O vídeo foi divulgado na última terça-feira à noite nas redes sociais, incluindo o canal de YouTube da Comissão de Praxes, que, entretanto, deixou de estar ativo. As imagens foram removidas das diferentes plataformas, mas muitos utilizadores conseguiram retirá-lo e divulgaram excertos no Facebook e no Instagram.
Nas imagens é possível ver vários estudantes vestidos de preto, com as caras pintadas de negro (blackface), latas ao pescoço e nas mãos e saias feitas de ráfia. Os gritos são de um volume tão elevado que tornam as palavras quase impercetíveis, mas é possível ouvir os supostos caloiros saudarem os líderes das associações estudantis da Universidade do Minho e alguém tratar os supostos caloiros por “bestas”.
O vídeo faz parte da latada virtual do curso de Biologia e Geologia da Universidade do Minho. A polémica não tardou a instalar-se, já que pintar a cara de negro tornou-se sinónimo de uma atitude racista e tomada como forma de satirizar a comunidade negra.
As imagens foram feitas para comemorar a tradicional latada, que este ano não se realizou de forma física, por causa da pandemia, mas que os estudantes quiseram assinalar de uma forma virtual.
Quarentena Académica condena imagens
O grupo Quarentena Académica, uma plataforma de apoio a estudantes em tempo de pandemia, veio a público repudiar a divulgação das imagens, que classificou de “racistas”. Na sua página do Instagram, a plataforma lançou um apelo à Universidade do Minho para que investiguem a situação.
Repudiamos esta situação, bem como apelamos a que a Reitoria da Universidade do Minho e restantes entidades competentes averiguem esta situação, tomando todas as medidas necessárias”, disse a plataforma, num comunicado divulgado nas redes sociais.
Universidade do Minho diz-se “surpreendida” e promete investigar
A Reitoria da Universidade do Minho também já reagiu. Num comunicado a que a TVI24 teve acesso, “reage com profundo desagrado e veemente condenação face a este tipo de iniciativas, ofensivas da dignidade humana”.
A Universidade do Minho vai acionar, de imediato, os seus mecanismos internos, visando averiguar os contornos da iniciativa e os seus responsáveis, e procederá de acordo com o previsto nos seus regulamentos disciplinares. Os tempos de distanciamento físico não podem, em caso momento, significar que os estudantes se distanciem dos valores, princípios e missão da Universidade do Minho”, pode ler-se no documento.
BE quer ouvir reitor da Universidade do Minho no Parlamento
O vídeo foi também já criticado pelo Bloco de Esquerda, que quer levar o reitor da Universidade, Rui Vieira de Castro, ao Parlamento. O partido considera o uso de blackface uma atitude “claramente racista” e salienta que “este tipo de práticas não pode ser aceite no ensino superior público nem numa sociedade democrática e tolerante”.
Ao abrigo das disposições regimentais e constitucionais, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda requer a audição do reitor da Universidade do Minho, no sentido de apurar os mecanismos já postos em causa para investigar o caso e debater que outras formas, mais preventivas, podem ser tomadas para combater o abuso”, disse o partido em comunicado enviado à TVI24.
As imagens desagradaram mesmo ao órgão responsável pelas praxes na Universidade do Minho, o Cabido dos Cardeais, e também pela Associação Académica.
Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) manifestou, em comunicado divulgado na sua página da Internet, “o seu completo repúdio por todos e quaisquer comportamentos discriminatórios, que atentem aos valores do respeito, igualdade e dignidade humana”.
Aquele órgão académico considerou ainda que o vídeo manifestava “atitudes discriminatórias”, que “não representam os valores defendidos pela comunidade académica minhota”.