CSI... para animais - TVI

CSI... para animais

  • Redação
  • Helena Fidalgo, da Agência Lusa
  • 18 jan 2009, 14:27
Cão e gato [Arquivo]

Equipa da UTAD é frequentemente procurada pelo Ministério Público para ajudar a desvendar crimes contra animais

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Uma equipa da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) é frequentemente procurada pelo Ministério Público e autoridades para ajudar a desvendar crimes contra animais, num serviço pioneiro de ciência forense veterinária em Portugal.

Há quase duas décadas que na universidade transmontana se realizam necrópsias, o equivalente em animais às autópsias humanas, e se desenvolve investigação veterinária, nomeadamente na área das patologias (doenças).

O serviço está actualmente associado ao curso de Medicina Veterinária, que tem uma cadeira na área forense, e dispõe de laboratório e hospital animal.

A equipa composta por nove elementos realiza, em média por ano, cerca de 500 necrópsias de toda a região Norte, algumas das quais a pedido do Ministério Público, no âmbito de processos-crime pela morte de animais, segundo contou à Lusa a docente e investigadora Maria dos Anjos Pires.

O envenenamento é a principal causa das mortes suspeitas que ali chegam, também através do SPENA, o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambinete da GNR.

Os animais observados são de várias espécies, selvagens e domésticos, mas neste tipo de crime os mais atingidos são os cães.

Culpa morre solteira

Apesar de cumprirem a sua parte na investigação, este trabalho forense é muitas vezes motivo de «frustração» para estes profissionais, porque, apesar de apuradas as causas, «a culpa morre quase sempre solteira».

«Pode-se suspeitar do vizinho, mas, não havendo provas ou flagrante delito, ninguém é responsabilizado», disse.

Na opinião da investigadora, «existe falta de sensibilização e informação», que os médicos veterinários tentam ajudar a ultrapassar indicando às pessoas os mecanismos legais de que dispõem e como desencadear o processo judicial.

Maria dos Anjos considera que existe em Portugal «bastante legislação na área do bem-estar e defesa animal, mas não adianta haver leis sem formar as pessoas».

Veneno junto a caixotes do lixo

Para esta especialista, seria necessário talvez realizar, antes de mais nada, «um estudo psicológico ou psiquiátrico para perceber as razões que levam as pessoas a maltratar os animais, nomeadamente os envenenamentos».

«O mais grave», considerou, é que «muitas vezes o veneno para os animais é colocado junto a caixotes do lixo ou noutros locais públicos, pondo em risco vidas humanas, nomeadamente de crianças».

A época da caça é também sinónimo de aumento dos casos de envenenamentos, segundo disse, com as pessoas a colocarem veneno para proteger as culturas de predadores, que acabam por atingir os cães dos caçadores.

Querem saber a causa da morte

Mas nem todos os casos que chegam a esta equipa constituem crime e a maioria é proveniente de donos dos animais que querem saber a causa da morte.

Foram os casos do papagaio e de duas cabras que tinha estudado antes de falar com a Lusa e que veio a concluir terem morrido por doenças infecciosas.

Além das necrópsias, a equipa trabalha também na patologia veterinária, em que, tal como acontece na medicina humana, são diagnosticados, estudados e encaminhados casos de nódulos, línfomas ou tumores nos animais, entre outras doenças.

Dispõe ainda de um hospital veterinário, que contribuiu para o financiamento do trabalho ali desenvolvido, junto com os valores cobrados pelos diferentes serviços prestados à comunidade e o orçamento da própria universidade.

Maria dos Anjos diz que poderia «ser feito muito mais trabalho» se existissem outros financiamentos, nomeadamente oficiais, como acontece nos Estados Unidos da América, onde foi lançado o primeiro programa de ciência forense veterinária para apoiar a investigação dos crimes contra animais.
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