Há vários meses que a Polícia Judiciária tem sob investigação a empresa de aviação OMNI e o avião que foi detetado há dias no Brasil com mais de meia tonelada de droga.
A TVI sabe também que a PJ procura pelo menos um elo de ligação à cocaína, já que não acredita que, das 10 pessoas que estavam nesta lista para embarcar, no início de fevereiro, não exista alguém envolvido com o tráfico de estupefacientes.
Em direto de Salvador, onde foi ouvido durante quatro horas pela Polícia Federal, João Loureiro falou em exclusivo à TVI. O português fala em "muita especulação" em torno do caso, afirmando que muito do que tem vindo a público "não aconteceu".
Fui ouvido a meu pedido e o processo está em segredo de justiça", explicou, afirmando que "quando a droga foi apreendida não estava em Salvador, estava em São Paulo".
João Loureiro acrescenta ainda que já tinha decidido não voar no referido avião, algo que já tinha comunicado à operadora do voo e que foi, segundo o próprio, constatado pelas autoridades.
Sobre a razão para a desistência da viagem, João Loureiro menciona "razões das quais não pode falar", mas diz que "não me passava pela cabeça" uma situação como a que se veio a verificar.
Ainda assim, assume que "houve situações que me deixaram de pé atrás", não adiantando mais pormenores, alegando o segredo de justiça que lhe foi pedido.
Fui ouvido por minha vontade, fiquei no Brasil por minha vontade", reiterou.
Segundo disse à Lusa a Polícia Federal, Loureiro foi ouvido, presencialmente, durante quatro horas, período em que "apresentou a sua versão dos factos" e que será "comparada com as demais provas do inquérito".
Foram extraídos arquivos do celular [telemóvel], como mensagens e fotografias, com a autorização do passageiro, e serão analisados para ver se se conferem o que foi declarado", indicaram as autoridades.
É muito reduzida a hipótese de um cartel colocar mais de meia tonelada de droga, com um valor superior a 30 milhões de euros, num avião, sem ter quem a controle à chegada ao destino, neste caso o Aeródromo de Tires, em Cascais.
Por isso, toda a vida destas pessoas está já a ser passada a pente fino, nomeadamente que contactos estabeleceram em São Paulo.
Da lista fazem partes os três tripulantes e sete passageiros: Mansur Heredia, espanhol, João Loureiro, advogado e antigo presidente do Boavista, os empresários ligados ao futebol Bruno Carvalho, Hugo Cajuda, o empresário que trouxe Jorge Jesus de volta ao Benfica Bruno Macedo e o jogador dos encarnados Lucas Veríssimo.
O voo esteve previsto primeiro para dia 2 de fevereiro, depois para dia 4.
À medida que foi sendo adiado, os vários passageiros decidiram ficar em S. Paulo, ou, como fez o atleta do Benfica, viajar em voo comercial, com escala em França.
João Loureiro, ao que a TVI apurou, já tinha viajado para o Brasil neste avião, com o espanhol Mansur Heredia, a 27 de janeiro, de Tires para S. Paulo, numa viagem de negócios.
Durante a estadia em S. Paulo, terá falado com os outros empresários de jogadores que estavam com dificuldades em regressar a Portugal devido às novas diretrizes da pandemia no nosso país, que cancelaram todos os voos comercias de e para o Brasil.
Terá sido aí que, tal como o jogador Lucas Veríssimo, passaram a constar da lista de passageiros. No entanto, não chegaram a embarcar.
João Loureiro confirmou à TVI que esteve para regressar a Cascais no jato privado, mas "já tinha desistido de o fazer bem antes da data prevista".
O antigo presidente do Boavista refere ainda que estava em S. Paulo quando aconteceu a apreensão dos 500 quilos de cocaína. Decidiu ficar ainda no Brasil para cooperar com a justiça e provar que nada tem a ver com o caso. Está a ser ouvido esta sexta-feira.
O jato privado acabou por sair de São Paulo dia 9 de fevereiro, sem passageiros, apenas com tripulação, dois comissários de bordo e uma hospedeira.
O jato teve de fazer escala na Baía e, nessa altura, o comandante detetou falhas mecânicas. Durante a inspeção, os mecânicos encontraram droga dissimulada na aeronave.
De acordo com a empresa OMNI, foi o comandante quem alertou a Polícia Federal. Depois, foram as equipas cinotécnicas a descobrir o resto: 578 quilos de produto estupefaciente. Droga dividida em vários sacos, com logotipos de conhecidas marcas desportivas.
À Agência Lusa, a Polícia Federal brasileira disse que nenhum passageiro ou tripulante da aeronave foi detido ou está impedido de sair do país.
"Foram ouvidos até agora somente a tripulação, os pilotos e aeromoça, e o pessoal do hangar do aeroporto (…) Os factos ainda estão sendo analisados (…) A investigação está em andamento, isso não está sendo informado em detalhes para não comprometer as investigações.”
Em comunicado, a empresa OMNI, a que pertence o Falcon 900, confirmou que os três tripulantes já regressaram a Portugal.
Recorde-se que este não é o primeiro caso de um avião privado com destino a Portugal a ser detetado com droga a bordo.
Em 2004, em Caracas, Venezuela, foram descobertos quase 400 quilos de cocaína num avião, fretado pela Air Luxor à Tinerlines. Tripulantes e passageiros foram detidos. O comandante e a hospedeira do avião foram libertados ainda nesse ano. No ano seguinte, o copiloto foi absolvido.
As três passageiras portuguesas foram condenadas a nove anos de prisão por tráfico de droga e seis cidadãos venezuelanos também foram condenados a penas entre os quatro anos e meio e os nove anos de cadeia.
Empresários reagem
Os agentes desportivos Hugo Cajuda e Bruno Carvalho dos Santos admitiram, em comunicado enviado à Lusa, que consideraram regressar a Portugal neste avião privado, mas frisaram que isso não aconteceu, tal como confirmou a TVI.
"Enquanto intermediários desportivos, deslocámo-nos em avião comercial ao Brasil para assistir à final da Taça Libertadores da América, a 30 de Janeiro. Permanecemos no Brasil depois do jogo, no intuito de acompanhar clientes e desenvolver novas oportunidades de negócio. Com o posterior bloqueio dos voos comerciais, foi-nos oferecida a possibilidade de regressar a Portugal no referido avião particular e com outras pessoas constantes da lista de passageiros, designadamente o jogador do SL Benfica Lucas Veríssimo, mas nunca o chegámos a fazer", explicam.
"Devido a compromissos profissionais que surgiram entretanto, optámos por prolongar a nossa estadia no Brasil, desenvolvendo contactos de intermediação desportiva em nome e por conta dos nossos clientes. Somos, por isso, totalmente alheios à apreensão dos 500 quilos de cocaína a que se referem as notícias em causa e cuja existência, origem ou destino desconhecemos por completo".
No mesmo comunicado, Hugo Cajuda e Bruno Carvalho dos Santos afirmam que não foram contactados pelas autoridades brasileiras quanto ao tema, mas dizem-se "inteiramente disponíveis para colaborar com as entidades competentes em tudo o que se revelar útil e pertinente para afastar qualquer implicação [dos seus nomes] na relatada apreensão dos estupefacientes".