Tudo o que não quer saber sobre as bolachas maria e de água e sal - TVI

Tudo o que não quer saber sobre as bolachas maria e de água e sal

Bolachas

Têm sal, gordura e açúcar a mais e pouca qualidade nutricional, segundo um estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que recomenda a reformulação destes alimentos

A composição das bolachas tipo Maria e de água e sal deve ser reformulada, segundo o último estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que defende a criação de “metas que permitam a reformulação gradual destes alimentos”, devido ao aumento de doenças crónicas, como a obesidade, a diabetes e a hipertensão arterial.

A indústria deve, por isso, melhorar a qualidade nutricional de um dos alimentos mais consumidos pelos portugueses, independentemente da faixa etária, defende o Instituto, que avaliou “a qualidade nutricional das bolachas tipo Maria e de água e sal, com base nos teores de gordura total, sal e composição em ácidos gordos” para “estimar o potencial impacto na saúde da população”.

Para chegar a esta conclusão, foram analisadas várias marcas de bolachas, incluindo de marca branca, sem glúten ou sem açúcar. 

“Em 2015 foram adquiridos, em grandes superfícies da região de Lisboa, 15 tipos de bolachas (8 marcas de bolachas de água e sal e 7 marcas de bolachas tipo Maria). As amostras foram selecionadas de acordo com a disponibilidade no mercado, sem deixar de incluir produtos de marca branca, de marca comercial, sem glúten e sem açúcar. Para cada marca, foram adquiridas, no mínimo, 3 embalagens pertencentes a lotes diferentes, e sempre que possível provenientes de diferentes superfícies comerciais. Nas amostras foram avaliados o teor de gordura total, o teor de sal e a composição em ácidos gordos. Para estimar o seu contributo nutricional, utilizaram-se as doses de referência do Regulamento (UE) n.º 1169/2011 e da Organização Mundial de Saúde (OMS), e as porções referidas na Roda dos Alimentos Mediterrânica”, especifica o documento.

No que respeita às bolachas de água e sal, apresentaram "teores superiores de gordura total e de sal". Mas, de forma geral, tanto umas como outras, ou seja, as tipo Maria, "continuam a apresentar teores elevados de gordura saturada".

Mas vamos a números.

O teor de sal determinado foi aproximadamente o dobro nas bolachas de água e sal, comparativamente às bolachas tipo Maria.

A OMS recomenda uma ingestão de sal, para adultos, inferior a 5 g/dia, para prevenção de doenças crónicas, nomeadamente a hipertensão arterial. Uma porção (35 g) das bolachas de água e sal analisadas pode contribuir com 13% da ingestão diária recomendada de sal, enquanto uma porção de bolachas Maria pode contribuir com 5%. O teor de gordura total nas amostras analisadas variou entre 8,7 e 23,0 g/100 g para as bolachas Maria C e para as bolachas de água e sal C, respetivamente. Considerando a dose de referência de ingestão diária de gordura, para um adulto (70 g/dia) e, tendo por base uma dieta padrão de 2000 kcal, uma porção de bolachas (35 g) pode contribuir com 12%", indica o estudo.

Quanto às gorduras trans ou processadas, o seu teor nas amostras de bolachas analisadas "variou entre 24,5 e 82,4 mg/100 g, para as bolachas Maria [da marca] G e bolachas de água e sal [da marca] H, respetivamente".

Isto significa, igualmente, que com valores tão díspares dentro da mesma categoria, incluindo de dois dígitos, é possível à indústria reduzir a quantidade de açúcar, gordura e sal.

Mas o Instituto concluiu, também, que nos últimos anos, e tendo por base esta amostra, as bolachas passaram a ter quantidades superiores de ácidos gordos insaturados "que podem contribuir para a prevenção de doenças crónicas e diminuir o impacto na saúde relacionado com o consumo deste tipo de alimentos". Também as chamadas gorduras "trans" (AGT), que são produzidas industrialmente com o objetivo de melhorarem o sabor, a textura e a ampliarem o prazo de validade dos alimentos, "descresceram em comparação com dados anteriores". 

O estudo “Bolacha Maria ou de água e sal: análise nutricional comparativa” foi publicado na última edição do Boletim Epidemiológico Observações, publicação científica periódica editada pelo Instituto Ricardo Jorge, da autoria de Tânia Gonçalves Albuquerque, Mafalda Alexandra Silva, M. Beatriz P.P. Oliveira e Helena S. Costa.

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