Lisboa: bares do Cais do Sodré vão fechar mais cedo - TVI

Lisboa: bares do Cais do Sodré vão fechar mais cedo

Rixa no Cais do Sodré (Hugo Beleza)

Donos de bares estão preocupados com intenção da Câmara em encerrar os espaços de diversão noturna mais cedo. Discotecas não vão ser abrangidas por novo horário

O dono de dois bares do Cais do Sodré, em Lisboa, criticou esta quarta-feira a intenção de antecipar a hora de fecho dos estabelecimentos de diversão noturna, antevendo que isso vai provocar falências e encerramento de portas.

«[A medida] significa o encerramento de muito estabelecimentos, não só do meu. Serão muitos a encerrar atendendo ao facto de termos 23 bares abertos» na Rua Nova do Carvalho e topo da Rua de São Paulo, disse à agência Lusa António Costa, dono do «Viking» e do «Menage», reagindo à intenção da autarquia de Lisboa de antecipar o horário de fecho dos bares por causa do ruído.

Segundo António Costa, desde que foi conhecida a intenção da câmara de Lisboa de antecipar em uma hora o fecho diário dos bares das zonas do Cais do Sodré, Santos e Bica que os empregados «estão a tremer, sem saber o que fazer à vida».

«É muito ingrato para quem investiu ali dinheiro e para os empregados se isto acontecer. Fazendo uma média de oito pessoas a trabalhar em cada bar, temos 200 pessoas a trabalhar na zona, todas com encargos», explicou.

De acordo com a imprensa desta quarta-feira, os bares do Bairro Alto, do Cais do Sodré, da Bica e de Santos devem passar a encerrar todos à mesma hora e não distribuídos pelas duas, quatro e seis da manhã como atualmente. A diferença de horário, defende a câmara, só deve ocorrer para os que têm autorização para funcionamento prolongado, como avançou hoje o Diário de Notícias citando o vereador da Higiene Urbana na autarquia.

O dono dos bares relembrou ainda que foi a câmara de Lisboa que incentivou o investimento na zona, tornando a Rua Nova do Carvalho numa artéria fechada ao trânsito e pintando a calçada de cor-de-rosa de forma a dinamizar a zona.

O proprietário dos bares, que tem um terceiro estabelecimento em vias de abrir na zona, avançou ter investido «algumas dezenas de milhares de euros», prevendo um retorno em cinco a sete anos. Agora, perante a possibilidade de ser obrigado a antecipar o fecho diário, só pensa no prejuízo que vai ter.

Apesar de reconhecer que a questão do barulho naquelas ruas «há muito que está em discussão», António Costa considerou que o problema não é causado só pelos bares, mas também pelas lojas de conveniência, já que vendem bebidas que podem ser consumidas na rua, o que leva a que, por vezes, os consumidores nem cheguem a entrar nos bares.

«Por vezes até vêm pedir copos emprestados para beberem o que compram», desabafou.

O proprietário defendeu ainda existirem na zona mais comerciantes do que moradores, tendo estes criado na segunda-feira uma petição na qual se queixam, entre outras situações, da presença de «rios de lixo nas ruas, largos e jardins por onde passa a movida noturna, que acordam cobertos de garrafas, milhares de copos de plástico, vómito, urina e toda a espécie de dejetos».

O texto contava, a meio da manhã desta quarta-feira, com 355 assinaturas.

Discotecas não vão ser abrangidas por novo horário

As discotecas do Cais do Sodré, Bica e Santos, em Lisboa, às quais já é permitido ter portas abertas até às 05:00 e 06:00, não vão ser abrangidas pelas restrições horárias aplicadas aos bares, informou o município.

Os estabelecimentos noturnos «com características específicas, com horários até às 05:00 e às 06:00, não estão incluídos na restrição», disse o vereador da Higiene Urbana da Câmara de Lisboa, Duarte Cordeiro, referindo que estes espaços têm «menos impacto no exterior, na questão do ruído».

Duarte Cordeiro falava à Lusa após ter apresentado, no período antes da ordem do dia da reunião de câmara desta quarta-feira de manhã, a proposta ao restante executivo municipal.

Em 2009, restrições semelhantes foram aplicadas aos bares do Bairro Alto.

O objetivo é «harmonizar os horários destas zonas e do Bairro Alto” e também “compatibilizar, por um lado, o ativo que é a diversão noturna [da cidade] e procurar ir ao encontro do receio dos moradores e do descanso», acrescentou o autarca.

«A partir de determinada hora, o que seria desejável era que as pessoas entrassem em estabelecimentos preparados para as receber», disse, referindo-se às discotecas.

Acresce que a restrição não se aplica apenas aos bares, mas também «às lojas de conveniência de algumas ruas sinalizadas» no Cais do Sodré, na Bica e em Santos, explicou Duarte Cordeiro, sem indicar os novos horários de encerramento destes espaços.

Para assegurar o cumprimento destas normas, a autarquia «vai apertar a fiscalização», frisou.

Por seu turno, o responsável admitiu que «os problemas são muitos e não se resolvem apenas com este tipo de harmonização», centrando-se em questões como o ruído, a falta de higiene e a insegurança.

Desta forma, a Câmara de Lisboa vai colocar o despacho em consulta pública, no decorrer desta semana ou no início da próxima, realizando também reuniões com associações de moradores e comerciantes, como já tem vindo a acontecer até aqui, garantiu Duarte Cordeiro.

«A nossa expectativa, sem ter nada fechado, é que seja um assunto que entrará em vigor até ao final do ano», concluiu.

De acordo com Duarte Cordeiro, a autarquia vai ainda garantir que estas zonas «continuam a ser espaços com vida e dinamização», nomeadamente através de concertos e espetáculos.

CDS-PP quer restrição horária dos bares alargada a outras zonas de Lisboa

O vereador do CDS-PP na Câmara de Lisboa considerou que a proposta de restrição de horário dos bares é «positiva», devendo ser alargada a outras zonas da cidade.

«Vejo aquilo como algo positivo, mas há um longo caminho a percorrer», devendo ser alargado a «outros pontos críticos da cidade, onde há jardins, como o Arco do Cego», defendeu João Gonçalves Pereira.

João Gonçalves Pereira afirmou que também no Arco do Cego «há muitas reclamações dos moradores, não só à noite, como também durante o dia, [sendo que] havendo bom tempo, os jovens vão para lá conviver e beber álcool».

O vereador do PSD António Prôa, por seu turno, considerou que a redução dos horários de encerramento «deve abranger também as lojas de conveniência» e ser alvo de «fiscalização», pontos que o vereador da Higiene Urbana, Duarte Cordeiro, assegurou esta quarta-feira à Lusa que iriam ser tidos em conta.

Já o vereador do PCP Carlos Moura referiu que, nomeadamente em Santos, pode «haver um horário mais alargado, porque é uma zona com pouca população».

Porém, em «zonas mais complicadas» como o Cais do Sodré e a Bica, o PCP espera que «vá mitigar este problema para a população», salientou.

O comunista acrescentou, contudo, que é necessário «ter a consciência de que uma coisa é o encerramento dos bares e outra coisa é as pessoas permanecerem na rua. E isso não é possível regulamentar».
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