Os crimes (imperfeitos) que marcaram o ano de 2016 - TVI

Os crimes (imperfeitos) que marcaram o ano de 2016

"Assassino!"

Pedro Dias foi o caso criminal mais mediático do ano, com direito a uma detenção em direto na televisão. Esteve 29 dias a monte e os crimes pelos quais é suspeito chocaram o país. Mas outros episódios marcaram a justiça em Portugal

Outubro de 2016 vê acontecer um dos crimes que mais chocou o país em 2016. Não só porque duas pessoas foram mortas, alegadamente, pelo mesmo suspeito: um militar da GNR e um civil. Não só porque mais duas pessoas ficaram feridas, uma delas com gravidade: outro militar da GNR e uma mulher. Mas também pela fuga encetada por um homem, que se tornou na pessoa mais procurada do país. Pedro Dias tornou-se o protagonista de uma realidade que, algumas vezes, superou a ficção.

Esteve 29 dias a monte, até decidir entregar-se às autoridades na noite de 8 de novembro. E, antes de o fazer, ainda deu uma entrevista a um jornal e a um canal de televisão. Tendo sido levado pela Polícia Judiciária, com imagens transmitidas em direto.

Por duas vezes, quase que foi apanhado pelas autoridades, mas conseguiu sempre fugir. Chegou a ser supostamente visto em Espanha, mas nunca deixou Portugal.

Pedro Dias, também conhecido como “Piloto”, está em prisão preventiva, no estabelecimento prisional de máxima segurança de Monsanto, em Lisboa. Negou ter matado qualquer pessoa ou sequer ter praticado qualquer crime, durante o tempo em que foi procurado pelas autoridades.

Sobre o que realmente aconteceu na madrugada de 11 de outubro pouco se sabe. Mas o GNR que sobreviveu ao encontro com Pedro Dias já foi ouvido na investigação e, segundo informações recolhidas pela TVI, garante que este queria matar, pelo menos, mais um militar da Guarda Nacional Republicana. 

O militar ferido disse ainda que foi sequestrado, amarrado a uma árvore e baleado pelo suspeito. Não era suposto ter sobrevivido, mas ainda convenceu o suspeito a não ir ao posto da GNR atrás de mais um militar. Antes, terá sido obrigado a ligar a pedir informações sobre dois homens que Pedro Dias sabia estarem a ser procurados por roubo. O próximo alvo seria o militar que recebeu a chamada com os nomes dos homens a quem, aparentemente, “Piloto” queria responsabilizar pelo sucedido.

Levou o carro da GNR e abandonou-o a cinco quilómetros do lugar do primeiro crime. Na bagageira, estaria o militar morto e, a pouca distância, o militar que Pedro Dias achava ter matado, mas que assistiu a tudo. Obrigou um casal a parar o carro na Estrada Nacional 229. Atingidos a tiro, o homem teve morte imediata e a mulher ficou gravemente ferida e ainda luta pela vida.

Poucos dias depois, mais duas agressões. Em Moldes, Arouca. Apanhado pela filha da proprietária de uma casa que se encontrava fechada, amarrou-a. Um vizinho que foi em sua ajuda também não escapou a Pedro Dias. Ambos sobreviveram.

Horas depois, é avistado e perseguido pela GNR na vila de Constantim, em Vila Real. A sorte parece estar do lado de Pedro Dias e a manobra de estacionamento de um popular, a tapar o caminho das autoridades, permite nova fuga.

Cansado de se esconder, temeu “pela vida” e entregou-se. Mas escolheu os termos. Durante quase um mês, não foi uma série televisiva que prendeu as atenções dos portugueses ao pequeno ecrã. Foi um caso real, com contornos violentos e que marcou, sem dúvida, o ano de 2016.

 

A mãe suspeita de afogar as filhas

Antes de Pedro Dias, outros crimes chocaram o país em 2016. A 15 de fevereiro, alguém vê uma mulher a sair da água na zona da praia de Caxias, em Oeiras, aparentemente desesperada, dizendo que as filhas tinham caído na água.

Horas depois, o corpo de uma menina de 19 meses foi recuperado sem vida. O da irmã, mais velha, de quatro anos, continuava por encontrar. Seis dias depois, dava à costa, muito perto do local de onde tinha sido encontrada o da bebé.

Depois de aberta uma investigação a mãe foi constituída arguida, ficou em prisão preventiva, e, seis meses depois, acusada pelo Ministério Público de dois crimes de “homicídio qualificado”.

Corria na justiça um processo de divórcio litigioso entre a mãe e o pai das meninas. Na altura, autoridades e familiares confirmaram um quadro acentuado “de depressão” por parte da progenitora.

O crime sem corpo em Braga

Um empresário de Braga foi raptado em março, quando estava acompanhado da filha menor. O corpo nunca foi encontrado, e nem poderia. O Ministério Público acusou sete pessoas da morte do empresário. Os suspeitos terão dissolvido o seu cadáver em 500 litros de ácido sulfúrico.

Segundo a acusação, pretendiam impedir o assassinado de "reverter um estratagema", que tinha permitido que o património dos pais da vítima tivesse sido passado para uma sociedade controlada por dois dos arguidos.

Todos os sete arguidos, entre os quais dois advogados, estão em prisão preventiva.

Ponte de Sor: jovem, alegamente, agredido por filhos de diplomata iraquiano

Mas outro crime marcou o ano e não chocou só o país. Portugal voltou a ser notícia por uma brutal agressão.

No dia 17 de agosto, um adolescente de 15 anos foi brutalmente agredido por dois jovens, em Ponte de Sor, e deixado inanimado no chão da rua. A vítima é Ruben Cavaco. Os agressores, os filhos gémeos do embaixador do Iraque, em Lisboa. E, por isso mesmo, têm imunidade diplomática.

Um desentendimento junto a um bar, na cidade alentejana, acabou da pior maneira para Ruben Cavaco. Os alegados suspeitos esperaram que o jovem ficasse sozinho e agrediram-no com violência, horas depois, chegando mesmo a atirar o próprio carro para cima do menor. 

A equipa do INEM que o assistiu disse que "apresentava múltiplas fraturas, escoriações e perda de conhecimento". Foi transportado de helicóptero para o Hospital de Santa Maria e teve alta nos primeiros dias de setembro.

Os filhos do diplomata iraquiano estiveram à guarda das autoridades algumas horas, mas foram libertados devido à imunidade diplomática. Haider e Ridha, os gémeos de 17 anos, também foram ouvidos pela Polícia Judiciária, mas nada mais. 

Enquanto não for levantada a imunidade diplomática, os suspeitos não podem ser constituídos arguidos na investigação, aberta ao caso, e que ainda decorre. E, por enquanto, as autoridades iraquianas negaram o pedido da Justiça portuguesa. 

No último mês do ano, Portugal renovou o pedido de levantamento da imunidade diplomática e deu um prazo de 20 dias, que ainda decorre. A meio de dezembro soube-se que os jovens deixaram o país, com a família, e rumaram à Turquia. A embaixada iraquiana informou depois o Executivo português de que o regresso dos irmãos estava marcado para 5 de janeiro. 

O espião "apanhado" em Itália a vender segredos da NATO

Não sendo inédito um espião vender informação, o agente do SIS, Frederico Carvalhão Gil, foi apanhado, em Itália, em flagrante, a vender informações da NATO a um espião russo. O tipo de informação envolvida tornou este caso um incidente de relevo. Decorria o mês de maio.

O espião já está em Portugal e já foi ouvido pelas autoridades. A investigação ainda decorre e foi declarada de “especial complexidade”. Frederico Carvalhão Gil está em prisão preventiva.

Em causa estão crimes de espionagem, violação de segredo de Estado, corrupção e branqueamento relacionados com suspeitas de transmissão de informações, a troco de dinheiro, por parte do funcionário do SIS ao agente dos serviços de informações russos.

Um ex-procurador do MP em prisão preventiva

Mas a justiça nacional viu, em 2016, acontecer um processo inédito. Um ex-procurador do Ministério Público, do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), foi detido pela Judiciária por suspeitas de ter recebido luvas superiores a um milhão de euros para encerrar processos relacionados com altas figuras de Angola.

Orlando Figueira foi detido e ficou em prisão preventiva por suspeitas de corrupção passiva, branqueamento de capitais e falsidade informática.

Chegou a ser avançado que o vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, estaria indiciado por corrupção ativa no âmbito do processo, mas a Procuradoria-Geral da República esclareceu que este “não tinha sido constituído arguido”.

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