Falhas nas urgências causadas por «cortes até ao osso» - TVI

Falhas nas urgências causadas por «cortes até ao osso»

Bastonário da Ordem dos Médicos responde ao ministro da Saúde, na TVI24, afirmando que os utentes do SNS não deviam estar a pagar a fatura de «mortes desnecessárias». José Manuel Silva lembra que não se pode «cortar na saúde para além de um limite» e que os cortes foram «até ao osso». O governo recusou admitir «caos generalizado ou emergência» nas urgências

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O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, respondeu esta terça-feira, ao ministro da Saúde que defendeu que as falhas nas urgências são a «fatura a pagar» pelos médicos que pediram reformas antecipadas «abruptas». Na TVI24, o bastonário defendeu que os portugueses não deviam de estar a pagar esta fatura e que os problemas nas urgências são fruto dos «cortes até ao osso» na saúde.
 

«São mortes desnecessárias. E isso não é aceitável. Se é a fatura que temos que pagar então não devíamos estar a pagar esta fatura porque não se pode cortar na saúde para além de um determinado limite. Falava-se muito que existia muito desperdício, que se ia combater o desperdício, afinal não se está a cortar no desperdício, está-se de facto a cortar no músculo e cortou-se até ao osso. E a verdade é que se cortou em todos os sectores e portanto o sistema perdeu capacidade de resposta. Cortou-se nos recursos humanos, os recursos humanos das urgências são inferiores naquilo que é essencial e são inferiores em médicos, em enfermeiros», disse o bastonário.


O ministro da Saúde atribuiu, esta terça-feira, as eventuais falhas no atendimento aos utentes do SNS à saída de mais de 600 médicos.

«Nós sobretudo estamos a pagar uma fatura de um conjunto de reformas abruptas. Por exemplo, no ano passado reformaram-se 600 médicos, uma grande parte deste número são reformas antecipadas. Há aqui a necessidade, nomeadamente, para certas especialidades, de ter atempadamente previsto, não só que íamos ter reformas de profissionais, como eventualmente ter acesso àquelas especialidades», disse o ministro.

 
Mas o bastonário vê outra razão para a saída de médicos do Serviço Nacional de Saúde.
 

«Não há médicos no desemprego, mas estão a emigrar, ou seja, o fenómeno que nós estamos a assistir neste momento é emigração de centenas de médicos e essa emigração foi desvalorizada pelo senhor secretário de Estado por motivos óbvios, porque de alguma forma incomoda a filosofia e a justificação do governo que é difícil contratar médicos: não é verdade», disse José Manuel Silva.

 
O bastonário reforçou ainda que o problema não está na falta de médicos, mas sim no valor que está a ser pago aos clínicos.

 «Houve uma desorganização do sistema que fez com que a capacidade de resposta fosse diminuída por razões economicistas. Há médicos para contratar para o Serviço Nacional de Saúde, há médicos que podem fazer mais horas no SNS, mas pelos valores que estão a ser pagos, eu tenho que sublinhar que um jovem especialista médico é contratado com um vencimento que corresponde a oito euros à hora limpos e é evidente que por este valor os médicos não se disponibilizam», disse o bastonário, sublinhado que «os profissionais de saúde, todos no serviço de urgência, estão sujeitos a um stress tremendo».

 
Esta terça-feira, o secretário de Estado da Saúde negou que o país viva um «período de emergência ou caos generalizado»
devido à gripe e pediu para que não se associe mortalidade com crise ou cortes na saúde. 

Apesar de tanto o secretário de Estado como o ministro da Saúde desvalorizarem os casos de óbitos nas urgências, o governo anunciou mais medidas para combater o elevado número de doentes que procuram os serviços. Assim, o governo autorizou a contratação de mais médicos e enfermeiros, inclusive reformados, e admitiu a hipótese das urgências dos hospitais privados atenderem doentes enviados pelos hospitais públicos. 
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