Praxes: «Vocês estão uns javardos» a comer iogurte - TVI

Praxes: «Vocês estão uns javardos» a comer iogurte

Os Jardins do Campo Grande foram palco de muitos batinas e caloiros na primeira semana de aulas de milhares de universitários

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Um avião da Tap atravessa o céu, baixinho e a fila de caloiros desata a cantar o hino de Portugal. Estes têm, pelo menos, a cabeça mais erguida e o espírito mais aberto - são alunos de Jornalismo da Universidade Lusófona. Têm de cantar sempre que passa um avião, e dada a proximidade do Aeroporto de Lisboa, fazem-no muitas vezes. A coreografia inclui mão no peito e tudo, mas a anca também tem de mexer.

Daniela Fernandes foi baptizada com o nome «Mini Milk», como o gelado da Olá, que é pequenino como ela, que ainda por cima é loura, e branquinha como este.

A jovem de Linda-a-Velha está em êxtase com as praxes que lhe têm calhado, apesar de «acordar há uma semana com dores em todos os músculos» por causa dos jogos e exercício físico. Ela pula de entusiasmo o tempo todo e quando o grupo de sete começa a cantar outra música - desta vez o hino do curso... Lá foi ela.

Letra na ponta da língua, refrão em repeat. «De CJ nós somos, jornalistas queremos ser | capas negras nós seremos | para sempre até morrer | allée CJ, allée CJ [...]».

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Do outro lado, um grupo de cerca de 20 veteranos trajados a capa e batina fazem um círculo, encerrando no meio dois caloiros de olhos vendados a captar a atenção de tantos e tão divertidos veteranos. Estão a dar de comer iogurte um ao outro. Eles são a Sandra e o Eduardo. As mãos cheias de iorgurte acertam mais no cabelo e na roupa do que na boca de cada um. Ficam imundos. «Vocês estão uns javardos» - palavras usadas por um dos mais velhos para descrever o resultado desta praxe. Os veteranos mandam bocas que insinuam o lado sexual e/ou brejeiro que a brincadeira pode tomar: «Isso não é para mamar!», «Olh`aí as festinhas!», «Dêem um beijinho, caloiros».

A praxe acabou com o iogurte e com a saída de cena de uma outra caloira que foi pedir licença ao grupo para se ir embora: «Até amanhã excelentíssimos trajados», diz de mansinho. «Há alguém que se vai embora?», questiona o veterano que ainda há pouco se ausentava ao som do «Everybody Goes Surfing in the USA», dos Beach Boys, no seu telemóvel. «Às 11 da manhã na entrada no metro. Se chegares atrasada és passarinho», garante a veterana guardiã dos iogurtes.

O sol começa a pôr-se e, no caminho de regresso, esbarramos com uma situação surpreendente. Dois rapazes trajados a negro, de batina pelos ombros, e um de bata branca, estão nas traseiras do antigo Centro Comercial Caleidoscópio. Junto deles não estão caloiros, mas sim veteranos trajados de joelhos e mãos no chão. Cabeças que nunca se levantam. Foram apanhados por veteranos do seu curso com mais matrículas no currículo - o que é valorizado na hierarquia das praxes.

A situação é explicada com ar grave por um dos batinas. São veteranos que não cumpriram o código e que usaram mal o traje ou praxaram debaixo de grande bebedeira ou sob o efeito de drogas. O silêncio impera e o outro batina, de semblante carregado pelo cigarro que se esfuma lentamente, traz à memória a pose de Humphrey Bogart nos seus filmes - o ar grave.
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