Praxes: a derrota de Florzinha e outras histórias - TVI

Praxes: a derrota de Florzinha e outras histórias

Os Jardins do Campo Grande foram palco de muitos batinas e caloiros na primeira semana de aulas de milhares de universitários

São 17 horas no Jardim do Campo Grande, em Lisboa, e os capas negras pontuam a paisagem em frente à Alameda da Universidade como corvos alinhados em círculos aqui e ali, esparsos na paisagem. No centro de um destes grupos estão dois caloiros - Diogo Florzinha e Jorge Ponta - que respondem pelas alcunhas da praxe aos desafios acrobáticos que a voz poderosa de Bruno Marques, do 3º ano de Estatística Aplicada, lhes dirige.

É quinta-feira e a semana de praxe está a terminar para a leva de caloiros deste ano lectivo nas universidades portuguesas. Ainda não puseram um pé nas aulas, é preciso fazer-se a integração - palavra que já se habituaram a utilizar para justificar as figuras em que os encontramos.

«Pé esquerdo no verde. No verrrde, não seja batoteiro! Mão direita no amarelo. Mão direita no amarelo!», diz com voz grossa Bruno Marques, o jovem de traje académico. Em cima do tapete do «Twister», os dois caloiros contorcem-se e há um que cai. Foi o Florzinha, que riposta aos risos e gargalhadas dos veteranos, divertidos que estão com o jogo.

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«O Florzinha perdeu porque o seu colega não tem os 90 e tal quilos que ele tem», desabafa de sorriso nos lábios, assim mesmo, na terceira pessoa, como se não se tratasse dele. De saia branca rodada vestida por cima das calças de ganga, o jovem de 18 anos de Vila Nova de Milfontes explica-nos que a vestimenta se deve a uma boca que mandou no dia anterior, quando se insurgiu contra o preço do traje masculino, mais caro do que o feminino.

«Não fui obrigado a vestir a saia, mas eles quiseram castigar-me com a defesa que fiz do traje feminino e agora estou de saias», explicou-nos. E quando lhe perguntámos se ele não estava chateado por ter passado a semana a ser o gozo dos veteranos, o jovem responde de pronto: «Adoro! Divirto-me, dou o máximo. Faz parte conhecermos os mais velhos do curso. Ontem, todos os caloiros comeram à mesa com os dedos mindinhos ligados. Quando um tinha de fazer um movimento, os outros eram obrigados a seguir-lhe o gesto. Isso faz de nós uma equipa». E lá regressa ele para a praxe.

O vencedor do «Twister», que entretanto já deu uma volta de cem metros a correr e a berrar o grito da vitória , vem contente e a suar. Não podia estar mais satisfeito com as vitórias que a vida lhe deu esta semana: «Acho que todo o pessoal anti-praxe devia ver isto e superar-se a si próprio, como aconteceu comigo».



O conselho está dado e seguimos viagem pelo Jardim do Campo Grande. Avistamos à frente um grupo grande. Serão mais de três dezenas de caloiros, alinhados em formatura do género militar, mas em vez de fardas, têm umas orelhas de burro em papel enfiadas na cabeça e um cartaz pendurado ao peito que não conseguimos ler porque não nos deixam. Os veteranos não querem que se fotografe nada e mostram-se incomodados com a presença de jornalistas.

Estão em frente à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que proibiu a praxe dentro das suas instalações. «Não lhe posso dizer o meu nome, nem o meu curso e nem vou falar consigo. É por causa das notícias que os jornalistas fazem que estamos a praxar cá fora», insurge-se o jovem líder. De repente, somos rodeados por vários capas negras nervosos com o que estamos a ver e podemos vir a relatar. Há uma estudante não trajada que salta para a nossa frente para nos fazer passar a mensagem de que o grupo está mesmo incomodado com a presença da equipa de reportagem.

Insistimos, mas acabamos por não afrontar a impaciência que tomou conta dos veteranos e seguimos para o grupo que se avista do outro lado da estrada para novas descobertas.

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