentou mais um caso de agressão a um médico, instando a ministra da Saúde a criar condições de segurança para estes profissionais de modo a diminuírem o número de casos.

Em declarações hoje à agência Lusa, o secretário-geral sublinhou que algo tem de ser feito para diminuir as agressões aos profissionais de saúde.

“A nossa pergunta é muito simples: O que é que a Senhora ministra da Saúde está a pensar fazer em relação a esta matéria? Não adiantam declarações vagas como a que teve a semana passada de solidariedade no geral [aquando da agressão a uma médica no Hospital de Setúbal na semana passada]”, disse Roque da Cunha.

No entendimento de Roque da Cunha, é preciso saber especificamente o que vai fazer Marta Temido para diminuir este tipo de situação por um lado e, por outro, criar condições para dar mais segurança aos profissionais.

“Na segunda-feira passada entregámos à Senhora Procuradora-Geral da República um pedido para intervenção, dado tratar-se de um crime público e também para que a procuradoria possa ter alguma intervenção nesta matéria”, contou.

De acordo com o secretário-geral do SIM, há um sentimento de impunidade muitíssimo grande.

“Tanto quanto é do nosso conhecimento nenhum dos agressores teve qualquer medida de coação, nem sequer foi presente a um juiz. Por isso, é preciso dizer basta e perguntar ao ministério o que pensa fazer em relação a esta matéria”, disse.

Para Roque da Cunha, tem de se agilizar a queixa, que tem de ser consequente com a forma como as queixas tem resposta.

“Porque incomoda as idas à polícia, as declarações, a recolha de testemunhas. Para um crime público parece-me excessivo e fundamental que os poderes públicos ajam, não só o Ministério Público, mas também a Procuradoria-Geral da República”, realçou.

O secretário-geral do SIM referiu que o sindicato tem conhecimento de que há dezenas de agressões verbais e às vezes físicas, e por devido a burocracias, para evitar incómodos, e pela lentidão da justiça não vêm ao conhecimento público.

“As pessoas têm outras maneiras de protestar de considerar que o comportamento de um médico poderá não ser o mais correto, mas a questão da segurança física é essencial desde a disposição dos próprios gabinetes até à criação de condições para de alguma maneira limitar, saber gerir os conflitos”, disse.

 

Mais de 600 incidentes de violência no 1.º semestre de 2019

Mais de 600 incidentes de violência contra profissionais de saúde foram registados nos primeiros seis meses de 2019, sendo que a maioria das notificações respeitam a assédio moral ou violência verbal.

Os dados disponibilizados pela Direção-geral da Saúde mostram um acumulado ao longo dos anos, pelo menos desde 2013, de 4.893 notificações de violência contra profissionais de saúde até fim de junho de 2019.

Entre o final de 2018 e julho de 2019 registou-se um acréscimo de 637 incidentes de violência.

Assim, durante o primeiro semestre de 2019, a Direção-geral da Saúde (DGS) recebeu uma média mensal superior a 100 casos de violência contra os profissionais de saúde.

Segundo os dados disponíveis no ‘site’ da DGS, dos mais de 4.800 casos notificados ao longo dos anos, 57% respeitam a assédio moral, 20% a casos de violência verbal e 13% de violência física.

Os enfermeiros são o grupo profissional que é mais frequentemente vítima de incidentes de violência, com mais de metade das situações registadas e comunicadas à DGS. Seguem-se os médicos, com 27% dos casos.

Na maioria dos casos, o agressor é um utente ou doente ou seu familiar, havendo também casos de profissionais que agridem outros profissionais.

ARS repudia agressão a médico

A Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo repudiou a agressão a um médico do centro de saúde de Moscavide ocorrida na tarde de terça-feira, manifestando apoio e solidariedade.

“A ARSLVT repudia veementemente este e todos os atos de violência perpetrados contra profissionais de saúde. Qualquer ato de violência é condenável, pelo que agressões em centros de saúde e hospitais motivam especial preocupação pelo facto de as vítimas serem profissionais que todos os dias dão o seu melhor pela saúde e bem-estar dos utentes”, refere uma nota da administração regional hoje divulgada.

A ARS garante que tem prestado e “vai continuar a prestar todo o apoio e solidariedade necessários aos profissionais vítimas de agressão”.

A administração regional garante ainda que vai pugnar para que “a violência nas unidades de saúde não aconteça”.

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