«São mortes desnecessárias. E isso não é aceitável. Se é a fatura que temos que pagar então não devíamos estar a pagar esta fatura porque não se pode cortar na saúde para além de um determinado limite. Falava-se muito que existia muito desperdício, que se ia combater o desperdício, afinal não se está a cortar no desperdício, está-se de facto a cortar no músculo e cortou-se até ao osso. E a verdade é que se cortou em todos os sectores e portanto o sistema perdeu capacidade de resposta. Cortou-se nos recursos humanos, os recursos humanos das urgências são inferiores naquilo que é essencial e são inferiores em médicos, em enfermeiros», disse o bastonário.
O ministro da Saúde atribuiu, esta terça-feira, as eventuais falhas no atendimento aos utentes do SNS à saída de mais de 600 médicos.
«Nós sobretudo estamos a pagar uma fatura de um conjunto de reformas abruptas. Por exemplo, no ano passado reformaram-se 600 médicos, uma grande parte deste número são reformas antecipadas. Há aqui a necessidade, nomeadamente, para certas especialidades, de ter atempadamente previsto, não só que íamos ter reformas de profissionais, como eventualmente ter acesso àquelas especialidades», disse o ministro.
Mas o bastonário vê outra razão para a saída de médicos do Serviço Nacional de Saúde.
«Não há médicos no desemprego, mas estão a emigrar, ou seja, o fenómeno que nós estamos a assistir neste momento é emigração de centenas de médicos e essa emigração foi desvalorizada pelo senhor secretário de Estado por motivos óbvios, porque de alguma forma incomoda a filosofia e a justificação do governo que é difícil contratar médicos: não é verdade», disse José Manuel Silva.
O bastonário reforçou ainda que o problema não está na falta de médicos, mas sim no valor que está a ser pago aos clínicos.
«Houve uma desorganização do sistema que fez com que a capacidade de resposta fosse diminuída por razões economicistas. Há médicos para contratar para o Serviço Nacional de Saúde, há médicos que podem fazer mais horas no SNS, mas pelos valores que estão a ser pagos, eu tenho que sublinhar que um jovem especialista médico é contratado com um vencimento que corresponde a oito euros à hora limpos e é evidente que por este valor os médicos não se disponibilizam», disse o bastonário, sublinhado que «os profissionais de saúde, todos no serviço de urgência, estão sujeitos a um stress tremendo».
Esta terça-feira, o secretário de Estado da Saúde negou que o país viva um «período de emergência ou caos generalizado» devido à gripe e pediu para que não se associe mortalidade com crise ou cortes na saúde.
Apesar de tanto o secretário de Estado como o ministro da Saúde desvalorizarem os casos de óbitos nas urgências, o governo anunciou mais medidas para combater o elevado número de doentes que procuram os serviços. Assim, o governo autorizou a contratação de mais médicos e enfermeiros, inclusive reformados, e admitiu a hipótese das urgências dos hospitais privados atenderem doentes enviados pelos hospitais públicos.