Aeronave “veio junto à areia, mas nem vinha a balançar, vinha direita” - TVI

Aeronave “veio junto à areia, mas nem vinha a balançar, vinha direita”

  • AR
  • 3 ago 2017, 13:14

Populares que estavam na praia de São João da Caparica, em Almada, descrevem à TVI a trajetória do aparelho, cuja aterragem de emergência provocou a morte a duas pessoas

Uma testemunha da aterragem de emergência de uma aeronave na praia de São João, na Costa de Caparica, em Almada, que resultou na morte de um homem de 56 anos e de uma menina de oito, na quarta-feira, conta que olhou para o céu e viu um avião ligeiro a voar baixo. A trajetória não era a mais correta, já que estava muito perto do areal. Poucos segundos depois, a mulher percebeu que algo de muito errado estava acontecer.

[A aeronave] veio mesmo junto à areia, mas nem vinha a balançar, vinha direita. Entretanto comecei a vê-la baixar cada vez mais, a baixar cada vez mais. As pessoas tudo a gritar, tudo a fugir uns para cada lado e, de repente, vi a avioneta a bater no senhor. Deu-me a sensação que foi com as rodas, não consegui perceber muito bem, mas deu-me a sensação que foi com as rodas. E foi quando, em seguida, vi bater na menina com a asa. Foi quando a asa da avioneta partiu", afirmou à TVI.

Sobre os contornos do acidente, uma outra mulher, que também se encontrava no areal, disse à TVI que lhe pareceu que o avião não aproveitou a dimensão do espaço que tinha para aterrar.

Eu estava a vigiar o meu filho Tomás e o António, amigo dele, porque estavam na água. A avioneta tinha a asa partida e o que é que aconteceu? Ele tinha tido espaço, um grande espaço dentro do areal para ter evitado isso.”

Tomás, o filho, descreve o momento dramático da aterragem de emergência:

“Vi o avião a abanar no ar com as rodas já preparadas para aterrar e só vejo um adulto a tentar fugir, só que levou com a roda da frente, não sei se foi na cara, tal como a criança que passou estava a tentar fugir”.

Na praia de São João, poucos dos muitos que lá estavam se aperceberam da chegada da aeronave. O alerta foi dado pelas 16:50 para a torre do aeródromo de Tires. “Mayday” (emergência), declarou o instrutor, anunciando “falha do motor” e que iria “aterrar na praia”. As testemunhas referem que o aparelho surgiu baixo e silencioso, o que indicia um motor parado.

Não se ouvia barulho de motor, nem de hélice. Em princípio, a asa só parte mesmo quando já cai e não houve possibilidade ou tentativa nenhuma de amarar”, refere à TVI uma mulher.

As testemunhas garantem que os dois tripulantes saíram pelo próprio pé sem qualquer ferimento.

“Meteu-se muita gente de volta da avioneta. Abriram a porta, meteram o piloto com as pernas para fora. O senhor estava em choque: tremia muito, não falava”, conta a mulher referida no início deste texto.

A mesma testemunha conta que os meios de socorro chegaram rapidamente ao local.

A nível de Polícia Marítima, a nível de nadadores-salvadores vieram logo, nem cinco minutos [demoraram], se calhar. A nível de bombeiros, foi tudo tão rápido e o pânico foi tanto… deu-me a ideia que demoraram à volta de 10 minutos”.

Uma outra testemunha, a mãe do Tomás, realça que a “Autoridade Nacional Marítima seguiu de imediato com a criança [a menina de oito anos colhida mortalmente pela aeronave] para ver se conseguiam salvá-la. De imediato levaram a criança, tentaram reanimá-la, mas já não conseguiram”.

A praia estava cheíssima. A Autoridade Nacional Marítima não deixou filmar, trabalhou com excelência, isolou logo o espaço, pediu às pessoas que se desviassem”, acrescenta.

Os dois tripulantes do Cessna 152, que aterraram de emergência na praia cheia de banhistas e, com isso, provocaram a morte de duas pessoas, vão esta quinta-feira ser ouvidos no tribunal de Almada como arguidos. Instrutor e instruendo, que realizavam um voo de treino, arriscam responder por homicídio por negligência.

Os contornos do acidente estão a ser investigados, mas muitos fatores podem justificar a decisão tomada pelo piloto da aeronave. A altitude a que seguia e o conhecimento da técnica de amaragem são dois deles, assim como a idade e a experiência do piloto, explicou na quarta-feirra o ex-diretor do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA) Álvaro Neves.

A Procuradoria-Geral da República já confirmou a instauração de um inquérito para apurar as circunstâncias do acidente e vai decorrer, em simultâneo o processo de averiguação técnica, levado a cabo pelo Gabinete de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos.

 

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