Morte "bárbara" de jovem cabo-verdiano gera onda de indignação - TVI

Morte "bárbara" de jovem cabo-verdiano gera onda de indignação

Luís Giovani dos Santos Rodrigues foi violentamente agredido à porta de uma discoteca de Bragança no dia 21 de dezembro. Morreu dez dias depois. A Polícia Judiciária acredita que tudo se deveu a um "motivo fútil"

A morte do estudante cabo-verdiano Luís Giovani dos Santos Rodrigues em resultado das agressões que sofreu junto a um estabelecimento de diversão noturna de Bragança está a gerar uma onda de reações e de indignação. A Polícia Judiciária está a investigar o caso e o Governo português garantiu que "os responsáveis serão identificados e levados à justiça".

Luís Giovani, que estudava no Instituto Politécnico de Bragança, foi agredido à porta de uma discoteca por um grupo de cerca de 15 pessoas no dia 21 de dezembro. 

A PJ já teve acesso às câmaras de vigilância da discoteca e afastou a suspeita de ódio racial. Os inspetores acreditam que os acontecimentos se deveram a um "motivo fútil".

A autópsia do jovem foi inconclusiva, não esclarecendo se a morte foi provocada pelas agressões ou pela queda que sofreu depois quando caminhava no centro da cidade.

Entretanto, o Governo português fez saber que lamenta "a bárbara agressão de que resultou a morte" do estudante e garantiu que "os responsáveis serão identificados e levados à justiça".

Uma reação que surge depois de o PAICV, o maior partido da oposição em Cabo Verde, ter exigido explicações ao Governo português.

Morreu no dia 31 de dezembro e até ao momento ninguém foi preso. Foram 15 agressores, de acordo com testemunhas! Será que alguém pagará por tamanha barbaridade?”, questionou Janira Hopffer Almada, a líder do PAICV, numa nota divulgada este domingo.

O embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Monteiro, informou que também já pediu a clarificação “cabal” das circunstâncias da morte. Em comunicado, no sábado, a Embaixada de Cabo de Verde em Portugal referiu que Eurico Monteiro está a “acompanhar de perto as investigações e os seus desenvolvimentos”, com vista a “clarificar-se de forma cabal as circunstâncias da morte e determinar-se as eventuais responsabilidades”.

O Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, também anunciou que está a acompanhar, através da Embaixada em Lisboa, os contornos da “morte brutal” do estudante.

O jovem era natural da ilha cabo-verdiana do Fogo, tendo o município de Mosteiros publicado uma nota sobre a sua morte, recordando que tinha viajado em outubro para Bragança, “para seguir o curso de Design de Jogos Digitais” no Instituto Politécnico de Bragança.

Giovani era um dos mais promissores artistas de Mosteiros, tendo-se destacado na banda Beatz Boys, um grupo integrado por jovens formados pela paróquia de Nossa Senhora da Ajuda e artistas oriundos do agrupamento De Martins”, lê-se na mesma mensagem da Câmara Municipal de Mosteiros.

 

Giovani e três amigos agredidos por um grupo de 15 pessoas

Ao que a TVI apurou, tudo terá começado com uma discussão no interior do estabelecimento de diversão noturna, quando Giovani estava acompanhado de três amigos. Cá fora, os jovens foram abordados por um grupo de 15 pessoas. Segundo as testemunhas no local, foi ao tentar acabar com a rixa que Giovani foi agredido com um objeto contundente. 

O estudante cabo-verdiano, de 21 anos, ainda caminhou até uma avenida do centro da cidade, mas sentiu-se mal e caiu inconsciente. Quando os bombeiros chegaram ao local, o jovem tinha um grande hematoma na cabeça e foi hospitalizado de urgência.

Giovani acabou por ser transferido em coma para o Hospital de Santo António, no Porto, onde esteve internado dez dias. Não resistiu aos ferimentos graves e morreu no dia 31 de dezembro. 

Um primo da vítima contou ao jornal Contacto que a desavença terá começado por um dos amigos de Luís Giovani ter tocado numa rapariga e o namorado não ter gostado.

Segundo o mesmo, quando o grupo de Giovani saiu do bar era aguardado por vários elementos “com cintos, paus e ferros”, que terão agredido o elemento envolvido na desavença com a rapariga.

O mesmo relato indica que Giovani terá intervindo para parar a contenda e foi atingido com “uma paulada na cabeça”, o que terá feito o grupo dispersar.

 

Caso chegou às autoridades como alcoolizado caído na rua

O caso chegou às autoridades de Bragança como um possível alcoolizado caído na rua sem menção a agressões ou ferimentos, contou fonte dos bombeiros locais.

Só depois de chegar ao local e avaliar a vítima é que a equipa de emergência descobriu um ferimento na cabeça e “verificou que se tratava de um possível traumatismo craniano”, indicou o segundo comandante dos bombeiros de Bragança, Carlos Martins.

De acordo com o responsável, a possibilidade de o ferimento ter resultado de agressão foi levantada já depois de a vítima ter sido conduzida ao hospital de Bragança e transferida para outra unidade hospitalar, no Porto.

Os bombeiros foram acionados pelo CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes), via 112, e a primeira entidade a chegar ao local da ocorrência foi a PSP de Bragança, com quem a Lusa tentou falar, sem sucesso até ao momento.

Os bombeiros desconhecem quem fez a chamada e se o jovem cabo-verdiano estava sozinho quando foi encontrado caído, confirmando apenas que foi a única vítima que avaliaram e transportaram para o hospital.

O alerta chegou aos bombeiros por volta das 04:00 do dia 21 de dezembro como “intoxicação”, a classificação técnica da emergência médica para casos que podem envolver várias situações, nomeadamente substâncias que vão de venenos a estupefacientes ou álcool.

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