«Eu pensava que Saramago era imortal» - TVI

«Eu pensava que Saramago era imortal»

Foram poucos os populares que receberam o corpo de Saramago. Mas à saída da urna do carro fúnebre, as palmas foram sentidas

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Maria Manuela Garcia lê Saramago desde muito cedo. Está, este sábado, na Câmara de Lisboa, para prestar homenagem ao escritor que sempre a comoveu. Traz, «simbolicamente», uma rosa vermelha, cor de sangue, rodeada de espigas de trigo.

«A história acabou, não haverá nada mais que contar»

Agrafado ao plástico que envolve o ramo, um rude post-it, com um poema retirado do livro «Poemas Possíveis», que segura na outra mão. Ao primeiro pedido, abre o livro e lê o poema:

«Tão pouco damos quando apenas muito

De nós na cama e na mesa pomos

Há que dar sem medida, como o Sol,

Imagem rigorosa do que somos»


«Eu pensava que o Saramago era imortal, no sentido físico», diz, com a voz embargada. «Isto, porque o resto continua entre nós como um Camões», conclui.

Governo decreta dois dias de luto nacional

Manuela, de 56 anos, não conhecia pessoalmente o escritor, mas considera-o «como se fosse família, um avô muito querido». Confessa identificar-se muito com Saramago: «Ele, mais do que eu, dizia aquilo que pensava, doesse a quem doesse. E eu nem sempre consigo fazer isso».

Pouco público à espera de Saramago

Manuela era apenas uma da cerca de uma centena de populares que estavam no largo frente à câmara de Lisboa para receber o corpo do escritor, que, este sábado chegou a Portugal. O corpo chegou às 14h30 em ponto, acompanhado por algumas individualidades, como a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, e o presidente da autarquia, António Costa.

Adeus, querido Nobel (biografia)

Quando a urna foi retirada do carro fúnebre, as palmas fizeram-se ouvir, quebrando o silêncio. O corpo é levado para dentro do edifício, onde já estão familiares, amigos, algumas personalidades da cultura portuguesa e a mulher de Saramago, Pilar del Rio. Pouco depois, chega Jerónimo de Sousa e outros representantes do Partido Comunista, de que Saramago era militante.

«Ele não era um homem querido em Portugal?!»

Eram alguns, poucos, os resistentes que aguardavam desde as 13h00. Durante mais de uma hora e meia, foi mais o aparato de jornalistas do que público a aguardar, frente ao edifício da Câmara. Dois jornalistas andaluzes estranham tão pouca gente e perguntam: «ele não era querido aqui em Portugal?».

Passados uns minutos, dois jovens turistas britânicos abordam-me e perguntam: «o que se passa aqui?». Explico-lhes que morreu um prémio Nobel da Literatura, um dos maiores escritores portugueses. Perguntam-me nomes de alguns livros e, perante a resposta, perguntam-me se era o homem na fotografia afixada na parede do edifício. Digo que sim, respondem que não conhecem e vão embora.

Saramago despediu-se de «forma serena e tranquila»

O corpo de Saramago vai ficar em câmara ardente, no edifício da Câmara de Lisboa. Por enquanto, apenas para a família. As portas já foram abertas ao público e assim permanecerão até às 24h00. O velório volta a ser aberto ao público às 9h00 de domingo. As cerimónias fúnebres estão marcadas para as 12h00.
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