São favelas, mas de ricos - TVI

São favelas, mas de ricos

«Favela dos ricos» do Bom Jesus, Braga

Vivem em bairros de casas de luxo, sem relações de vizinhança e sem participação na vida social

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Um estudo realizado em Braga por técnicos da Universidade do Minho mostra que existem, cada vez mais, «favelas dos ricos», bairros de casas de luxo, sem relações de vizinhança e sem participação na vida social, disse à Lusa um dos responsáveis pela investigação.

«São casas construídas nas encostas de montes, com vista sobre as cidades, mas totalmente voltadas para o interior e para a privacidade», referiu Miguel Bandeira, geógrafo e um dos autores do estudo sobre as «favelas dos ricos».

As favelas dos ricos são vivendas unifamiliares, com uma média de 350 metros quadrados de construção e onde vivem, em média, três pessoas.

O estudo, que ainda não terminou, está a ser elaborado por Miguel Bandeira, geógrafo, Carlos Veiga, sociólogo e Patrícia Veiga, arquitecta, todos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho (UM).

As conclusões preliminares do estudo dizem respeito apenas à encosta do Sameiro e do Bom Jesus, em Braga, mas a equipa pretende alargar a investigação à encosta da Penha, em Guimarães, e à de Santa Luzia, em Viana do Castelo.

Em Braga, Carlos Veiga, não tem dúvidas em afirmar que está em curso um processo de «enfavelamento». «Tendo por exemplo as favelas do Brasil, em Braga, temos encostas cheias de casas de luxo, construídas para dar segurança e privacidade a quem lá vive», referiu o sociólogo.

«São áreas do extinto mundo rural, onde os socalcos usados para a agricultura foram transformados em lotes de construção de vivendas de alta qualidade e onde os caminhos rurais foram alcatroados», explicou Miguel Bandeira.

Em que casas vivem?

Na encosta do Sameiro, das cem famílias contactadas para o estudo (representando outras tantas vivendas) apenas 50 aceitaram colaborar.

«70 por cento das casas foram desenhadas por arquitectos, esteticamente bem conseguidas, mas com muito pouca eficácia energética e sem preocupações ambientais», disse Miguel Bandeira. De acordo com o levantamento efectuado pelos técnicos da UM, apenas 16 por cento das casas utilizam a energia solar.

«A maioria dos terrenos não é recomendada para a construção porque tem declives acentuados, os solos não têm estabilidade e estão construídas em linhas de água», disse o geógrafo do grupo.

As vivendas unifamiliares estão cercadas por jardins com árvores de grandes dimensões ou por grades. «As piscinas e os pátios estão voltadas para o interior das habitações para que a privacidade seja total apesar dos lotes de terreno estarem muito próximos uns dos outros», frisou Miguel Bandeira.

«O isolamento das moradias leva também ao isolamento dos habitantes. Não existem as normais relações de vizinhança e quem vive fora desses condomínios sente alguma repulsa pelos vizinhos que, apesar da proximidade, continuam a ser pessoas estranhas», referiu o sociólogo Carlos Veiga.

Das famílias contactadas, só oito por cento diz participar na vida social da freguesia onde vive. E por «vida social» devem ser entendidos actos simples como «tomar café», «fazer compras» ou «ir ás festas da localidade».

«Há um efeito de casa dos sonhos onde, cada família, constrói a casa com que sempre sonhou sem se preocupar com mais nada», finalizou Miguel Bandeira.
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